“Há muita contra-informação sobre o que se diz dos russos”, alerta Pinto Ramalho

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Mikhail Palinchak / EPA

Pouco combustível, bombas do tempo da União Soviética, comida cujo prazo expirou em 2015 e walkie-talkies civis usados na frente de combate.

No lado russo, há relatos de contratempos para todos os gostos. Mas, se alguns deles já terão sido comprovados, outros poderão ser “contra-informação”, até porque o assalto a Kiev pode ainda mal ter começado, noticia o Jornal de Notícias.

A Ucrânia está a ganhar a guerra“, afirmou, na terça-feira, o presidente do país, Volodymyr Zelensky.

A frase talvez funcione mais como fator de motivação interna do que como análise rigorosa dos acontecimentos mas, nos últimos dias, a ideia tem sido repetida um pouco por toda a parte.

“A ofensiva do Kremlin sofre graves problemas logísticos enquanto que os ucranianos se fortalecem”, escrevia, esta quarta-feira, o jornal espanhol El Mundo.

A sustentar esta tese estão, em primeiro lugar, as notícias que dão conta das dificuldades sentidas pelos russos em fazer chegar combustível aos seus veículos de combate.

O general Pinto Ramalho admite que esse cenário exista, mas pede cautela nas análises. “O facto de as viaturas estarem paradas não quer dizer que não tenham gasolina”, afirma.

Há muita contra-informação sobre o que se diz dos russos“, justifica o antigo Chefe do Estado-Maior do Exército, afirmando ter visto um canal de televisão norte-americano e um britânico a fazerem relatos contraditórios sobre o assunto.

A suposta demora russa pode, por isso, ser propositada, de modo a evitar uma escalada de destruição em Kiev.

“Não sei se os russos não estarão a evitar avançar de forma indiscriminada”, explica Pinto Ramalho. Nesse sentido, a aposta parece ser criar um “cerco” à capital, de modo a deixá-la “sem luz, água e gás”. Assim, as tropas de Putin conseguiriam tornar a vida em Kiev “insustentável”, mas “sem se exporem”.

Russos estarão a pedir “comida e roupa”

Mas as dificuldades logísticas russas estarão também a sentir-se ao nível da alimentação dos soldados.

A 27 de fevereiro, o presidente da Câmara de Kharkiv, Oleg Synegubov, escreveu nas redes sociais que, “desde o início do ataque à Ucrânia”, os militares russos “não receberam comida ou água”, e que estariam a pedir “comida e roupa” aos locais.

Também a resistência ucraniana tem publicado vídeos de alimentos alegadamente encontrados junto de viaturas russas.

Num deles, alguns produtos têm o ano de 2015 inscrito na embalagem, no local do prazo de validade, indicando que já não estão comestíveis há sete anos.

Já o britânico The Daily Telegraph publicou mensagens de soldados russos alegadamente intercetadas por uma empresa de espionagem do Reino Unido.

O jornal escreve que há tropas “a recusar a obedecer a ordens do comando central, incluindo para bombardear localidades ucranianas, ao mesmo tempo que se queixam amargamente da falta de alimentos e combustível”.

Se alguns relatos poderão ter de ser levados mais a sério, outros são mais facilmente descartados. É o caso dos relatos, também vindos de fontes ucranianas, de que os soldados russos estariam a utilizar walkie-talkies civis.

“Não acredito que os russos estejam a fazer a guerra assim”, atira Pinto Ramalho, pedindo que se tenha “extremo cuidado” com certas informações não confirmadas.

Nos últimos dias, alguns resistentes ucranianos têm publicado, nas redes sociais, imagens de walkie talkies alegadamente intercetados ao inimigo. Estes são da marca chinesa Baofeng, que vende alguns modelos por menos de 30 euros.

“Acha que a Rússia traça um objetivo e não o cumpre?”

Há um último tema que deixa Pinto Ramalho apreensivo: o suposto uso de bombas com mais de 50 anos por parte das Forças Armadas da Rússia, avançado pelo El Mundo. As bombas com demasiada idade — o normal é terem entre 10 e 15 anos — “caem como se fossem pedras mas não rebentam“, explica o general. “É um risco tremendo porque, depois, podem sempre rebentar”.

Mas, assumindo que os russos estão mesmo a viver um impasse na Ucrânia, será que poderá haver derrota à vista? Pinto Ramalho admite que a resistência ucraniana “é maior do que se previa”.

Mas questiona: “acha que, se uma potência como a Rússia estabelece um determinado objetivo, não vai fazer tudo para o cumprir?”.

Para o general, uma eventual derrota russa “seria o descrédito absoluto, até em termos de segurança interna”. Assim, conclui: “Temo que, custe a guerra mais ou menos recursos, a Rússia vá até ao fim dos seus objetivos“.

ZAP //

5 Comments

  1. Digam o que quiserem. Estamos perante um dos exércitos mais poderosos do mundo.
    Agora, também acho que a Russia pensava que entraria como vitoriosa só por se apresentar com o nome Russia…
    Os “pequeninos” ucranianos estão a tornar a tarefa dificil…

  2. Isentos?! Se invadissem Portugal, fosse com que pretexto fosse, de que lado estava?! Do lado dos invasores?! Aqui não há lados os Ucranianos têm o direito de viver como quiserem e aliarem-se a quem quiserem, desde que não agridam outros povos. Ora a Rússia invadiu a Ucrânia e não o contrário, assim sendo só existe um lado, o lado de quem estava na sua vida e levou com aqueles malucos

  3. Talvez fosse oportuno pesquisarem o que foi o Holodonor. Os Ucranianos têm razões de sobra para não confiarem nos russos e quererem vê-los bem longe.

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