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Fugitivos “muito violentos” tiveram ajuda de mercenários profissionais. Como aconteceu?

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ZAP // SNCGP / Facebook

Algo falhou. Gente muito violenta, que tudo fará para continuar em liberdade, fugiu de um estabelecimento prisional de alta segurança com a ajuda de uma equipa altamente profissional, com material militar, que atuou de forma rápida e eficaz. Todos os pormenores da fuga foram preparados ao mínimo detalhe.

Os cinco homens que fugiram no sábado da prisão de Vale dos Judeus, em Alcoentre, são “gente muito violenta, com enorme capacidade de mobilidade”, disse este domingo o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves.

Em conferência de imprensa realizada na sede do Sistema de Segurança Interna (SIS), em Lisboa, Luís Neves adiantou que a PJ está a levar a conduzir uma investigação para saber de que forma ocorreu a fuga e quem está por detrás dela, mas adverte que “a ideia de que pode haver resultados imediatos é falaciosa”.

“Dos nossos trabalhos que já levam 20 horas detetamos que todos os pormenores da fuga foram preparados ao mínimo detalhe”, disse Luis Neves, salientando a cooperação existente entre todas as forças de segurança.

“Esta gente tudo fará para continuar em liberdade“, advertiu Luis Neves. “Eles tudo farão para se manter em liberdade e quando digo ‘tudo’ é mesmo tudo: o fator vida pode estar em causa”, salientou.

O responsável alertou ainda para a necessidade de haver “cuidado e reserva na comunicação” durante a investigação, apelando à população que, se tiver alguma informação sobre os evadidos, contacte as forças de segurança ou o 112.

Os cinco reclusos — dois portugueses e três estrangeiros — fugiram este sábado do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Lisboa. Câmaras de vigilância captaram detalhes da fuga: pelo pátio, com uma escada, a ajuda de três homens que aguardavam no exterior, e um pequeno Mercedes preto à porta.

A fuga foi registada pelos sistemas de videovigilância pelas 09:56, mas, de acordo com o diretor-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rui Abrunhosa, só foi comunicada aos órgãos superiores “cerca de 40 minutos depois, pois só nessa altura, aquando do regresso às celas individuais, se deu conta que faltavam cinco indivíduos com recurso ao sistema de videovigilância”.

“A partir desse momento foram desencadeadas todas as ações. Neste momento está em curso uma investigação através do serviço de auditoria e de segurança para saber o que possa ter falhado. Algo falhou, porque senão as pessoas não tinham fugido”, salientou.

Em 2017, numa altura em forças da Guarda Prisional se debatiam com escassez de recursos, o então ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, determinou que as torres de vigia de Vale de Judeus fossem desmanteladas.

O estabelecimento passou então a ser controlado através de câmaras e de guardas no próprio pátio. Na altura da fuga, segundo apurou o JN, os guardas de serviço estavam todos nas visitas, e o guarda que monitoriza as câmaras estava focado naquela zona, atento a eventuais passagens de estupefacientes.

Uma avaliação preliminar das imagens de videovigilância, aponta que os cinco homens terão fugido com ajuda externa através do lançamento de um escada, que permitiu aos reclusos escalarem o muro e acederem ao exterior”, refere a DGRSP. No exterior da cadeia havia dois homens à espera dos detidos.

“Conforme o protocolo, foram feitas imediatamente comunicações devidas aos órgãos de política criminal com vista à recaptura dos evadidos”, acrescenta o comunicado.

Os reclusos fugiram pelo pátio, recorreram a cordas para subir a vedação e terão tido apoio exterior de três indivíduos que terão colocado uma escada para ajudar os homens a saltar a rede que cerca a cadeia. No lado de fora, encontrava-se uma viatura de marca Mercedes que foi usada na fuga.

Quem são os fugitivos

Em nota enviada às redações, a DGRSP apontou a identidade dos cinco fugitivos: dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer.

Fábio Fernandes Loureiro, conhecido como Fábio ‘Cigano‘, de 33 anos, foi condenado a 25 anos, pelos crimes de tráfico de menor quantidade, associação criminosa, extorsão, branqueamento de capitais, injuria, furto qualificado, resistência e coação sobre funcionário e condução sem habilitação legal.

Fernando Ferreira, de 61 anos, foi condenado a 25 anos pelos crimes de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, furto, roubo e rapto; já Rodolf Lohrmann, de 59 anos, cumpria pena de 18 anos e 10 meses pelos crimes de associação criminosa, furto, roubo, falsas declarações e branqueamento de capitais.

Mark Roscaleer, de 39 anos, foi condenado a 9 anos, pelos crimes de sequestro e roubo, e Shergili Farjiani, de 40 anos, tinha sido condenado a 7 anos, pelos crimes de furto, violência depois da subtração e falsificação de documentos.

Dois dos reclusos são reincidentes na fuga, diz o Expresso. “Antes estiveram detidos em Monsanto, outra prisão de alta segurança, de onde já tinham tentado fugir”, adianta ao jornal uma fonte ligada às investigações.

As autoridades ainda não conseguiram apurar a identidade dos três homens que ajudaram à fuga.

Como aconteceu

Estavam este sábado 33 efetivos da Guarda Prisional se serviço em Vale de Judeus, “um turno normal para um estabelecimento com este número de reclusos”, diz Rui Abrunhosa.

Mas, no momento da fuga, “os reclusos estavam sozinhos no pátio e uma das câmaras estava desligada, porque o guarda que estava encarregue da vigilância abriu a porta, foi processar as visitas e cuidar de outras tarefas burocráticas”, contou ao Expresso uma outra fonte ligada à investigação.

Foi uma evasão planeada ao pormenor, que estava a ser preparada há 15 dias, nota o CM. Os reclusos esperaram pelo momento em que sabiam que os guardas iam estar concentrados na fiscalização das visitas ao estabelecimento prisional de Vale de Judeus, e em poucos minutos consumaram a fuga.

Quando os guardas percorreram o perímetro na sua ronda habitual, encontraram a escada articulada, com 12 metros, composta por quatro partes de três metros cada, conta o CM. Suspeita-se que terá sido colocada na véspera, através de um buraco na vedação de arame farpado que foi entretanto encontrado.

Depois de analisarem as câmaras de videovigilância, que captaram a fuga na perfeição, os guardas perceberam que os reclusos tinham atravessado o pátio, com cerca de 50 metros de comprimento, e saltado um primeiro muro com 3 metros de altura.

A escada articulada permitiu então aos fugitivos ultrapassar o último obstáculo, um muro com 10 metros de altura construído de maneira a impedir o escalamento — conhecido como ‘pescoço de cavalo’. Os reclusos demoraram 20 minutos a passar esta escada, realça o CM.

Durante cerca de uma hora e meia, ninguém percebeu que cinco cadastrados extremamente perigosos e com penas pesadas tinham trepado o muro da cadeia.

No exterior, os reclusos tinham dois carros e três cúmplices à espera — uma equipa altamente profissional que atuou de forma rápida e eficaz, com a ajuda de material militar.

“Eles tiveram auxílio do exterior por parte de três indivíduos, dois que colocaram uma escada, porque o muro da prisão tem cerca de seis metros, e outro que ficou a aguardar num carro”, descreveu ao Público o presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Frederico Morais.

“Antigamente, havia torres de vigilância onde estava sempre um guarda, mas em 2017, devido à falta de guardas, o Estado decidiu desmantelar as torres e apostar nas câmaras de videovigilância. Mas as câmaras não vão atrás de ninguém”, lamenta o responsável sindical.

ZAP // Lusa

12 Comments

  1. Dou uma ideia…fazer 1 lei que facelite o patrão despedir o empregado que não quer trabalhar. O problema em portugal (+ no publico) é que a malta não quer trabalhar. Se os guardas , os médicos etc..etc..não querem trabalhar … RUA

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  2. Falaram tantas vezes em material militar, acabei po4 não perceber o que e portabto porque o mencionaram. Não houve tiros nem armas. O material militar era o escadote? O casaco camuflado? É para parecer que os guardas nem tinham hipótese ou para escobder a sua incompetência ou conivência?

  3. A prisão de Vale de Judeus foi de alta segurança até o Cabrita das golas ter decidido que é mais inteligente do que os que o precederam. De facto, o cérebro dele, somado ao do Costa, quase deve equivaler a um completo. Com a preciosa ajuda do Medina para fazer as contas, a única coisa em que devem ter pensado foi que fica muito mais barato instalar umas câmaras de vigilância do que pagar ordenados a guardas.

  4. Façam como com os migrantes ilegais, legalizem tudo… Neste caso, soltem todos os presos e fechem as cadeias… Está tudo louco!

  5. “Estabelecimento prisional de alta segurança”… “Os reclusos demoraram 20 minutos a passar esta escada”… Chamam a isto alta segurança?!?!? Podiam ter trocado a vigia das torres por cameras, mas pelo menos colocavam cameras com detecção de movimentos para soar o alarme… Enfim… Temos que pensar positivo, são menos 5 bocas a comer do Estado e esperemos que os 5 tenham saído do país e nunca mais voltem…

  6. José, isso é uma grande verdade, basta ver que para se ser atendido num organismo público é preciso fazer marcação prévia, porque o resto do pessoal “está em teletrabalho” e a comprovar isto que se está a passar, há muitos professores da escolas privadas a passarem para o público porque ganham o mesmo e só trabalham 35 horas.

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