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Homens que atiram piropos não têm más intenções, mas mostram mais sexismo hostil

Um novo estudo concluiu que a maioria dos homens que usam piropos não têm a intenção de humilhar ou intimidar as mulheres e que esperam que as mulheres lhes sorriam ou comecem uma conversa.

Os homens são de Marte e as mulheres de Vénus – há muito que é este é o argumento usado para explicar os desentendimentos entre os sexos, mas será que também explica as diferenças quando o tema é o assédio?

Os cientistas já se tinham debruçado sobre qual será a receita para um piropo perfeito, e parece que muitos homens precisam desse empurrãozinho da ciência, depois de um novo estudo mostrar que não têm noção de como os piropos são entendidos pelas mulheres.

A investigação foi publicada em Abril na Psychology & Sexuality e conclui que a percepção dos homens sobre os piropos é que são uma forma de namoriscar e seduzir mulheres, tendo muitos a esperança de que as mulheres mostrem interesse de volta.

Mesmo assim, os homens que usam os piropos tiveram resultados mais altos nos parâmetros do sexismo hostil, na sua própria noção de masculinidade, na orientação para o domínio social e na tolerância ao assédio sexual.

No entanto, para muitas mulheres, o assédio não é bem-vindo e muito menos uma forma de namoriscar, com pesquisas anteriores a apontarem para efeitos negativos na auto-estima das vítimas, que se sentem embaraçadas e com medo, e também consequências físicas, como dificuldades na respiração ou ataques de pânico.

O estudo baseou-se num inquérito online a 258 homens heterossexuais entre 16 e 75 anos, dividido em seis itens que descreviam diferentes tipos de assédio, como comentários sobre a aparência ou olhar de forma maliciosa para alguém, tendo os homens de responder se já tinham practicado algum destes comportamentos no último ano.

Aqueles que afirmaram que sim, tinham depois de responder a outras questões sobre a frequência dos comportamentos, os motivos e as reacções que esperavam das mulheres. Cerca de 33% dos inquiridos já tinha assediado pelo menos uma vez, mas a maioria não tinha a intenção de envergonhar ou intimidar as mulheres.

Razões para os piropos

As razão mais citada foi para mostrar que gostam da mulher (85%), para mostrar que têm interesse sexual na mulher (83%) e porque é uma forma normal de namoriscar (73%). Já apenas 7% disseram que o motivo era castigar as mulheres que tentam tirar poder aos homens através do feminismo enquanto 6% queriam constranger a mulher.

Sobre as reacções que esperavam, 85% tinham a expectativa que as mulheres sorrissem e 81% tinham a esperança que a mulher namoriscasse de volta. Já 78% queriam que ela começasse uma conversa e 73% esperavam que a mulher se sentisse lisonjeada.

Apenas 12% queriam chocar as mulheres e só 9% tinham a intenção de as intimidar. 5% queriam que ela ficasse zangada e outros 5% esperavam que a mulher tivesse medo.

“Estes resultados mostram que enquanto os piropos são deliberadamente motivados por ideologias misóginas em alguns homens, a maioria não tem más intenções ou quer causar resultados psicológicos negativos. Apesar da maioria afirmar que não tem o desejo de humilhar as mulheres, as suas atitudes e comportamentos contradizem as suas intenções”, escrevem as autoras Kari Walton and Cory Pedersen.

As investigadoras notam ainda que os resultados do estudo podem ser enviesados porque alguns inquiridos podem ter considerado que todos os elogios se incluem no assédio, o que pode ter subestimado a distinção entre assediadores e não-assediadores.

Recorde-se que desde 2015 que os piropos foram criminalizados em Portugal, enquadrados no crime de importunação sexual, que tem uma moldura penal que pode ir chegar a um ano de prisão – ou até aos três, caso a vítima tenha menos de 14 anos.

Adriana Peixoto, ZAP //

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