A empresa portuguesa Neuraspace nasceu em plena pandemia, em 2020, e está a dar cartas no espaço, na “corrida” para organizar o trânsito de satélites. Com tecnologia de Inteligência Artificial (IA), é uma espécie de GPS para evitar acidentes com o “lixo espacial”.
Há milhões de objectos à deriva no espaço que são um problema para os satélites, pois, por mais pequenos que sejam, podem causar danos irreparáveis, com os consequentes custos que isso implica. Vários desses satélites são essenciais para os serviços de Internet e telecomunicações, entre outros.
Deste modo, a Neuraspace usa tecnologias de Inteligência Artificial (IA) para organizar o trânsito de satélites, com o objetivo de evitar o choque com o “lixo espacial”.
“Estamos a falar de pedaços abandonados de foguetões ou satélites, que estão no espaço e tem uma particularidade muito específica: não estão parados” e podem viajar “a 25 mil quilómetros por hora”, como explica à Rádio Renascença (RR) o director de desenvolvimento de negócios da Neuraspace, Carlos Cerqueira.
Assim, podem ocorrer “grandes acidentes provocados por pequenas peças”, pois “não é preciso ser uma peça enorme para destruir um satélite”, como analisa Carlos Cerqueira. “Uma peça de um centímetro pode destruir qualquer satélite” e “há mais de um milhão de peças dessas à solta no espaço”, nota.
É no meio deste “drama” que a Neuraspace actua, alertando os operadores de satélites para onde estão estas peças. Funciona, deste modo, como uma espécie de GPS espacial.
Um mapa do espaço
“O operador de satélite, em princípio, sabe onde está o seu satélite. O que nós temos que fazer é avisar onde estão os restantes objectos, sejam eles pedaços de lixo ou satélites activos”, refere Carlos Cerqueira à RR, notando que é preciso “avisá-los da sua localização e prever o que é que vai acontecer”, dando essa informação “da forma mais precisa possível”.
“É aí que entra a nossa vantagem competitiva com recurso à IA e ao “machine learning””, continua o responsável da Neuraspace.
O processo funciona com um “mapa do espaço”, ou um “catálogo com a posição conhecida dos objectos”, explica ainda.
Já há várias empresas a actuarem neste sector, mas Carlos Cerqueira acredita que a Neuraspace é “uma das mais inovadora de todas, se não a mais inovadora“, devido ao “uso único” que faz da IA.
Abrir escritório em Pampilhosa da Serra
A empresa tem financiamento privado, mas também tem recebido apoios públicos através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Em Abril de 2022, o PRR aprovou um financiamento de cerca de 25 milhões de euros para “um projecto em consórcio com universidades portuguesas: o Técnico, a Universidade de Coimbra, Universidade Nova”, entre outras entidades, que vai permitir à Neuraspace “adquirir infraestruturas para ter acesso a melhor informação, a melhores dados”, e também ter acesso a conhecimento académico “mais atualizado”, revela Carlos Cerqueira.
Os planos da empresa passam, agora, por abrir um espaço na Pampilhosa da Serra, já depois de uma parceria com a Câmara Municipal local deste município do distrito de Coimbra. Além de Coimbra, a Neuraspace também tem escritório em Lisboa.