“Façam as malas e saiam”. Ataques diários em Kharkiv forçam retirada de crianças

Bombardeamento russo constante é demasiado perigoso para cerca de mil crianças. Equipas de evacuação arriscam as suas vidas, mas há famílias que não querem sair. Em Kherson não há blindados suficientes para transportar as cerca de 800 crianças em segurança.

As autoridades ucranianas vão retirar as crianças do distrito de Kupiansk, na linha de frente da província de Kharkiv, no nordeste do país, onde as forças russas têm realizado diariamente intensos ataques para recuperar o território.

Os funcionários dizem que muitas crianças estão a viver sob bombardeamento quase constante e insistem que agora é demasiado perigoso para elas permanecerem em casa. Acompanhados por agentes da polícia — com o poder de forçar as famílias a fugir — estão agora a ir de porta em porta para persuadir os pais a saírem com os seus filhos.

Cerca de 1.000 crianças de áreas próximas à linha da frente vão ser retiradas, à medida que a Rússia intensifica os ataques, segundo a BBC.

“Estamos a preparar uma ordem de retirada forçada de famílias com crianças de dez localidades”, disse à televisão estatal o chefe da Administração Militar desta província, na fronteira com a Rússia, Oleg Siniegubov.

As localidades situam-se no distrito de Kupiansk, onde a Rússia lança ataques diários e onde se registam combates pesados. De acordo com os dados de que dispõem as autoridades ucranianas, 275 crianças vivem nas localidades de Kharkiv a evacuar.

Todas as crianças retiradas devem ser acompanhadas por um dos pais ou outro familiar ou tutor autorizado, acrescentou Siniegubov, que adiantou estar a evacuar outras zonas da frente sob sua responsabilidade.

Famílias não querem sair. Não há blindados suficientes

Algumas famílias ainda estão relutantes em deixar as suas casas, apesar do perigo e desconforto acrescidos de viver sob ataques inimigos quase constantes.

“Há diferentes casos”, disse Oleksandr Tolokonnikov, porta-voz da administração regional de Kherson. “Por exemplo, quando as famílias se barricam dentro de casa. Claro que a polícia não arromba portas. Eles falam com as pessoas. Mostram vídeos às pessoas do que acontece se o projétil atingir, com crianças mortas e feridas. É mais um trabalho psicológico.”

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, disse que as equipas de evacuação estão a arriscar as suas vidas e apelou aos pais para estarem prontos: “Se forem avisados sobre a evacuação, por favor, não demorem, façam as malas com as coisas mais necessárias, os vossos documentos, e saiam.”

No entanto, também reconheceu que as autoridades em Kherson não têm veículos blindados suficientes para transportar as crianças em segurança. Estima-se que cerca de 800 crianças vivam nas áreas afetadas e Vereshchuk disse que pediu ajuda a organizações internacionais.

800 crianças é muito, e precisamos de as retirar o mais rápido possível.”

As crianças de Kharkiv têm vindo a ser severamente afetadas pela invasão russa. É na província que nasce a primeira escola debaixo do solo do país, com o objetivo de permitir que as crianças prossigam com a sua educação apesar da continuidade dos ataques russos.

Mais de 1300 escolas foram totalmente destruídas na Ucrânia desde a invasão russa. Segundo um relatório da Unicef do mês passado, apenas um terço das crianças iam às aulas pessoalmente e muitas esqueciam o que lhes era ensinado, em fases de ataques consistentes.

A Ucrânia, apoiada pelo Ocidente, tem estado envolvida numa contraofensiva no leste e no sul desde junho, mas até agora apenas produziu resultados limitados.

Desde novembro de 2022 e da libertação da cidade ucraniana de Kherson (sul), a linha da frente, com mais de mil quilómetros de extensão, quase não se moveu.

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e anexou regiões, que representam quase 15% do território da Ucrânia, incluindo Donetsk e Lugansk, no leste, Kherson e Zaporijia, no sul.

Teme-se que Moscovo planeie ataques a infraestruturas críticas à medida que o inverno se aproxima.

ZAP // Lusa

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