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Glaciar do juízo final da Antártida “está preso por um fio”

David Vaughan / ITGC

Uma das frentes do Thwaites, o "glaciar do juizo final".

Uma das frentes do Thwaites, o “glaciar do juízo final”.

O “glaciar do juízo final” pode recuar rapidamente nos próximos anos, aumentando as preocupações sobre a subida do nível do mar.

O chamado glaciar Doomsday ganhou este nome devido ao elevado risco de colapso e ameaça ao nível do mar. Os cientistas estão preocupados com a subida do nível do mar que acompanharia o potencial desaparecimento do glaciar.

O glaciar Thwaites, que é capaz de elevar o nível do mar em alguns metros, está a erodir ao longo da sua base submersa, à medida que a temperatura do planeta aquece, segundo a CNN Portugal.

Num estudo publicado a 5 de setembro na revista Nature Geoscience, os investigadores mapearam o recuo histórico do glaciar, com o objetivo de aprenderem o seu historial, para analisarem o que acontecerá no futuro.

A equipa de investigação descobriu que, nos últimos dois séculos, a base do glaciar soltou-se do fundo do mar e recuou a um ritmo de 2,1 quilómetros por ano — o dobro da taxa observada pelos cientistas na última década.

Esta rápida desintegração pode ter ocorrido “até meados do Séc. XX”, de acordo com Alastair Graham, autor principal do estudo e geofísico marinho da Universidade do Sul da Florida. O Thwaites terá assim a capacidade de sofrer um rápido recuo num futuro próximo, depois de diminuir além de uma cordilheira no fundo do mar.

“O Thwaites está realmente preso por um fio e devemos esperar grandes mudanças, ao longo de curtos espaços de tempo no futuro — mesmo de um ano para o outro — quando o glaciar recuar para trás de uma cordilheira rasa no leito marinho”, nota Robert Larter, geofísico marinho e co-autor do estudo.

O glaciar Thwaites é um dos mais maiores do mundo, mas é apenas uma fração do manto de gelo da Antártida Ocidental, que contém gelo suficiente para fazer subir o nível do mar até 5 metros, de acordo com a NASA.

No contexto atual da crise climática, o “glaciar do juízo final” tem sido vigiado de perto devido à aceleração do degelo e capacidade de destruição costeira.

Em 1973, os investigadores questionavam-se se o glaciar estaria em risco elevado de colapso. Quase uma década depois, descobriram que as correntes oceânicas quentes podem derreter o glaciar por baixo, perdendo estabilidade a partir do fundo.

Esta pesquisa levou a que os investigadores chamassem à região em redor do Thwaites “o ponto fraco do manto de gelo da Antártida Ocidental“.

Em 2021, um estudo mostrou que a plataforma de gelo do Thwaites, que ajuda a estabilizar o glaciar e a impedir que o gelo flua livremente para o oceano, pode desfazer-se no espaço de cinco anos.

“A partir dos dados de satélite, vemos grandes fraturas a espalharem-se pela superfície da plataforma de gelo, enfraquecendo essencialmente a estrutura. Um pouco como quando rachamos o para-brisas”, sublinhou Peter Davis, oceanógrafo do British Antarctic Survey, em 2021.

“Espalha-se lentamente pela plataforma de gelo e, eventualmente, acabará por fraturar em vários pedaços”, acrescentou o especialista, na altura.

Relativamente ao estudo mais recente, publicado esta segunda-feira, “foi realmente uma missão única na vida”, salienta Graham.

A equipa espera regressar em breve para recolher amostras do fundo do mar, de forma a determinar quando é que ocorreram os recuos rápidos anteriores.

Os cientistas conseguirão assim prever as mudanças futuras do “glaciar do juízo final”, que os investigadores pensavam anteriormente ser algo demorado —  algo que Graham garante que este novo estudo desmente.

ZAP //

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