Portugal fez, na última sexta-feira, a primeira cirurgia robótica pediátrica. Teve lugar no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, e marca um progresso significativo na história da medicina portuguesa.
A primeira cirurgia robótica pediátrica em Portugal foi realizada no Hospital Curry Cabral, na última sexta-feira, a uma jovem de 17 anos com problemas urológicos, que está a recuperar bem, anunciou, esta quarta-feira, a instituição.
A cirurgia – denominada pieloplastia desmembrada – foi realizada por uma equipa do departamento de Cirurgia Pediátrica do Hospital de D. Estefânia, dirigida por Sofia Ferreira Lima, no bloco operatório do Hospital de Curry Cabral, que integram a Unidade Local de Saúde (ULS) São José, em Lisboa.
Em declarações à agência Lusa, a cirurgiã Sofia Ferreira Lima explicou que a pieloplastia desmembrada é uma cirurgia para retirar uma obstrução que impede a saída da urina do rim e reconstruir a ligação entre o bacinete e o uretero, para que a urina saia sem obstáculo.
A mãe da jovem contou à Lusa que a filha começou com dores e pensava que era uma apendicite aguda, “mas na realidade estava com uma cólica renal”.
“Foi operada na sexta-feira e teve alta na segunda-feira. Está a recuperar muito bem, não sei como seria se não tivesse sido por robótica”, disse, justificando: “Pelo que tenho lido, e pelo conhecimento que tenho, sei que é a maneira menos invasiva possível”.
Sofia Ferreira Lima contou que a jovem está a tirar o curso de bailarina e faz cinco horas de desporto diariamente, apresentando todas as vantagens em ser operada com recurso a robótica, que garante uma recuperação mais rápida.
“É uma cirurgia inovadora que em pediatria vai um bocadinho ‘entre aspas’ atrás dos adultos – em que é sempre mais fácil de desenvolver porque são maiores -, mas a pediatria está também a andar e a desenvolver”, começando sobretudo nos doentes mais velhos, adiantou.
As vantagens da robótica
Segundo a cirurgiã, a vantagem é ser uma cirurgia minimamente invasiva, evitando incisões grandes, e com ganho na recuperação do doente.
“Está cientificamente comprovado que os doentes submetidos a este tipo de cirurgia têm menos tempo de internamento, geralmente também têm menos dor, portanto, menos necessidade de medicação analgésica e conseguem voltar às atividades do dia-a-dia e ao desporto mais rápido”, realçou.
Por outro lado, disse, “a robótica tem visualização 3D”, o que permite uma grande precisão na definição da visão, facilitando “a forma de operar” e permitindo que os cirurgiões consigam “operar com grande detalhe anatómico”.
Também tem vantagens na ergonomia a operar: “Os gestos são muito mais fáceis de fazer e isso tem um ganho para o doente, também permite menos perdas de sangue”, bem como possibilita ao médico fazer um maior uso das duas mãos.
Segundo Sofia Ferreira Lima, que na cirurgia foi acompanhada pela especialista Leonor Torres e pelo urologista João Magalhães Pina, com esta técnica, o cirurgião opera “num conforto completamente diferente da laparoscopia [também uma cirurgia minimamente evasiva], em que muitas vezes as cirurgias são longas porque são difíceis”.
O Centro de Cirurgia Robótica da ULS São José, pioneiro no Serviço Nacional de Saúde, é utilizado nas especialidades de Urologia, Hepatobiliar, Pancreática, Colorretal, Obesidade, Esofagogástrica, Ginecologia, Torácica e Cirurgia Pediátrica.
Em 2023, realizaram-se cerca de 500 cirurgias no Centro de Cirurgia Robótica da ULS São José, antigo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.
// Lusa