A sessão solene comemorativa do 25 de Abril no Parlamento teve, pelo segundo ano consecutivo, restrições devido à pandemia de covid-19.
Coube ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, fazer a primeira intervenção, tendo apelado aos deputados dos diferentes partidos para que se ultrapassem bloqueios políticos e honrem o legado dos constituintes.
“Neste dia, quero evocar todas e todos quantos, oriundos de projetos ideológicos tão distantes e quase incompatíveis, souberam convergir no essencial, elaborando e aprovando o ambicioso programa social, económico e político que foi a Constituição da República Portuguesa de 1976, cuja entrada em vigor aconteceu neste dia, há precisamente 45 anos. Uma Constituição que possibilitou uma grande multiplicidade de soluções de Governo e, mais que tudo, uma Constituição que garantiu estabilidade política”, sustentou.
“É essa lição, plena de atualidade, e a experiência histórica da Assembleia Constituinte que hoje, num quadro de pandemia, quero e devo recordar, afirmando a importância de todos sermos parte da solução. Representando a diversidade e a pluralidade da sociedade portuguesa, é nossa obrigação honrar o legado dos constituintes, e das treze Legislaturas que se seguiram, ultrapassando bloqueios e traduzindo em lei as soluções para os problemas do país, e para os muitos, e cada vez mais exigentes, desafios com que nos deparamos e que teremos ainda pela frente”, declarou o antigo líder do PS.
A primeiras palavras de Ferro Rodrigues foram para se referir à atual situação de estado de emergência por causa da covid-19, considerando que agora há um “horizonte de redobrada esperança” com as diferentes vacinas.
“Foi um ano de combate, em que os profissionais de saúde e todos os que permitiram que o país não parasse merecem reconhecimento nacional. Foi um ano com muitas vítimas, até ontem 16.957, que homenageámos nesta Assembleia da República há três dias.”
O presidente da AR aproveitou ainda o seu discurso para fazer uma advertência sobre o atual debate em torno de uma lei referente ao enriquecimento injustificado.
“Os titulares de cargos públicos e políticos têm de participar e decidir para aperfeiçoar a legislação sobre eles próprios, tendo como base as alterações concretizadas em 2019. Mas, atenção: não há donos da transparência, nem é aceitável nenhuma lógica que ponha os eleitos, os magistrados judiciais, os procuradores, como suspeitos à partida”, declarou. Uma posição em que foi aplaudido sobretudo por deputados do PS.
“É na Assembleia da República que são aprovadas as leis estruturantes para o país. É aqui que, de forma transparente, a ação do Governo é diariamente fiscalizada e escrutinada. É aqui que têm palco os principais debates políticos nacionais”, disse, antes de deixar mais um desafio aos deputados.
Segundo Ferro Rodrigues, “exige-se um maior envolvimento com os cidadãos, uma progressiva aproximação aos cidadãos, uma aproximação de eleitos e eleitores, no duplo sentido”.
“É preciso que todos tenham consciência disso, começando por todos nós, que servimos as portuguesas e os portugueses nesta Assembleia. O trabalho e o exemplo ao ser, de longe, no conjunto das instituições, a mais transparente, mais escrutinada, mais escrutinável.”
O presidente da AR acentuou depois que “a Revolução de Abril trouxe inúmeras conquistas, e pese embora ter posto fim ao analfabetismo brutificante a que, até então, se assistia, não logrou ainda erradicar, em Portugal, as ideias e os valores que caracterizaram aquele período negro da história, muitos deles adormecidos desde então”.
“Uma das grandes virtudes da democracia e da liberdade é a de permitir a convivência entre todos os credos políticos, incluindo os antidemocratas. Nas redes sociais, os promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias, de mentiras, contam-se por muitas centenas, e atingem milhões de alvos. As caixas de comentários de alguns órgãos, ditos de comunicação social, são um esgoto a céu aberto. Esta não é uma realidade apenas nacional. Muito pelo contrário”, declarou.
Para Ferro Rodrigues, são “sinais de regressão, como os identifica o Papa Francisco, que nos alerta para novas formas de egoísmo e de perda do sentido social, mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”.
“Não é fácil combater o discurso simplista dos antidemocratas. Não é fácil combater a desinformação, a mentira, o medo. Mas sei, no entanto, que a democracia de Abril é suficientemente resiliente para resistir a esta investida, e robusta o suficiente para a combater”, sustentou, recebendo palmas de parte dos deputados.
No entender de Ferro Rodrigues, está-se perante “um combate em que os partidos democráticos são fundamentais”.
“São eles parte da muralha que nos deve defender dos avanços da intolerância, da xenofobia, do ódio. Um combate em que o fortalecimento do Estado de Direito e a responsabilização de todos os protagonistas são absolutamente essenciais. Um combate em que é fundamental uma comunicação social livre, isenta e credível, capaz de informar factos, com verdade”, acrescentou.
ZAP // Lusa
O maior favor que este ser poderia fazer à democracia era reformar-se e desaparecer da vida pública. Será que ele ainda não percebeu que praticamente nenhum português gosta dele? E que cada intervenção que faz traduz-se num aumento imediato das intenções de voto em partidos como o chega?!