Greta Thunberg prefere a energia nuclear (sim, é melhor)

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A ativista sueca Greta Thunberg critiou o plano do governo alemão de desligar as centrais nucleares ainda em funcionamento no país — em comentários que deliciaram os políticos pró-nuclear alemães tanto quanto irritaram os Verdes.

Numa entrevista dada esta quarta-feira a um canal de televisão alemão, Greta Thunberg afirmou que desligar centrais nucleares é uma má ideia — se isso significar mudar para energia a carvão.

Questionada sobre se a opção nuclear era preferível em termos ambientais, a ativista sueca considera que “depende“. Se já estiverem a funcionar, diz, “penso que é um erro fechar as centrais e virarmo-nos para o carvão“.

A Alemanha planeia encerrar as três centrais nucleares que tem ainda em funcionamento até ao fim deste ano.

Mas com o estrangulamento do fornecimento de gás russo, as frequentes falhas na produção de energia das centrais francesas e o inverno à porta, é agora provável que duas destas centrais se mantenham ativas — pelo menos até abril, diz o Politico.

Para fazer face à crise energética desencadeada pela Guerra da Ucrânia, Berlim reativou centrais a carvão que se encontravam encerradas, mas o governo alemão mantém que todo o uso de carvão no país acabará até 2030.

Na Alemanha, um país tradicionalmente anti-nuclear, a ideia de estender a vida de centrais nucleares tem gerado mais controvérsia do que a ideia de reativar centrais a carvão altamente poluentes.

Em janeiro, o governo alemão criticou até a decisão da Comissão Europeia de que investimentos em energia nuclear e gás sejam considerados sustentáveis no processo de transição ecológica.

Assim, os comentários de Greta Thunberg não tardaram a ser aproveitados por políticos pró-nuclear, alguns dos quais membros dos partidos na atual coligação de governo.

As declarações de Thunberg caíram particularmente bem ao ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, do partido liberal FDP, para quem “nesta guerra da energia, tudo o que gere capacidade elétrica tem que estar ligado à rede. As razões falam por si próprias — economica e fisicamente.

A antiga presidente dos Verdes, Simone Peter, considera por seu turno que os comentários da ativista sueca “não fazem qualquer sentido” porque as centrais nucleares “já não são úteis e usam urânio russo“.

“Este é, claro, um debate muito aceso”, considerou Thunberg.

Mas não é sequer um debate recente. Durante as últimas décadas, as necessidades de abastecimento de energia para a Europa colocaram políticos, governantes, ativistas e cientistas numa encruzilhada — com quatro opções óbvias, nenhuma satisfatória.

A opção pelas energias renováveis é pacífica, mas não tem oferta capaz de dar resposta à procura de energia que a economia, indústria e estilo de vida dos europeus gera: satisfaz apenas 18% do consumo energético da UE. O recurso às tradicionais centrais a carvão, por seu turno, coloca conhecidos problemas ambientais.

A opção nuclear é eficiente, rentável e virtualmente capaz de dar dar resposta a todas as necessidades energéticas do planeta.

Porém, apesar das garantias de segurança que as centrais nucleares de gerações mais recentes possam oferecer, o seu uso continua a ser altamente impopular — não só pelo fantasma da Síndrome da China, mas também porque, não gerando diretamente poluição, produzem resíduos cuja gestão coloca problemas ambientais.

Nesta encruzilhada, resta o recurso ao gás natural para satisfazer as necessidades energéticas europeias. A Europa tem reservas de gás natural que poderiam por si só garantir a autosuficiencia do Velho Continente em termos energéticos.

Mas a extração deste gás implica recorrer a fracking, prática altamente controversa e impopular — por levantar também questões ambientais e, aparentemente, por colocar riscos sismológicos. Sim, o fraturamento hidráulico pode causar terramotos e foi por isso proibido no Reino Unido.

Tornou-se assim uma solução cómoda para os europeus, nas últimas décadas, importar gás natural da Rússia — até a torneira ter sido fechada pelo contexto geopolítico e a sua eventual reabertura inviabilizada por misteriosos atos de sabotagem na canalização.

Não surpreende então que a opção nuclear pareça oferecer agora renovados atrativos — até aos olhos insuspeitos de Greta Thunberg.

Nos anos 1970, o ativista canadiano Patrick Moore, antigo presidente da Greenpeace Canadá, tornou-se uma das mais conhecidas personalidades a levantar a sua voz contra a energia nuclear.

Desde a sua saída da organização, em 1986, Moore tem tecido frequentes críticas aos movimentos ambientalistas pelo que considera serem “táticas de desinformação, sem sustentação científica ou lógica, com apelos emocionais e sensacionalistas”.

Moore, que para a Greenpeace é um “porta-voz da indústria nuclear, da madeira e da engenharia genética”, mudou de discurso. Defende agora a energia nuclear como a melhor opção em termos ambientais.

Não significa tal que Greta Thunberg esteja a seguir-lhe os passos.

Armando Batista, ZAP //

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