/

Gasóleo vendido em Portugal está a matar o elefante pigmeu. A culpa é do óleo de palma

9

Marcelo Camargo / ABr

O uso de óleo de palma na produção do gasóleo vendido em Portugal cresceu consideravelmente no último ano, de acordo com a associação ambientalista Zero que alerta que os portugueses estão, assim, a contribuir para a extinção de espécies como o elefante pigmeu quando abastecem o carro.

De acordo com dados da Zero, Portugal aumentou em cinco vezes o uso de óleo de palma na produção de gasóleo em apenas um ano.

Em 2017, utilizaram-se 7,6 milhões de litros de óleo de palma, enquanto que em 2018, foram usados 38 milhões de litros, segundo dados do Laboratório Nacional de Energia e Geologia citados pela Zero.

A Zero frisa que a principal culpada por esta realidade é a Galp que estará a recorrer mais ao uso de uma matéria-prima que está a contribuir para a destruição das florestas tropicais e que ameaça várias espécies de extinção.

“A maior parte desse óleo de palma é utilizada na refinaria da Galp em Sines, na produção de um tipo de biodiesel (HVO – Hidrogenated Vegetable Oil) que é utilizado para incorporar no gasóleo rodoviário, de forma a cumprir as metas de redução de emissões de CO2 previstas na Directiva das Energias Renováveis”, aponta a Zero.

A escolha da Galp por óleo de palma em detrimento dos óleos de colza ou de soja é por ser “mais barato”, ainda segundo a associação. “O processo de fabricação de HVO tem custos mais reduzidos recorrendo ao uso de óleo de palma do que ao óleo de colza ou soja”, frisa a Zero.

O ambientalista da Zero Francisco Ferreira alerta, em declarações à TSF, que quando abastecemos o carro estamos a contribuir para “matar” espécies ameaçadas e para a desflorestação em países como Indonésia e Malásia, de onde Portugal importa 87% do óleo de palma consumido.

“Nós não temos, às vezes, consciência, mas ao estarmos a por gasóleo com óleo de calma no nosso depósito estamos a contribuir para esta destruição”, sustenta Francisco Ferreira.

Espécies como orangotango e elefante pigmeu ameaçadas

Vastas áreas florestais no Sudeste Asiático, na América Latina e em África são desmatadas e queimadas para abrir caminho para as plantações de dendezeiro, a árvore que dá o fruto de onde se retira o óleo de palma. Isto leva não só à destruição da flora tropical, mas também motiva a libertação de quantidades elevadas de gases com efeito-estufa que promovem o aquecimento global.

Os habitats de espécies como o orangotango, o elefante pigmeu e o tigre de Sumatra são ameaçadas, colocando estes animais em risco de extinção.

Por outro lado, o gasóleo produzido com óleo de palma é muito mais nocivo para o ambiente.

Esta realidade levou a União Europeia (UE) a considerar o uso de óleo de palma como “insustentável” para o ambiente, determinando a sua eliminação até 2030.

Todavia, “a expansão do uso de óleo de palma para produção de biodiesel na Europa continua inabalável”, constata a Zero, frisando que “quase dois terços do óleo de palma consumido na UE é queimado como combustível”.

Oferta de gasóleo sem óleo de palma é “muito limitada”

Para quem quiser abastecer o carro, em Portugal, com gasóleo sem óleo de palma não há muitas opções, com a Zero a notar que “a oferta é muito limitada”.

A associação lembra que “a maior parte do gasóleo presente nos postos de abastecimento, independentemente da marca, é fornecido pelas refinarias da Galp”. Assim, “é inevitável que os consumidores que tenham veículos a gasóleo” sejam “coniventes com o uso insustentável de óleo de palma como biocombustível”, conclui.

Todavia, a Zero nota que há postos de abastecimento, “inclusive da Galp, onde o gasóleo presente não tem óleo de palma”, não sendo provenientes da refinaria de Sines, o que está assinalado no posto de venda.

A Zero apela ao Governo e aos partidos políticos para se comprometerem com a definição de “um calendário apropriado” para acabar com o uso de óleo de palma na produção de biocombustíveis “até ao final de 2020”.

A associação desafia ainda a Galp a assumir “um papel pioneiro e ambientalmente responsável” para substituir o óleo de palma por “outra matéria-prima ambientalmente mais sustentável”.

SV, ZAP //

9 Comments

  1. substituição de sacos plasticos por sacos de papel esta a matar a floresta Portuguesa, compra de veiculos eletricos esta a criar grandes crateras para a industria do litio destruindo habitats importantes … mais alguma coisa?

  2. Tudo tem vantagens e inconvenientes. Todos gostam de ter lucros e todos gostam de ter o seu carrinho. Também o seu télélé topo de gama sem se importarem com a forma como os metais usados são extraídos. Importam-se pouco (NADA) com a escravatura que existe nessas minas. O uso do papel em detrimento do plástico prejudica as florestas.

  3. Típica notícia de propaganda. A quem dá jeito esta notícia? Como não estão a conseguir mudar mentalidades, já que, fora dos grandes centros urbanos, e nas deslocações mais longas o diesel continua a ser a opção mais racional, a estratégia passou a ser: a) daqui a 4 anos os vossos carros não valem nada; b) vamos subir o IUC e o ISV; c) vamos agravar o ISP; d) vamos proibir-vos de entrar nas cidades; e) estão a matar uns animais muito queridos; f) estão a matar as criancinhas.
    Entretanto, como agora a política é a diabolização dos diesel (e do motor de combustão em geral), nada de noticiar algo que possa colocar em causa a narrativa dominante. Portanto, o motor SkyActivX da Mazda que promete aliar um desempenho gasolina com a poupança do diesel, esconde-se para baixo da carpete; o motor do Mercedes C220d que emitiu ar tão limpo como um eléctrico (verificado por entidade “verde” e independente), esconde-se; falar em GPL ou hidrogénio parece ser pecado.
    Enfim, estamos a assistir à vitória de um lobby sobre outro: adeus petrolíferas, olá eléctricas…

  4. Que título espalhafatoso, e ainda há quem leve estas notícias à letra e acredite em tudo.
    É verdade, a adição de biodíesel veio encarecer o gasóleo, mas daí até matar o elefante pigmeu vai uma grande distância.
    O que acaba com o elefante pigmeu, e não só, é a ganância dos lucros abismais e imediatos, mas não conseguimos acabar com essa raça, está bem implementada, gananciosos sem olhar a meios para atingir os fins vai haver sempre.

  5. Tenho conhecimento de que em França o assunto está também na ordem do dia e que existem organizações das quais recebo informação a baterem-se pela mesma causa, difícil é saber se toda esta mobilização humana será suficiente para inverter a situação.

  6. O desenvolvimento da cultura de cogumelos está a contribuir para a infertilidade do escravelho, o que, a prazo, determinará a sua extinção.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.