Winnie the Pooh é conhecido como um ursinho fofo, mas acaba de passar por uma transformação aterrorizante: é um vilão de machado em punho num novo filme de terror, encharcado de mel… e sangue.
O filme “Winnie the Pooh: Honey and Blood”, que estreia nos cinemas americanos na próxima semana, está a gerar uma enorme controvérsia — incluindo ameaças de morte por parte de furiosos fãs da personagem da literatura infantil de A.A. Milne.
No filme, Winnie e Piglet são abandonados pelo seu amigo de infância, Christopher Robin. Dececionados e enfurecidos, os personagens envolvem-se numa espiral de loucura assassina.
“Recebi abaixo-assinados para parar o filme. Recebi ameaças de morte. Algumas pessoas dizem que chamaram a polícia. Isto é uma loucura“, disse à agência AFP o realizador do filme, Rhys Frake-Waterfield, de 31 anos.
A impactante reinvenção do famoso Winnie the Pooh teve a sua estreia mundial em janeiro no México, onde arrecadou quase um milhão de dólares em duas semanas, e segundo alguns analistas do setor pode bater recordes de bilheteira.
Mas a adaptação cinematográfica do “urso mais fofo do mundo” pode também tornar-se um teste aos limites das leis de direitos de autor.
As aventuras de Pooh e dos seus amigos — Tigre, Piglet, Igor e Coruja — foram licenciadas e transpostas pela Disney para o grande ecrã durante décadas.
Mas os direitos de autor dos primeiros livros expiraram recentemente, e o pequeno estúdio independente britânico Frake-Waterfield aproveitou a oportunidade.
As primeiras imagens de “Honey and Blood” (“Mel e Sangue”, em tradução literal), nas quais sinistros Pooh e Piglet de tamanho humano pairavam ameaçadores atrás de uma jovem numa banheira de hidromassagem, tornaram-se rapidamente virais no ano passado.
Agora, o filme live-action de Frake-Waterfield, realizado com um pequeno orçamento — inferior a 250 mil dólares — aposta numa grande estreia mundial.
Frake-Waterfield contava inicialmente que o filme tivesse distribuição reduzida, mas pensa agora que pode até ultrapassar “Atividade Paranormal”, de 2009 — filme que, com um orçamento de 15 mil dólares, deu origem a uma saga que arrecadou mais de mil milhões, tornando-se um dos mais lucrativos da história do cinema.
Absurdo Vs. Direitos de Autor
De acordo com a lei americana, os direitos de autor expiram 95 anos após a primeira publicação de uma obra.
O primeiro livro “Winnie the Pooh” foi lançado em 1926. Apenas esta versão está já no domínio público. Mas para além dos direitos de autor, que impedem a cópia não autorizada de uma obra criativa, que são limitados no tempo, o filme poderá estar a infringir de marcas registadas.
A licença da Disney, renovável indefinidamente, proíbe a criação de um produto relacionado com o ursinho, que possa ser confundido com o original.
Mas neste caso, o absurdo de um ursinho Pooh como protagonista de um filme de terror ajuda os produtores do filme a sustentar a ideia de que o seu personagem não é confundível com os personagens Disney.
“Não se pode sugerir as personagens de Honey and Blood sejam, de alguma forma, patrocinadas, afiliadas ou associadas à Disney”, sustenta o advogado de direitos intelectuais Aaron J. Moss.
“Simplesmente, o filme é muito pouco adequado para famílias, e não é algo que os espectadores pudessem esperar ver da Disney. Portanto, qualquer possível reivindicação de marca registada é muito difícil de provar”, explica Moss.
Frake-Waterfield diz que nunca teve a intenção de se apropriar do Pooh da Disney. “Pelo contrário. Quero que o Ursinho Pooh seja grande, ameaçador, assustador, intimidador e horrível. Não quero que ele seja pequeno, fofo e lindo”, completou.
Independentemente da sua qualidade, a publicidade em torno do filme atingiu um nível tal que Frake-Waterfield já está a preparar uma sequela — e filmes de terror baseados noutros dois clássicos de literatura infantil: “Bambi” e “Peter Pan”.