A falta de dinheiro leva os portugueses a faltar a consultas previamente marcadas em hospitais e centros de saúde públicos. No ano passado, os pacientes faltaram a mais de meio milhão de consultas por causa dos custos dos transportes.
Elaborado desde 2014, o trabalho da NOVA Information Management School (NOVA-IMS), da Universidade Nova de Lisboa, incluiu pela primeira vez a análise do impacto dos custos de transporte no acesso aos cuidados de saúde.
Assim, de acordo com esta análise, foi possível verificar que, no que se refere às consultas externas, nos hospitais, este impacto é quase o dobro do dos custos das taxas moderadoras.
Segundo o estudo, ficaram por realizar 539.824 consultas externas/especialidade nos hospitais públicos devido aos custos de deslocação e 260.905 devido à conjugação dos custos de transporte com as taxas moderadoras.
O coordenador principal do estudo, em declarações à Lusa, sublinha que “as consultas, os exames e os episódios de urgência perdidos por via do valor das taxas moderadoras tem vindo a diminuir“, o que mostra que as questões relacionadas com o preço da utilização do sistema têm vindo a ser menos relevantes.
Pedro Simões Coelho considerou ainda “muito importante” esta vertente do custo dos transportes e frisou que, embora não seja uma realidade intrínseca ao sistema, “tem de ser considerada pois há determinadas franjas da população para as quais estes custos da deslocação devem merecer uma particular atenção”.
Por realizar ficaram 539.824 consultas externas/especialidade nos hospitais públicos por causa dos custos de transporte e 254.568 por causa do preço das taxas moderadoras.
Já os dois motivos em conjunto (valor das taxas moderadoras e o custo da deslocação) fizeram com que não se realizassem 260.905 consultas externas nos hospitais, o que faz ascender a um milhão o número de consultas por realizar nos hospitais por todos estes motivos.
Já no que diz respeito às consultas com um médico de clínica geral ou com o médico de família num centro de saúde, o peso do custo dos transportes nas consultas por realizar (253.318) é menor do que o das consultas nos hospitais. Nos centros de saúde, o motivo que levou à não realização de um maior número de consultas (439.997) foi o custo das taxas moderadoras.
Alem disso, cerca de 13,5% dos inquiridos admitiram não ter recorrido às urgências devido ao custo das taxas moderadoras, resultando em 908.631 episódios de urgência por concretizar.
Embora considerem os preços das taxas moderadoras adequados, os portugueses mantêm uma perceção errada dos valores, uma vez que estimam custos acima dos reais. De acordo com este trabalho, há uma diferença entre o valor que os portugueses julgam que custa (11,32 euros) e o que realmente custa (7 euros) a taxa moderadora para uma consulta externa/especialidade num hospital público.
“Quando analisamos a importância da taxa moderadora no acesso ao sistema faz sentido perceber se as pessoas sabem quanto custa e se os valores se aproximam da realidade, para perceber se vale a pena atuar sob o ponto de vista da comunicação”, explica Pedro Simões Coelho.
“O que estimamos é que ao nível das consultas de cuidados primários em centros de saúde e dos episódios urgência as pessoas têm noção exata do preço. Mas, ainda assim, há 10% que acha que existe taxa moderadora para o internamento, que não existe, o que mostra que há um desalinhamento relativamente à realidade”, acrescentou.
// Lusa