Galáxias em fusão quebram o silêncio de rádio

L. Calçada /ESO / Hubble / ESA

Os jatos velozes oriundos de buracos negros supermassivos são fluxos de plasma que resultam da extração de energia da rotação de um buraco negro supermassivo à medida que consome o disco rodopiante de matéria que o rodeia

Os jatos velozes oriundos de buracos negros supermassivos são fluxos de plasma que resultam da extração de energia da rotação de um buraco negro supermassivo à medida que consome o disco rodopiante de matéria que o rodeia

Uma equipa de cientistas encontrou uma relação inequívoca entre a presença de buracos negros supermassivos que alimentam jatos velozes que emitem sinais de rádio e a história da fusão das suas galáxias hospedeiras.

Na mais extensa pesquisa do seu tipo já realizada, descobriu-se que quase todas as galáxias que contêm estes jatos estão ou a fundir-se com outra galáxia, ou fizeram-no recentemente. Os resultados dão peso significativo ao caso dos jatos como o produto de buracos negros em fusão e serão publicados na revista The Astrophysical Journal.

Uma equipa de astrónomos usou o instrumento Wide Field Camera 3 (WFC3) a bordo do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA para realizar um grande levantamento sobre a relação entre as galáxias que sofreram fusões e a atividade dos buracos negros supermassivos nos seus núcleos.

A equipa estudou uma grande variedade de galáxias com centros extremamente luminosos – conhecidos como núcleos galácticos ativos (NGAs) – que se pensa serem o resultado de grandes quantidades de matéria aquecida que circula em redor e é consumida por um buraco negro supermassivo.

Embora se pense que a maioria das galáxias albergue um buraco negro supermassivo, apenas uma pequena percentagem são assim tão luminosos e ainda menos dão um passo em frente e formam o que é conhecido como jatos relativistas. Os dois jatos de plasma altamente velozes movem-se quase à velocidade da luz e fluem para fora em sentidos opostos e perpendicularmente ao disco de matéria que rodeia o buraco negro, estendendo-se milhares de anos-luz para o espaço. O material quente dentro dos jatos é também a origem das ondas de rádio.

São estes jatos que Marco Chiaberge, do STScI (igualmente da Universidade Johns Hopkins, EUA e do INAF-IRA, Itália), e a sua equipa esperavam confirmar como o resultado de fusões galácticas.

A equipa examinou cinco categorias de galáxias em busca de sinais visíveis de fusões recentes ou em curso – dois tipos de galáxias com jatos, dois tipos de galáxias que tinham núcleos luminosos mas que não tinham jatos, e um conjunto de galáxias inativas regulares.

“As galáxias que abrigam estes jatos relativistas libertam grandes quantidades de radiação no rádio,” explica Marco. “Ao usar a câmara WFC3 do Hubble, descobrimos que quase todas as galáxias com grandes quantidades de emissão de rádio, o que implica a presença de jatos, estavam associadas com fusões. No entanto, não eram só as galáxias que continha jatos as únicas a mostrar evidências de fusões”.

Outros estudos já tinham mostrado uma forte relação entre a história das fusões de uma galáxia e os altos níveis de radiação no rádio, o que sugere a presença de jatos relativistas escondidos no centro da galáxia. No entanto, este estudo é muito mais extenso e os resultados são muito claros, o que significa que agora pode ser dito com quase toda a certeza que os NGAs de rádio, isto é, galáxias com jatos relativistas, são o resultado de fusões galácticas.

“Nós descobrimos que a maioria dos eventos de fusão propriamente ditos não resultam na criação de NGAs com uma poderosa emissão de rádio,” afirma o coautor Roberto Gilli, do Osservatorio Astronomico di Bologna, Itália. “Cerca de 40% das outras galáxias que observámos também atravessam um período de fusão e no entanto falharam em produzir as espetaculares emissões de rádio e os jatos dos seus homólogos.”

Embora seja agora muito claro que uma fusão galáctica é quase certamente necessária para uma galáxia albergar um buraco negro supermassivo com jatos relativistas, a equipa deduz que deve haver condições adicionais que precisam ser atingidas. Eles especulam que a colisão de uma galáxia com outra produz um buraco negro supermassivo com jatos quando este buraco negro central roda mais depressa – possivelmente como resultado de um encontro com outro buraco negro de massa similar – à medida que o excesso de energia extraída da rotação alimenta os jatos.

“Há duas maneiras das fusões provavelmente afetarem o buraco negro central. A primeira seria um aumento na quantidade de gás atraído para o centro da galáxia, acrescentando massa tanto ao buraco negro como ao disco matéria em seu redor,” explica Colin Norman, coautor do artigo. “Mas este processo deve afetar os buracos negros em todas as fusões galácticas e, apesar disso, nem todas as galáxias em fusão que têm buracos negros acabam com jatos, por isso não é suficiente para explicar a origem destes jatos. A outra hipótese é que uma fusão entre duas galáxias gigantescas faz com que dois buracos negros de massa semelhante também se fundam. Pode ser que uma determinada classe de fusão entre dois buracos negros produza um único buraco negro supermassivo e veloz, o que explica a produção dos jatos.”

Serão necessárias observações futuras usando tanto o Hubble como o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), do Observatório Europeu do Sul (ESO), para melhorar e expandir ainda mais o estudo, e para continuar a lançar luz sobre estes processos complexos e poderosos.

CCVAlg

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