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Ginastas alemãs usam fato integral para combater sexualização da modalidade

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Martin Bureau / AFP)

A ginasta alemã Sarah Voss

Ao contrário do que acontece com os ginastas masculinos, que podem optar por calções ou calças, as mulheres competem, desde o início da modalidade, de bodies que expõem grande parte do seu corpo.

Quando, no último domingo, Kim Bui, Sarah Voss, Pauline Schäfer e Elisabeth Seitz entraram na Ariake Gymnastics Centre, em Tóquio, estavam já a fazer história na modalidade, mesmo antes da competição começar.

As quatro atletas, que não conseguiram apurar a Alemanha para a final de equipas, tornaram-se as primeiras a competir com um fato integral, de corpo inteiro, num evento internacional e oficial de ginástica artística.

O gesto é visto como uma tomada de posição contra o que entendem ser uma sexualização da modalidade no que respeita à sua vertente feminina, já que desde os primórdios da ginástica artística as atletas têm como equipamento oficial de competição bodies (i.e. maiôs) que expõem grande parte do seu corpo.

Pelo contrário, os atletas masculinos dispõem de duas opções de vestuário para competição, calções ou calças, podendo variar consoante os eventos.

Segundo Elisabeth Seitz, a mais experiente e medalhada das quatro atletas germânicas, a decisão sobre o equipamento a usar foi tomada em conjunto, entre atletas e equipa técnica, priorizando o bem-estar das primeiras. “Nós quisemos mostrar que todas as mulheres, qualquer pessoa, deveria poder decidir o que vestir“, disse Seitz de um treino realizado na sexta-feira.

Já Sarah Voss, na mesma ocasião, reforçou a mensagem de que a decisão não tinha sido feita de forma unilateral. “Nós, raparigas, tivemos uma grande influência nisto”, afirmou a ginasta de 21 anos, acrescentando que “os treinadores também apoiaram” a decisão. “Disseram que querem que nos sintamos o mais confiantes e confortáveis possível em qualquer situação.”

Tal como relembra o The Washigton Post, as olimpíadas de Tóquio são as primeiras depois do escândalo que envolveu Larry Nassar, médico da seleção olímpica dos EUA de ginástica, que está atualmente a cumprir prisão perpétua.

Nassar foi condenado após ter sido provado que abusou sexualmente de centenas de ginastas ao longo de décadas, muitas vezes em sede de Jogos Olímpicos, o que tornou ainda mais evidente a vulnerabilidade das ginastas, muitas vezes adolescentes, na modalidade.

Em 2016, a transmissão televisiva das provas da ginástica artística feminina, nas olimpíadas do Rio de Janeiro, foi alvo de críticas devido aos planos escolhidos pelos realizadores, já que, muitos casos, se focavam no corpo das atletas e não no exercício que estava a ser executado.

Os fatos integrais, assim como a atitude do conjunto alemão, abrem caminho à participação de atletas cuja religião ou cultura também pressupõe o uso de determinado equipamento.

ARM, ZAP //

2 Comments

  1. Bravo, muito bem – já era tempo.
    O q/interessa é a performance, técnica e o trabalho das atletas.
    Fui ginasta e patinadora e sim, por vezes os olhares que em nós recaíam eram difíceis de suportar…

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