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Fogo na Sertã reacendeu e há aldeias cercadas pelas chamas

Paulo Cunha / Lusa

O incêndio no concelho da Sertã reacendeu à tarde depois de sido dado como dominado durante a madrugada, continuando os fogos no distritos de Castelo Branco a mobilizar mais de mil bombeiros e 15 meios aéreos, segundo a Proteção Civil.

Depois de ter sido dado como dominado durante a madrugada, o fogo que começou há mais de 24 horas no concelho da Sertã, reacendeu à tarde e no local estão 295 bombeiros, 91 viaturas e uma aeronave.

Nos últimos tempos tem-se registado “muitas reativações”, principalmente na zona da Sertã, onde os incêndios já foram dominados — “não tivéssemos mantido este dispositivo todo empenhado e certamente já teríamos que lamentar a sua reativação em moldes mais complexos.”

O Comandante aproveitou também para retificar que não há uma frente de 25 quilómetros, esse valor remete à distância que vai “da sua origem à ponta mais distante”. Neste momento existem pequenas e dispersas frentes que representam “cerca de 15% do perímetro” do incêndio, que “tem muito mais que 50 quilómetros”.

Outra das informações prestadas pelo Comandante Belo Costa diz respeito à utilização de meios aéreos. O responsável pelo combate a este incêndio começa por explicar que os 14 meios aéreos que estão a ser utilizados neste momento são menos dos que o que foram utilizados ontem, mas há uma justificação.

“Nessa altura tínhamos três incêndios e hoje temos só um. Se formos ver, estamos se calhar a empenhar, proporcionalmente, mais meios aéreos do que ontem: hoje são 14 para um ontem foram 20 para três.”

Belo Costa esclarece ainda que na manhã deste domingo foram reportadas “grandes dificuldades em utilizar meios aéreos” por culpa das condições atmosféricas. “Todo o fumo libertado durante a noite” concentrou-se nas “camadas mais baixas da atmosfera” e isso inviabilizou a utilização dos aviões.

No segundo ponto de situação da Proteção Civil deste domingo, o comandante operacional Luís Belo Costa disse que se vive uma “tarde de extrema violência de propagação deste incêndio“. “Não está tão grave como esteve ontem, ainda assim está muito grave”, apontou. O comandante operacional da Proteção Civil avançou há “registo de habitações que foram atingidas pelas chamas”, sem adiantar um número.

A GNR mandou evacuar a praia fluvial de Cardigos, freguesia do concelho de Mação, distrito de Santarém, devido à rápida aproximação das chamas ao local e ao centro da localidade.

Pelas 16h15, ao chegar ao local, a agência Lusa constatou várias viaturas a abandonarem rapidamente a praia fluvial e a fazer sinal de luzes e a buzinar para que os carros que seguiam em sentido contrário, fizessem inversão de marcha.

Em declarações à Lusa, o responsável pelo espaço de lazer que existe na praia fluvial de Cardigos, Armindo Dias, contou que durante a manhã a praia foi frequentada por “cerca de 1.300” pessoas.

Quinze aldeias ameaçadas

Quinze aldeias das 23 existentes na freguesia de Cardigos, Mação, estavam esta tarde em perigo devido às chamas, disse à Lusa o vice-presidente da autarquia.

“Provavelmente, das 23 aldeias da freguesia [de Cardigos] neste momento, 15 estarão em perigo”, afirmou António Louro, vice-presidente da autarquia com o pelouro da Proteção Civil, em declarações registadas cerca das 17h00.

Entre as aldeias e lugares ameaçados pelas chamas, António Louro nomeou Cardigos, a sede de freguesia, Freixoeiro, Carvalhal, Corujeira, Roda ou Portela dos Povos, entre outras.

António Louro estava na zona de Cardigos – localizada numa espécie de enclave no norte do município de Mação, rodeado pelo distrito de Castelo Branco (concelhos de Vila de Rei, Sertã e Proença-a-Nova). Na ocasião, os meios da Proteção Civil municipal estavam a ajudar a posicionar máquinas de rasto “para combate direto” ao incêndio, explicou.

António Louro disse ainda que dos 30% restantes da área florestal do concelho de Mação, “agora já ardeu cerca de 60%”, mais de quatro mil hectares.

O autarca revelou ainda que a “grande preocupação” tem sido defender as habitações face à proximidade das chamas e à violência do incêndio e que alguns habitantes de localidades mais isoladas, nomeadamente os mais idosos e vulneráveis “foram retirados”.

“Em alguns locais não foi possível fazer todas as operações com a antecedência desejada”, assinalou o autarca, lembrando, no entanto, que “a casa das pessoas, quando as habitações têm boas condições e são mais recentes, é o sitio mais seguro”.

A população está a ajudar os bombeiros como pode, fornecendo, por exemplo, garrafas de água. Enquanto isso, o fogo não da tréguas em Mação. As chamas chegaram à rua principal da aldeia de Roda, em Cardigos.

Frente de fogo “descontrolada” em Vila de Rei

O vice-presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, Paulo César, disse que existe no concelho uma frente de fogo “descontrolada” na fronteira com os municípios da Sertã e Mação mas as habitações têm sido defendidas das chamas.

“Há um fogo descontrolado na extremidade dos três concelhos, entre Sesmarias e Portela dos Colos, mas têm-se conseguido defender as habitações”, afirmou Paulo César, em declarações cerca das 18h00.

O autarca disse ainda que o vento forte e a temperatura elevada têm sido “os maiores obstáculos” aos operacionais que combatem o incêndio numa zona onde predomina o pinheiro e eucalipto, admitindo que junto a povoações mais isoladas por vezes há falta de bombeiros. “Os bombeiros não chegam a todo o lado mas quando isso acontece temos tido o apoio de outras entidades de Proteção Civil, como a GNR”, frisou.

Proença-a-Nova de prevenção

Em declarações à Lusa cerca das 19h00, o autarca de Proença-Nova, João Lobo, disse que o fogo que começou sábado em Vila de Rei e que lavra no vizinho concelho de Mação se dirige para a área do município de Proença-a-Nova. “É uma preocupação e temos os meios em prevenção no local, sapadores florestais e equipas da junta de freguesia”, afirmou João Lobo, notando, no entanto, que as chamas ainda não entraram no seu concelho.

De acordo com o autarca, uma das frentes do incêndio está na zona da localidade de Mouta Racome, em Mação, que fica a menos de um quilómetro em linha reta a oeste da fronteira com o distrito de Castelo Branco e a cerca de dois quilómetros a noroeste da povoação de Bairrada, já em Proença-a-Nova. “O vento mudou de direção, virou mais para sul e o fogo vai a caminho de Bairrada”, precisou João Lobo.

O autarca disse ainda que o incêndio já atingiu uma zona florestal “que ardeu em 2017” perto de Mouta Racome.

Artefactos incendiários encontrados em Vila de Rei

A Polícia Judiciária está a investigar os artefactos incendiários que foram encontrados em várias zonas do concelho de Vila de Rei, em Castelo Branco, confirmou fonte deste órgão policial ao Observador.

A mesma fonte adianta que não são artefactos explosivos — o que significa que foram ali colocados para iniciar um fogo. Vários elementos da Diretoria do Centro da PJ estão no local dos incêndios a realizar diligências. Este novo dado vem aumentar as suspeitas de mão criminosa.

ZAP //

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