Filipinas. Filha de Rodrigo Duterte pode suceder ao pai na governação do país

Prachatai / Flickr

O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte

Sara Duterte tornou-se numa figura nacional nas Filipinas em 2011, quando, enquanto presidente da câmara de Davao, no sul do país, foi filmada numa disputa acesa com o xerife sobre uma demolição de uma favela. Agora, há quem acredite que possa ser a sucessora do pai na governação do país.

De acordo com um artigo do OZY, divulgado na quinta-feira, desde a vitória presidencial do pai, Rodrigo Duterte, em 2016, a mesma foi impulsionada ainda mais para os holofotes nacionais. Sara Duterte tem estado ao lado do populista em funções oficiais, atuando como primeira-dama durante a recente visita de estado do presidente chinês Xi Jinping.

Agora, na primeira metade do mandato de seis anos do pai, é cada vez mais vista pelos filipinos como uma das principais candidatas na corrida para substitui-lo no cargo.

A política de 41 anos e presidente da câmara da cidade de Davao – onde trabalhou ao lado do pai quando este construía a própria carreira na política local -, não declarou a intenção de concorrer em 2022. Mas, desde o ano passado, tem lapidado silenciosamente a sua base política no cenário nacional, o que muitos vêem como uma tentativa de sucessão.

Sara Duterte seria a candidata “mais forte” para o cargo porque compartilha a “conexão com o povo” do pai, disse no mês passado a senadora Imee Marcos, filha do falecido ditador Ferdinand Marcos. Também Salvador Panelo, porta-voz de Rodrigo Duterte, afirmou que “não ficará surpreso” se Sara Duterte se tornar presidente.

Embora o Presidente tenha outros três filhos – um deles, Paolo Duterte, é representante no Congresso – Sara é vista como a única herdeira do seu legado político.

Government of the Philippines / wikimedia

Rodrigo Duterte presta juramento como o 16.º presidente das Filipinas a 30 de Junho de 2016.

Os eleitores filipinos também gostam de dinastias políticas: dois dos três presidentes mais recentes são filhos de ex-presidentes. Ferdinand “Bongbong” Marcos Jr., por exemplo, filho do falecido ditador, disse ao Financial Times, em 2018, que ambicionava o cargo.

Embora Sara Duterte seja diferente do pai, uma vitória seria vista como o fortalecimento das políticas de um presidente que conta com o apoio de uma grande maioria de filipinos, mas tem sido criticado pelos ataques aos media e ao sistema judicial, e pela guerra contra as drogas, que já vitimou milhares de pessoas.

“Ela [Sara] é diferente o suficiente de [Rodrigo] Duterte para não entrarmos em pânico com a sua potencial candidatura, mas é semelhante o suficiente para garantir que os danos institucionais infligidos às nossas tradições democráticas liberais não sejam revertidos”, disse Richard Javad Heydarian, autor de um livro sobre Presidente filipino e um membro da Universidade Nacional de Chengchi, em Taiwan.

As especulações sobre a sucessão presidencial estão a crescer devido a relatos não confirmados de que Rodrigo Duterte, de 74 anos, está com problemas de saúde, referiu o OZY. O presidente não tem feito aparições públicas há alguns dias e permaneceu sentado durante para a entrega de diplomas na Academia Militar filipina, que ocorreu na semana passada, levantando-se da cadeira para entregar apenas dois.

O Presidente sofre da doença de Buerger, uma condição que causa inflamação nos vasos sanguíneos. Recentemente, recusou-se a confirmar ou a negar que tenha visitado um centro médico em Manila, a capital das Filipinas.

Se a sua saúde se tornar significativamente pior, isso intensificaria as questões sobre o herdeiro escolhido do Dutertismo, caraterizado pelo populismo que este criou no país.

Sebastian Duterte / Facebook

Os irmãos Sara, Paolo e Sebastian Duterte, com o pai, Rodrigo Duterte, ao fundo.

Sara Duterte, advogada, compartilha o estilo do pai, mas diferenciou-se durante mais de uma década na política, durante a qual trocou os papéis de prefeita e vice-prefeita com o pai.

Durante a campanha em 2016, quando Rodrigo Duterte fez uma piada amplamente criticada envolvendo a violação de um missionário que foi assassinado, Sara Duterte disse que ela também havia sido vítima de violação. Devido a isso, mas não só, é vista como uma defensora dos direitos das mulheres e dos pobres.

“Ela [Sara] é uma personalidade política por si mesma”, notou Ramon Casiple, diretor executivo do Instituto de Reforma Política e Eleitoral. “Há uma percepção entre muitos de que ela é melhor que o pai, mais organizada”.

Uma candidatura de Sara Duterte beneficiaria do quase desaparecimento da oposição liberal na cena política das Filipinas, abalada nas eleições de 2016 e dizimada nas eleições de meio de mandato, que ocorreram em maio.

Em 2018, Sara Duterte formou o seu próprio partido político – Faction for Change -, num movimento que os analistas dizem que vai reforçar a sua base nas regiões mais externas das Filipinas. Este é um elemento essencial da busca por um cargo mais alto em 2022, referiu o OZY.

No entanto, mesmo com uma base eleitoral crescente e o legado do pai, nunca foi posta à prova numa eleição nacional, e haverá outros candidatos. Os jornalistas filipinos já começaram a investigar a riqueza de Sara Duterte e a do seu marido, o advogado Mans Carpio, um assunto que provavelmente ressurgirá em qualquer campanha.

“Acho que ela [Sara] tem boas perspetivas políticas por causa do pai”, afirmou Antonio La Viña, professor de direito e política na Escola de Governo Ateneo. “Essa é a única razão pela qual é uma candidata: porque é a filha do presidente, e o presidente tem o controle de todas as instituições – legais, governamentais e políticas – nas Filipinas”, acrescentou.

TP, ZAP //

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