Liz Truss pôs em causa a aliança histórica entre Paris e Londres, dizendo que não se sabe se Macron é um amigo ou inimigo. O Presidente francês já respondeu, dizendo que a França sempre foi amiga dos britânicos e considerando que a dúvida de Truss levanta “problemas sérios”.
Liz Truss ainda nem chegou ao cargo de primeira-ministra britânica — numa corrida a dois com Rishi Sunak onde as sondagens mostram que é a favorita — e pode já estar a causar problemas com os vizinhos franceses.
A Ministra dos Negócios Estrangeiros disse na quinta-feira, num comício com membros do Partido Conservador, que não tem a certeza se Emmanuel Macron é um “amigo ou inimigo” e que vai julgar o Presidente francês “pelas suas acções e não pelas suas palavras”, cita o The Independent.
Já Rishi Sunak não teve qualquer dúvidas na resposta à questão feita pela apresentadora do evento e rapidamente disse que a Macron é um “amigo”.
As declarações de Truss surgem meses depois da troca de galhardetes pública entre o Reino Unido e a França, que se desentenderam sobre as leis relativas à pesca nas águas entre os países no pós-Brexit.
A tensão entre os Governo atingiu um pico em Outubro, quando a França apreendeu uma traineira britânica, alegando que a embarcação não tinha licença para pescar nas águas francesas.
Os franceses também se mostraram impacientes com a demora das autoridades britânicas a dar licenças aos seus navios, tendo Paris feito um ultimato a Downing Street de que impediria os barcos britânicos de atracar nos seus portos e até ameaçado cortar o fornecimento de energia à ilha de Jersey.
A crise migratória no Canal da Mancha também fez ainda mais estragos nas relações entre os dois países, especialmente depois de Boris Johnson ter divulgado publicamente uma carta que enviou a Macron com o plano para a resposta conjunta à situação, no rescaldo do naufrágio que em Novembro matou 31 pessoas.
A decisão de Boris terá deixado Macron furioso e o chefe de Estado francês terá mesmo dito numa conversa privada que o primeiro-ministro britânico era um “palhaço” e que era “triste” vê-lo a liderar um “grande país” como o Reino Unido.
Macron fala em “problemas sérios”
Durante a sua visita oficial à Argélia, o chefe de Estado francês foi confrontado com as declarações de Truss e não se mostrou contente com o que ouviu. Macron disse mesmo que a França e o Reino Unido podem vir a ter “problemas sérios” se não é óbvio que são aliados e realça que “não é bom perder muito o rumo”.
“Eu não hesitaria por um segundo. A França é a amiga do povo britânico“, respondeu Macron, questionado sobre o que diria se estivesse no lugar de Truss.
O Presidente francês garante que o Reino Unido continua a ser uma “nação amiga” e um forte aliado “independentemente dos seus líderes e às vezes apesar dos seus líderes e de quaisquer pequenos erros que possam fazer num discurso”.
O ainda primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também reagiu à polémica e disse que sempre teve “relações muito boas” com Macron. Johnson até aproveitou para praticar o seu francês, descrevendo Macron como “un très bon buddy de notre pays” —um amigo muito bom do nosso país.
As declarações de Truss também foram rapidamente condenadas por várias figuras políticas britânicas. O deputado Trabalhista David Lammy acusa a candidata Conservadora de mostrar uma “lamentável falta de juízo” ao insultar um aliado, especialmente num contexto de guerra na Europa em que o “Ocidente tem de ficar unido perante as tentativas russas de nos dividir”.
Peter Ricketts, antigo embaixador britânico em Paris, também lamentou as declarações de Truss: “A França é o nosso aliado mais próximo na Defesa. Temos um compromisso há 50 anos para testarmos as nossas armas nucleares em França. Enquanto Ministra dos Negócios Estrangeiros britânica e provável futura primeira-ministra, insultar o Presidente de França é só irresponsável“.