Graças a uma “tempestade perfeita” na vida, com desemprego à mistura, António Cuco passou de simples apreciador de gin para “alquimista de sabores”, há poucos meses, criando uma marca dessa bebida, lentamente destilada no Alentejo.
Trata-se do Sharish Gin, um gin “feito no Alentejo”, em Reguengos de Monsaraz, mas de “caráter português”, incorporando na receita maçã Bravo de Esmolfe oriunda de Sernancelhe (Viseu), explica o produtor, António Cuco.
E o lema da marca assenta num jogo de palavras que cruza a forma “100% artesanal” com que António fabrica a bebida com a reputação dos alentejanos, que considera ser injusta, como ‘filho da terra’.
“Se fosse feito em Lisboa ou no Porto continuaria a ser lentamente destilado”, diz, entre risos, realçando que o processo demora várias horas e que, na produção, só a máquina de engarrafar “é semi-automática”.
Lançado no mercado no final de abril, o “Sharish Gin” está a exceder todas as expetativas do empreendedor, já contactado para começar a exportar para Espanha, Suíça, Brasil e Angola.
“Começámos a produzir à volta de 150 garrafas por semana“, mas, após cerca de dois meses de comercialização, “estamos com 500 garrafas por semana”, o que faz com que os planos de vendas iniciais estejam “completamente ultrapassados”, congratulou-se.
A empresa vai “duplicar a produção até final do verão” e prevê atingir o objetivo de vendas traçado para o ano inaugural “nos primeiros três ou quatro meses”, afirma.
Até final de 2014, ou seja, “um ano e meio antes do previsto”, António quer expandir as áreas de armazenamento e fabrico e contratar mais funcionários, para o ajudarem a ele e à mulher.
Tempestade perfeita
Antes desta ‘aventura, o empresário apreciava gin, mas só no copo, como consumidor. Há uns meses, recorda, uma “tempestade perfeita” levou à sua mudança de vida.
Após uma brincadeira com amigos, com uma tentativa para criar gin, mas que saiu gorada – “Eles gozaram” e disseram “isto mais parece uma açorda de peixe do rio”, recorda -, António não desarmou. De forma autodidata, aprendeu as bases da produção da bebida e voltou ‘à carga’.
Para recuperar cheiros e sabores da infância, foi buscar a maçã Bravo de Esmolfe, que comia na feira em Borba, com a bisavó, e a lúcia-lima, com que a avó de S. Manços fazia chá, juntando-as a botânicos, citrinos e outros ingredientes para chegar à formula final do seu gin.
Aí, os amigos deram-lhe o ‘selo de aprovação’ e contribuíram para o ‘germinar’ da ideia de que este sucesso caseiro poderia ser algo mais, até porque António, antigo professor de Turismo, estava desempregado.
“Sempre fui empreendedor, achei que havia aqui uma possibilidade de negócio e juntei tudo com uma tempestade perfeita na minha vida”, pelo facto “de ter ficado sem trabalho”, conta.
Recebeu o aval de especialistas, que gostaram das amostras que lhes levou, e criou a empresa com o apoio do Instituto do Emprego e Formação Profissional, colocando no mercado aquela que “é a quarta marca de gin nacional” e a segunda com origem no Alentejo (a outra chama-se “Templus”).
Convicto de que, em Portugal, o consumo desta bebida “não é moda, é um culto” com apreciadores fiéis, António quer continuar a dedicar-se à ‘alquimia de sabores’ que, uma vez destilada, se transforma em gin e já tem novos produtos na ‘calha’.
Um novo gin com pera-rocha do Oeste, numa edição especial a lançar em “outubro ou novembro”, e uma gama de cinco vodkas, uma neutra e as outras aromatizadas (maçã Bravo de Esmolfe, pera-rocha, limão e tangerina), vão ser as novas criações.
/Lusa