Conservadores têm criticado a cobertura da estação pública de televisão e de rádio, pelo que o anúncio está a ser interpretado como uma espécie de vingança e uma tentativa de limpar a imagem do primeiro-ministro.
É um dos modelos de financiamento de estações públicas de televisão mais antigos, mas pode ter os dias contados. O Governo britânico tenciona congelar a taxa usada para financiar a BBC nos próximos dois anos e eliminá-la completamente em 2027. Depois desta data, um novo modelo, cujos contornos ainda não se conhecem, mas que deverá passar por uma subscrição, à semelhança das usadas pela Netflix ou HBO. O anúncio foi feito no Twitter por Nadine Dorris, ministra responsável pela pasta, que esclareceu que esta seria a “última” comunicação sobre o tema.
“Acabaram-se os dias em que os idosos eram ameaçados com prisão e os inspetores batiam às portas. Agora é altura de debater novas formas de financiar, apoiar e vender os grandes conteúdos britânicos”, escreveu a responsável. Segundo o Sunday Mail, perante esta medida e tendo em consideração o calendário anunciado, a BBC terá de poupar mais de 2000 milhões de libras (2.400 milhões de euros) durante esse período para conseguir continuar com as suas operações.
O financiamento da BBC é há muito um tema polémico no Reino Unido, com muitos a colocarem em causa a imparcialidade da cobertura noticiosa das estações de televisão e rádio da rede — nomeadamente sobre os escândalos recentes em Downing Street. Como tal, o anúncio do Governo de Boris está também a ser visto como uma manobra para tentar recuperar a popularidade do político, depois precisamente dos sucessivos escândalos que o envolvem, nomeadamente as festas semanais que se realizaram na sua residência oficial, Downing Street, numa altura em que o país enfrentava restrições motivadas pela pandemia da covid-19.
Ao longo dos últimos dias, viralizaram nas redes sociais testemunhos de pessoas cujos familiares faleceram durante o mesmo período e que em virtude das medidas em vigor não puderem estar presentes nas cerimónias fúnebres dos seus entes queridos ou até acompanhá-los nos seus últimos dias. A imprensa britânica destaca também o caso da própria rainha Isabel II, que assistiu praticamente sozinha ao funeral do seu marido, o príncipe Filipe durante esta fase da pandemia.
Boris Johnson enfrenta por estes dias, e à luz das últimas revelações, pedidos de demissão que chegam de vários quadrantes. Sobre a medida relativa ao fim do financiamento da BBC, Ian Murray, porta-voz do partido Trabalhista da Escócia, descreveu-a como “uma última tentativa de [Boris Johnson] salvar o seu fracassado mandato como primeiro-ministro”. Paralelamente, uma fonte do Governo do Johnson disse ao The Guardian que o anúncio da medida não estava previsto para este fim-de-semana.