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FMI assume que Portugal devia ter reestruturado a dívida

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Stephen Jaffe / International Monetary Fund / Flickr

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde

A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde

O Fundo Monetário Internacional (FMI) assumiu esta quarta-feira que países como Portugal teriam beneficiado de uma reestruturação da dívida pública, feita de forma significativa no arranque dos seus programas de ajustamento.

A conclusão foi assumida pelo diretor do Departamento de Análise Estratégica e Política do FMI, Vivek Arora, numa conferência de imprensa em Washington sobre o relatório técnico de avaliação aos programas de ajustamento da crise onde o Fundo avalia as suas intervenções nos 32 programas de resgate de 27 países que financiou entre setembro de 2008 e junho de 2013, num total de 577 mil milhões de dólares (cerca de 530 mil milhões de euros).

O FMI admite que a consolidação orçamental prevista no programa de ajustamento português provocou um aumento da dívida pública acima do esperado, lembrando que durante o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) português, que vigorou entre maio de 2011 e junho de 2014, o rácio da dívida pública face ao PIB (Produto Interno Bruto) aumentou cerca de 19 pontos percentuais.

De acordo com o último Boletim Estatístico do Banco de Portugal, a dívida pública na ótica de Maastricht aumentou de 111,4% do PIB no final de 2011 para 130,2% no final de 2014.

“Não temos um ponto de vista específico sobre Portugal, mas temos uma visão geral: se os países têm um rácio de dívida elevado ou se a sustentabilidade da sua dívida não pode ser assumida categoricamente, então a reestruturação da dívida à cabeça é uma solução desejável“, explicou Vivik Arora.

No relatório de avaliação divulgado esta quarta-feira, o FMI afirma que “o efeito de contração da consolidação orçamental na procura pode ter contribuído, com outros fatores, para aumentar o rácio de dívida pública face ao PIB mais do que o esperado no curto prazo”.

Esse é o caso de Portugal, um dos países analisados neste relatório, indicando o Fundo que “esta tendência foi exacerbada devido a custos de recapitalização da banca“, bem como “da reclassificação da dívida de empresas públicas que estavam anteriormente fora do perímetro das administrações públicas”.

“Em Portugal, foi difícil afirmar categoricamente que havia uma elevada probabilidade de a dívida ser sustentável no curto prazo”, lê-se no relatório. “Contudo, tendo em conta preocupações com contágios sistémicos internacionais, foi evocada a cláusula de excepção para justificar o acesso excepcional” ao apoio do FMI.

Foi também pelos riscos de contágio que a reestruturação foi, na altura, afastada tanto em Portugal, como na Irlanda, reconhece ainda o documento.

Vivik Arora assumiu que “teria sido melhor reestruturar a dívida” nos países com as características de Portugal para evitar que “o peso do ajustamento fosse transferido da redução da dívida para um esforço de consolidação orçamental muito grande”.

Alguns países que implementaram processos de ajustamento mais duros, “experienciaram descidas significativas da atividade económica”, refletindo reduções do nível do PIB que estavam “inflacionados artificialmente”.

“Como resultado, apesar do ajustamento orçamental, os rácios de dívida face ao PIB aumentaram mais do que o esperado durante o período do programa” – o que aconteceu em Portugal.

Por outro lado, admite o Fundo, “entre os países com níveis elevados de dívida pública, o mau desempenho do crescimento económico e da dívida pública foi inferior em casos que incluíram uma restruturação da dívida“.

ZAP

6 Comments

  1. Mesmo eu, que de economia nada percebo, já entendi que uma reestruturação da divida seria muito benéfico para Portugal e ajudaria a por fim ao ciclo de empobrecimento iniciado no governo do Coelho, coadjuvado pelo Irrevogável. Essa discusão é “tabu” tanto no nosso pais como na Europa devido apenas a preconceito ideológico e para garantir a “sangria” de muitos países com juros altos e rendas que acumulam capital nas grandes fortunas do planeta, em deterimento de melhores condições de vida para as populações.

  2. Só agora, depois de todas as privações que nos obrigaram a passar e que ainda passamos, é que nos vêm dizer isto? Devem estar a gozar connosco.

  3. Primeiro esmifra-se o povo até ao tutano. Privativa-se as empresas que dão lucro e que são essenciais ao desenvolvimento do país. Quando não houver mais nenhuma hipótese de pagar os juros da divida, então vão reestruturar a divida.
    Estes “mercados”, o FMI e os politicos que até se benzem quando se fala em restruturação da divida, deviam ir todos apanhar cavacos com o olho do c…

  4. Se devia e não fez, ainda vai a tempo. Porque é que estes esquizofrénicos não perdoam parte da divida unilateralmente?! Gostam muito de falar que houve erros, que não foi como devia, mas falam, falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada…

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