Faturas falsas com a Sabseg e milhões em direitos televisivos. Os desvios da família Altice

(cv) Altice

Filha, genro e irmão de Hernâni Vaz Antunes estão sob mira na Operação Picoas, que prevê esquemas de contratos de direitos televisivos e faturações falsas com a Sabseg que terão originado milhões de euros ilícitos. Alguns já pedem nacionalização.

Um dia depois de Alexandre Fonseca ter suspendido funções executivas e não executivas no grupo Altice, a cúpula da empresa de telecomunicações é atingida em cheio pela Operação Picoas, com suspeitas, por parte do Ministério Público (MP), do envolvimento de novas entidades que se estendem ao mercado norte-americano, onde a Altice também está estabelecida.

O MP suspeita que os esquemas empresariais que envolvem o co-fundador da Altice, Armando Pereira, e o seu braço direito, Hernâni Vaz Antunes — detido esta semana após buscas à sua residência em Braga — têm ramificações noutros países como os EUA, mercado onde o genro de Pereira, Yossi Benchetrit, detém uma fornecedora de fibra óptica da Altice USA, Excell Communications.

Yossi será, avança o Público, responsável de compras na Altice USA e pode mesmo estar envolvido nas participações cruzadas em torno do universo Altice.

Desvios de milhões em direitos televisivos

A filha de Hernâni Vaz Antunes, Jéssica Antunes, também terá desviado vários milhões de euros dos contratos da venda dos direitos televisivos, acordados entre a Altice e clubes da primeira liga de futebol portuguesa, avança o JN.

No espaço de um ano, entre 2016 e 2017, esse dinheiro terá gerado cerca de cinco milhões de euros ilícitos, através de comissões de prestação de serviços. Tudo com a alegada ajuda do empresário Bruno Macedo, que terá combinado com Jéssica a partilha de ganhos milionários através de um contrato fictício de consultadoria que seria prestada à BM Consulting — detida por Macedo — por uma empresa por si controlada, a Jana Trading.

Empresas fantasma controladas por Armando Pereira e por Hernâni Vaz Antunes e estabelecidas nas Arábias, estavam entre as várias entidades que absorveriam esse dinheiro.

Sabseg debaixo de olho

A patrocinadora da I Liga, a corretora de seguros Sabseg, também poderá estar envolvida nos negócios ilícitos de Hernâni Vaz Antunes, de acordo com o Correio da Manhã.

Um esquema de faturação falsa com o empresário estará na mira do Ministério Público, com a Maratona Vanguarda, empresa que controla, a gerar as ditas faturas para a Sabseg sob a condição de continuar a ser fornecedora da Altice.

No espaço de 5 anos (2017-2022), o MP acredita ter havido “faturação de conveniência” no valor de 8,1 milhões de euros. Empresa seria participada pelo irmão de Hernâni Vaz Antunes, Joaquim Vaz Antunes.

O mesmo esquema seria replicado noutras empresas. É o caso da Guardian Calculus, sociedade controlada por Hernâni Antunes, que também terá entregado faturas à Sabseg.

A Sabseg negou qualquer aquisição de faturas falsas, quando confrontado pelo jornal.

Vem aí mais uma nacionalização?

A CEO da Altice Portugal, Ana Figueiredo, já reuniu esta quinta-feira com sindicatos e comissão de trabalhadores, onde sublinhou que a empresa é “vítima” neste caso e afastou qualquer necessidade de alteração estrutural na empresa, lembrando que já foi pedida uma auditoria a uma entidade externa. No entanto, há quem já peça a nacionalização da entidade.

Manuel Gonçalves, presidente do Sindicato das Telecomunicações e Audiovisual (SINTTAV) confirmou, segundo o Dinheiro Vivo, que o sindicato vai “emitir um comunicado esta semana a exigir ao governo que nacionalize o que resta da PT”.

Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes deverão ser ouvidos esta terça-feira pelo juiz de instrução criminal no âmbito da Operação Picoas. Jéssica Antunes já  foi ouvida pelo juiz Carlos Alexandre.

Os três e o economista Álvaro Gil Loureiro — que gere a Mind Partners, uma empresa sócia da sociedade Smartdev que comprou um dos prédios que pertenceu à antiga Portugal Telecom — encontram-se detidos.