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Hospitais retomam consultas e cirurgias a todo o gás. Alguns estão melhores do que antes da pandemia

Ivendrell / Wikimedia

Hospital de Santa Maria, Lisboa

Após o cancelamento de mais de um milhão de consultas e de 150 mil cirurgias devido à covid-19, os hospitais estão a recuperar toda a atividade e alguns superaram mesmo os níveis anteriores à pandemia.

Em março e abril, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, registou “números máximos de atividade desde o início da pandemia em março de 2020, com destaque para as cirurgias, consultas e hospitais de dia” refere o centro hospitalar em informação fornecida à Lusa.

Em abril deste ano foram realizadas cerca de 2.000 cirurgias programadas, mais 33% face ao mesmo mês de 2019 (1.500), período pré-Covid. “Em termos absolutos, a atividade cirúrgica do CHULN está já ao nível dos melhores períodos dos últimos três anos, registados no final de 2019/início de 2020″, salienta o centro hospitalar.

O “aumento muito significativo de produção” teve reflexo na redução da Lista de Inscritos para Cirurgia, que em abril tinha 8.500 inscritos, menos 15% em relação ao mesmo mês do ano passado e menos 23% em relação a abril de 2019.

Segundo o CHULN, estes dados permitem afirmar que toda a atividade não prioritária, temporariamente suspensa no pico da pandemia, em janeiro e fevereiro de 2021, “será recuperada antes do final do ano”.

O número de doentes em lista de espera para consulta desceu para metade num ano: em abril de 2021, estavam inscritos cerca de 11.700 doentes, quando no mesmo mês de 2020 eram perto de 23 mil.

Nos dois últimos meses, foram realizadas mais de 125 mil consultas externas, sendo que só em março foram mais de 65 mil, um “número recorde” desde o início da pandemia e superior ao período homólogo pré-pandemia em março de 2019 (60 mil).

O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC), que engloba os hospitais Curry Cabral, São José, Santa Marta, Capuchos, D. Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa, também registou um aumento da atividade assistencial.

Entre 1 de janeiro a 9 de maio foram realizadas no CHULC 265.650 consultas, mais 10,5% face ao período homólogo de 2020 (240.387), e 10.680 cirurgias programadas, mais 26,1%.

Segundo a instituição, “não existem constrangimentos significativos ao nível da consulta em nenhuma especialidade” porque houve uma reorganização e readaptação dos espaços e dos horários para responder às exigências das medidas de proteção de doentes e profissionais, mas existem alguns ao nível de alguns meios complementares de diagnóstico associados com os tempos de utilização entre equipamentos.

No Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (hospitais S. Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz), todas as especialidades já retomaram a atividade cirúrgica e de consulta externa, tendo sido realizadas desde 01 de abril 2.292 cirurgias e 58.211 consultas.

Anestesia, Obstetrícia, Ortopedia e Neurocirurgia são as especialidades com maiores constrangimentos neste centro hospitalar.

No Hospital Fernando Fonseca (HFF), conhecido por Amadora-Sintra, “o plano de retoma da atividade cirúrgica teve início a 22 de março – devido ao pico persistente de doentes infetados internados em UCI na segunda quinzena de fevereiro – e está a ser implementado com grande sucesso”.

Entre 22 de março e 21 de abril foram operados 1.395 doentes, num total de 3.458 cirurgias realizadas nos primeiros quatro meses de 2021, sendo que 496 tinham um tempo de espera superior a 12 meses.

Em maio, com a devolução dos enfermeiros e assistentes operacionais que estiveram alocados ao combate à covid-19, o Bloco Operatório passou a funcionar de manhã e à tarde. Para aumentar o número de cirurgias, o HFF realizou ainda um contrato com um hospital privado.

Nos primeiros quatro meses do ano, o HFF realizou 111.217 consultas, mais 7.523 consultas face a igual período de 2020, estando “todas as especialidades empenhadas na recuperação da atividade cirúrgica e de consulta” que ficaram por fazer por “força da pandemia covid-19.

No Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, a atividade programada não-covid foi recuperada de “forma gradual” por todas as especialidades. Devido à pandemia, entre março de 2020 e 15 de março deste ano o hospital teve de desmarcar 14.700 consultas de 32 especialidades e 325 cirurgias não oncológicas.

Contudo, neste período houve especialidades que aumentaram o número de consultas no HGO: Hematologia (19,9%), Dermatologia (18,8%), Psiquiatria (13,3%), Endocrinologia (12,2%), Dor (6.2%), Obstetrícia (5,1%) e Pediatria (12,1%).

Apesar da redução de 12,7% na atividade cirúrgica global, também houve neste período especialidades que aumentaram o número de procedimentos: Angiologia e Cirurgia Vascular (4,4%) e Dermatologia (183,6%).

Os maiores constrangimentos no HGO estão relacionados com acesso das especialidades ao Bloco Operatório, nomeadamente à Unidade Cirurgia de Ambulatório.

“Também no bloco central, não tem sido possível abrir as oito salas existentes, por falta de anestesistas, o que condiciona a resposta das especialidades cirúrgicas à lista de espera”, adianta o HGO, que estabeleceu dois protocolos com privados para realizar 500 cirurgias.

A retoma no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) também se faz sentir. Desde o início do ano e até 10 de maio, foram realizadas mais 44.707 consultas, das quais 18.167 primeiras consultas, e mais 943 cirurgias programadas, comparativamente ao período homólogo de 2020.

“Os constrangimentos existentes não respeitam, concretamente, a uma especialidade, mas sim às limitações físicas existentes pelo cumprimento das distâncias de segurança e circuitos de circulação”, explicou o CHUC.

O Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), que inclui o Hospital de São João, referiu que “a partir do final de abril de 2020 foi retomada a atividade” e que esta “não voltou a ser suspensa na totalidade”.

“Uma das preocupações principais após a primeira vaga foi precisamente a de manter toda a atividade assistencial a doentes não covid-19, equilibrando com a resposta a doentes com covid-19 e apoiando todos os hospitais que necessitavam de ajuda, recebendo mais de 1.000 doentes de outras instituições hospitalares, de Norte a Sul do país”, refere a informação fornecida pelo centro hospitalar.

O CHUSJ acrescenta que a lista de espera para a consulta externa e para a cirurgia, comparativamente a abril de 2020, reduziu-se em cerca de 50%, sendo a mediana de espera inferior a 40 dias para ambas as dimensões.

O Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho indicou, por seu turno, que “apenas 14,1% dos pedidos na lista de espera da consulta, aguardam há mais de seis meses”, enquanto em janeiro de 2020 tinham aproximadamente 39%.

“A atividade cirúrgica segue a mesma tendência. Nos últimos dois meses [março e abril], realizamos em média mais 500 cirurgias por mês, do que em igual período de 2019″, descreveu.

A Oftalmologia e Ortopedia são as especialidades com maior número de pedidos em espera em Gaia, enquanto no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, são a Cirurgia Geral e Ortopedia.

A atividade na Unidade Local de Saúde do Alentejo também foi retomada “na plenitude”, tendo sido realizadas 1.285 cirurgias e 30.000 consultas, sendo a Neurologia a especialidade com maiores constrangimentos, mas já estão a ser feitas diligências para ultrapassar o problema.

Na Unidade Local de Saúde (ULS) do Baixo Alentejo/Hospital de Beja, “a atividade assistencial está a progredir no sentido da realização do máximo de atividade possível, tendo em conta as exigíveis normas de segurança” que levam à diminuição do número de consultas e de cirurgias, uma vez que existe no mesmo espaço pré-covid, uma sala cirúrgica dedicado a doentes covid.

Para minimizar esta situação, o hospital contratou produção adicional fora do horário de trabalho para realizar consultas e cirurgias.

Fonte do hospital indicou que ainda não foram atingidos “os indicadores de acesso pretendidos uma vez que esta retoma só se encontra efetivamente em curso a partir de março, momento a partir do qual se verificou uma redução da necessidade de recursos para o atendimento de doentes covid”.

No entanto, a lista de espera cirúrgica apresenta no fecho do primeiro trimestre uma redução de 2% face ao período homologo e a ULS do Baixo Alentejo espera que a lista de espera para consultas possa atingir um “valor dentro da normalidade no final do 1º semestre de 2021″.

A informação fornecida à Lusa indica ainda que na Unidade Local de Saúde Castelo Branco também foi retomada toda a atividade assistencial, sendo a Oftalmologia a especialidade com maiores dificuldades.

// Lusa

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