Governo de Macron sobrevive a moção de censura apresentada pela esquerda

Já se esperava que a moção de censura da coligação NUPES fosse chumbada. O objectivo da esquerda é afirmar-se como a principal força de oposição ao Governo de Macron.

Como já era de esperar, a moção de censura apresentada contra o novo Governo francês pela coligação de esquerda Nova União Popular Ecológica e Social (NUPES) não foi aprovada.

A iniciativa não teve o apoio dos Republicanos (centro-direita) nem da União Nacional (extrema-direita), o que a condenou ao fracasso, tendo conseguido apenas 146 votos quando eram precisos 289 para que o Governo caísse.

Mathilde Panot, deputada do França Insubmissa (partido que lidera a NUPES), acusou os partidos de direita de serem cúmplices do novo Governo liderado pela primeira-ministra Élisabeth Borne, nomeada por Macron.

“Os que não votarem esta moção serão cúmplices da sua inacção climática”, acusou Panot, que referiu também o recente escândalo com os Uber Files, uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas às prácticas da empresa de TVDE que revelou que Emmanuel Macron beneficiou a empresa e fez acordos secretos enquanto era Ministro da Economia.

O deputado Alexis Corbière também questionou o passado de Macron com a Uber. “É muito sério saber que com este pacto secreto Macron desregulou a indústria dos taxis. Que lições é que temos de retirar?”, atirou.

Já Élisabeth Borne criticou o França Insubmissa, acusando o partido de perder tempo com uma moção destinada ao fracasso. “Senhora e senhores, hoje podíamos estar a trabalhar para o bem do povo francês. Em vez disso estamos a debater uma moção de censura que é baseada nas minhas alegadas intenções e que bloqueia o trabalho parlamentar”, afirmou.

À AFP, a especialista Ariane Bogain explicou que o chumbo da moção era de esperar, mas que isso já fazia parte da estratégia da NUPES. “Este foi um voto táctico. É a NUPES a querer a apresentar-se como a verdadeira oposição a Macron, vão poder dizer que todos os outros partidos da oposição são cúmplices de Macron, vão dizer que Macron é apoiado pela extrema-direita”, refere.

Bogain antecipa que este tipo de oposição não se fique por aqui, esperando que a esquerda peça mais “inquéritos, comissões de investigação” e “tudo o que possa desafiar Macron e a atrasar a sua maioria”.

Recorde-se que nas eleições legislativas, o partido de Emmanuel Macron perdeu a maioria absoluta, sendo o Presidente francês assim o primeiro nos últimos 20 anos a não conseguir segurar o controlo da Assembleia Nacional.

Para conseguir segurar o Governo, Borne tem agora de negociar com outros partidos para a aprovação de leis, sendo os Republicanos, que também são de centro-direita, os aliados mais óbvios.

O apoio de 62 Republicanos chega para assegurar a maioria para o partido de Macron e o Presidente tem feito remodelações no elenco governativo onde está a dar mais poder a membros deste partido na esperança de conseguir um acordo.

Borne decidiu quebrar a tradição parlamentar na França, já que desde 1993 que os primeiros-ministros convocam uma moção de confiança no início do mandato, algo que a nova líder do Governo não fez.

Na primeira intervenção na Assembleia Nacional, Borne afirmou que quer “construir a França” e garantiu que “uma maioria relativa não é nem será um sinónimo de uma acção relativa” e que “não é sem será um sinal impotência”.

Adriana Peixoto, ZAP //

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