Futebol e política? Já adivinhamos o assunto

Tiago Petinga / Lusa

Um novo estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) revelou que 93% dos inquiridos consideraram a corrupção um dos problemas mais graves de Portugal. O futebol e a política são as áreas mais associadas a estes crimes.

O estudo da FFMS, publicado esta segunda-feira, indica que o futebol e a política são as áreas mais expostas à corrupção em Portugal.

Segundo o Barómetro da Corrupção, assente em 1.101 entrevistas a residentes em Portugal continental com mais de 18 anos, realizadas entre 25 de março e 22 de abril de 2024, em média, os participantes consideraram também que a política só atrai pessoas que querem benefícios e que até as pessoas honestas se deixam corromper quando ocupam lugares de poder.

A perceção de corrupção é maior em relação aos políticos do que em relação a outros grupos, como os empresários, e, quando questionados sobre os atributos mais importantes ao votar num candidato, a integridade surge em segundo lugar, com 20,3% das respostas, atrás da orientação ideológica (24,2%).

Os dados revelam também que a perceção de corrupção relativamente aos políticos é indiferente ao regime, quer se trate de uma democracia ou de uma autocracia.

Futebol e política? “Só corruptos”

Apesar de concluir que todas as esferas de atividade são globalmente permeáveis à corrupção, os dados evidenciam a permeabilidade dos clubes de futebol e dos meandros políticos.

Colocados perante uma escala de 0 a 10 – de “nada corrupta” a “extremamente corrupta” -, os inquiridos dão uma nota de 8,1 aos clubes de futebol, seguindo-se os partidos políticos e as autarquias, ambos com 7,5, e o Governo, com 7,3, enquanto as forças de segurança e defesa são vistas como menos permeáveis a este fenómeno.

O estudo recordou os dados do recente Eurobarómetro Especial sobre Corrupção, que indicou uma preocupação muito maior com a corrupção em Portugal (93%) do que na média da União Europeia (70%).

O que é ou não corrupção?

Coordenado pelos investigadores Luís de Sousa e Susana Coroado, o estudo partiu para a análise do entendimento desta realidade, resultando numa perspetiva legal do comportamento, ou seja, tem de haver uma violação da lei para ser considerado corrupção.

A amostra dividiu-se em quatro grupos no que toca à abordagem a este fenómeno, destacando-se dois: os chamados ‘intransigentes’ (34%), que consideram que a corrupção viola a lei e deve ser sempre condenável independentemente dos seus resultados, e os designados ‘falsos moralistas’ (32%), que deixam de entender determinada situação como corrupção se esta tiver efeitos positivos para a comunidade.

Entre diferentes cenários e o nível de tolerância a cada situação, o abuso de informação privilegiada para benefício de terceiros foi aquele mais percecionado como corrupção (com uma avaliação de 8,6 numa escala de 0 a 10), enquanto as portas giratórias (6,7) e a ‘cunha’ (5,1) se situaram no extremo oposto, sendo vistas com mais complacência pelos participantes.

Combate à corrupção é ineficaz

O combate à corrupção em Portugal é considerado ineficaz e isso deve-se, sobretudo, à existência de megaprocessos e às muitas possibilidades de recurso dos arguidos.

O estudo indica que mais de metade dos inquiridos considera o combate a este fenómeno ‘nada eficaz’ (51,3%) e reparte as responsabilidades da ineficácia do combate, por ordem decrescente, pelo poder político, pela sociedade civil e pela justiça.

Governo (25,5%), políticos (10,4%) e partidos (4%) totalizam perto de 40% das respostas dos inquiridos, enquanto a sociedade em geral alcança 28,8% e os tribunais são vistos como os principais responsáveis para 15,8% da amostra. Por outro lado, as empresas (1%) e a comunicação social (1,5%) são tidas como as menos responsáveis pela ineficácia do combate à corrupção.

Questionados sobre as razões que mais contribuem para a ineficácia da justiça no combate à corrupção, os participantes realçaram os megaprocessos demasiado complexos e intermináveis (71,9%).

Segue-se o facto de haver demasiadas possibilidades de recursos, apontado por 43,4% dos inquiridos, e as dificuldades em provar a corrupção nos tribunais (28,5%).

Papel dos OCS na denúncia

A perceção sobre o combate à corrupção é, segundo os dados apurados, fundamentalmente formada através dos órgãos de comunicação social (OCS) tradicionais, nomeadamente, a televisão (63,7%) e a imprensa escrita e online (55,2%), sendo as redes sociais apenas a quinta opção mais votada (9,9%).

No entanto, aqueles que têm uma opinião mais negativa sobre o combate à corrupção são os que recorrem a novas fontes de informação, como redes sociais e podcasts/videocasts.

O estudo analisa o impacto do tratamento da corrupção pela comunicação social e as respostas apontam para uma maioria de inquiridos satisfeitos com a abordagem dos ‘media’ (41,9%) face àqueles que se confessam insatisfeitos (35,9%). Há ainda 21,2% que se dizem nem satisfeitos e nem insatisfeitos com o tratamento mediático deste fenómeno.

Sobre as razões de insatisfação, os motivos invocados distribuem-se de forma equilibrada, com 7,5% a apontarem a preocupação com as audiências ou os lucros, 7,3% a destacarem o sensacionalismo e 6,6% a indicarem que os ‘media’ são tendenciosos.

O barómetro reflete ainda sobre uma perceção essencialmente coletiva da corrupção, uma vez que praticamente metade (49,6%) dos inquiridos declarou que a sua vida não tinha sido afetada pela corrupção no último ano, embora depois o número dos que indicam que a sua vida foi mais afetada por este fenómeno seja superior ao daqueles que dizem que tiveram a sua vida menos afetada.

ZAP //

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