França vai pedir à Comissão Europeia que suspenda as negociações do acordo comercial entre a União Europeia e os Estados Unidos.
“Já não há apoio político em França para estas negociações” e “França apela a um fim destas negociações”, afirmou o secretário de Estado do Comércio Externo francês, Matthias Fekl, à Rádio RMC.
Negociadores dos Estados Unidos e da União Europeia estão a tentar finalizar o proposto acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), que vai criar a maior zona de comércio livre do mundo.
No entanto, as negociações têm enfrentado dificuldades, não só devido aos termos do acordo em si mas também pela decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e pela crescente oposição ao acordo em França e na Alemanha.
Fekl acredita que as negociações favorecem os Estados Unidos.
“Os norte-americanos não dão nada, apenas migalhas (…) não é assim que as negociações se fazem entre aliados”, disse.
“Precisamos de uma suspensão clara e definitiva destas negociações de modo a recomeçar com uma boa base”, afirmou Fekl, acrescentando que a França vai avançar com este argumento numa reunião de ministros do comércio externo em Bratislava, em setembro.
Negociações sobre TTIP falharam
No mesmo sentido, o vice-chanceler e ministro da Economia alemão Sigmar Gabriel afirmou que as negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos para estabelecer um amplo acordo de comércio livre falharam.
“As conversações com os Estados Unidos falharam de facto porque nós, os europeus, não temos de ceder às exigências americanas”, afirmou Sigmar Gabriel, este domingo, em declarações à estação pública alemã ZDF.
“Nada está a avançar”, reforçou o responsável político.
A contestação do acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento na Alemanha sempre esteve presente durante as negociações com Washington, incluindo no seio da coligação governamental.
Se os sociais-democratas, como Sigmar Gabriel, estão cada vez mais afastados deste projeto, Angela Merkel, líder do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), continua a defender o acordo com os americanos.
“Este acordo é absolutamente certo e importante e do interesse absoluto da Europa”, afirmou a chanceler alemã em finais de julho.
Também o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirma que as negociações entre a UE e os EUA, cuja última ronda teve lugar em meados de julho em Bruxelas, continuam em curso.
“As conversações estão agora num momento crucial porque há propostas para quase todos os temas que estão em cima da mesa e uma ideia quanto à forma do futuro acordo”, explicou Schinas.
“Se as condições forem adequadas, a Comissão Europeia está disposta a fechar o acordo no fim do ano”, acrescentou, recordando que o presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, já tinha dito que “não vai sacrificar os padrões europeus de segurança, sociais, saúde e de proteção de dados ou a diversidade cultural” pelo comércio livre.
Prejudicar os consumidores
Negociadores da UE e dos EUA começaram em 2013 conversações para criar a maior área de comércio livre no mundo. As duas partes pretendem finalizar as negociações até ao fim da administração democrata do Presidente norte-americano Barack Obama, em finais deste ano.
No entanto, essa possibilidade parece estar cada vez mais longe, por causa da oposição de grandes economias europeias, como a França, e da forte mobilização da sociedade civil contra o tratado.
Os ativistas que se opõem ao TTIP desde que as negociações começaram, em 2013, dizem que o acordo vai apenas beneficiar as multinacionais e prejudicar os consumidores.
Nos bastidores, diplomatas próximos do processo estão convencidos de que as negociações deverão ser suspensas pelo menos até às eleições em França e na Alemanha em 2017.
O primeiro-ministro francês Manuel Valls disse considerar “impossível” que os dois lados concluam as negociações sobre o acordo comercial até ao fim de 2016.
A decisão do Reino Unido de deixar a UE também veio complicar o processo.
ZAP / Lusa
Toca a fugir do feudalismo 2.0 das multinacionais. Teríamos uma situação análoga à da Europa medieval, sem poder do estado e abusos dos (ainda candidatos a) novos senhores feudais que são as grandes corporações multinacionais, com poder acima de qualquer estado.