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“Não me lembro de nada com esta intensidade”. Funerárias sem mãos a medir, numa altura em que morrem 500 pessoas por dia

Christophe Petit Tesson / EPA

Até ao início de 2021, apenas em dois dias, um deles em janeiro de 2017 e outro em agosto de 2018, a mortalidade total em Portugal tinha ultrapassado a barreira dos 500 óbitos diários. Funerárias estão atoladas de trabalho.

Entre a última terça-feira e o último domingo, com o agravar da pandemia e com o frio, num mês que já costuma ter muita mortalidade, o limite das cinco centenas de mortes foi ultrapassado sempre durante sete dias consecutivos.

Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas, trabalha no setor funerário há cerca de 35 anos e disse à TSF que nunca tinha visto nada como nestes últimos meses, e em especial como a última semana.

O sistema de vigilância da mortalidade da DGS revelou que só nos últimos sete dias existiram 1.254 óbitos em excesso.

De acordo com a TSF, de 1 a 10 de janeiro faleceram 5.052 portugueses, mais 1.085 que na média dos cinco anos anteriores (2016 a 2020), sendo que apenas cerca de 200 óbitos não são explicados pela Covid-19, que nesse mesmo período matou 897 pessoas.

O representante das agências funerárias indica que há muito que notam de “sobremaneira” este aumento da mortalidade que agora, se deve não apenas à pandemia, mas também à sazonalidade natural dos óbitos que aumentam, por norma, nesta altura do ano.

Toda a situação tem sido especialmente agravada pelo extremo frio que se tem sentido, num pico de óbitos que, acredita, se pode prolongar por mais tempo.

“Há subidas nesta altura, mas não me lembro de nada com esta intensidade durante tanto tempo e penso que ainda não atingimos esse pico”, afirma Carlos Almeida, que sublinha que a capacidade do sistema “está muito no limite, pois, seguramente, já não existe capacidade de frio para a rapidez com que os cadáveres devem ser retirados dos grandes hospitais”.

“Os hospitais deveriam ter já contentores frigoríficos externos para precaver toda esta situação”, defende o representante do setor, que considera que as câmaras de frio estão “superlotadas” e “muitos cadáveres que não chegarão a ir ao frio, ficando em salas com temperaturas mais reduzidas através de equipamentos de ar condicionado”.

A Associação Nacional de Empresas Lutuosas tem solicitado compreensão às famílias que não devem pedir, nesta altura de pandemia, cerimónias fúnebres mais complexas, nem a transferência dos cadáveres para cemitérios noutros concelhos.

ZAP //

 

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