“Fábrica de medicamentos”, implantada em ratos, retira tumores numa semana

3

Entre os muitos desafios no tratamento de tumores, está a dificuldade em levar os medicamentos anti-cancerígenos aos locais certos, nas quantidades certas.

Um novo tipo de implante, desenvolvido na Universidade de Rice, aborda estas duas questões, transportando a maquinaria das células necessária para produzir e entregar doses contínuas de compostos anti cancerígenos.

O novo implante realiza esta tarefa com tal potência, que conseguiu retirar 100% dos tumores em ovários em ratos, no espaço de uma semana.

O dispositivo foi apresentado num novo estudo, publicado este mês na revista Science Advances.

Os bio engenheiros por detrás desta nova promissora forma de tratamento imunossupressor do cancro descrevem-no como uma “fábrica de medicamentos“, na medida em que, uma vez instalada, pode continuar a gerar os compostos necessários para eliminar os tumores por si só.

Segundo a New Atlas, os implantes consistem em pequenas contas do tamanho de uma cabeça de alfinete, que são envolvidas com células cuidadosamente selecionadas e encerradas dentro de uma concha protetora.

As células dentro deste grânulos, são concebidas para produzir um composto natural chamado interleucina-2, uma citocina que faz com que os glóbulos brancos entrem em ação para combater o cancro.

Estes grânulos foram testados pela primeira vez em experiências de laboratório, tendo sido colocados ao lado de tumores dentro de um peritoneu, uma membrana que forma o revestimento da cavidade abdominal.

Ests “fábricas de medicamentos” mostraram ser capazes de gerar seletivamente uma concentração de interleucina-2 dentro dos tumores.

As experiências seguintes foram realizadas em modelos avançados de cancro nos ovários e cancro colorretal em ratos. As contas voltaram a funcionar excecionalmente bem, erradicando os tumores nos roedores em apenas seis dias.

É importante notar que apenas fornecem concentrações elevadas dos medicamentos no local do tumor e exposição limitada noutros locais, evitando o risco de toxicidade para as células saudáveis.

“Só administramos uma vez, mas as fábricas de medicamentos continuam a fazer a dose todos os dias, onde é necessária até que o cancro seja eliminado“, disse o bioengenheiro Omid Veiseh, autor principal do estudo.

“Uma vez determinada a dose correta — quantas fábricas seriam precisas — conseguimos erradicar tumores em 100% dos animais com cancro nos ovários e em sete de oito animais com cancro colorretal”, explicou.

A concha protetora desempenha um papel importante na função das fábricas de medicamentos, e não apenas em manter o seu conteúdo seguro.

Esta carapaça é feita de materiais que o sistema imunitário reconhece como estranhos, mas apenas como uma ameaça que precisa de ser tratada após um certo período de tempo. Isto assegura que o tratamento não continue indefinidamente.

“Encontramos reações de corpos estranhos de forma segura e robusta, desligando o fluxo de citocinas das cápsulas no prazo de 30 dias”, disse Veiseh.

“Também demonstrámos que podemos administrar com segurança um segundo curso de tratamento caso se torne necessário na clínica”.

Quando se propuseram a conceber estas fábricas de medicamentos, os cientistas tiveram o cuidado de utilizar apenas componentes que já tinham dado provas como seguros para utilização no corpo humano.

A interleucina-2 é também um tratamento aprovado pela FDA para cancro, e a equipa diz que esta nova tecnologia é capaz de induzir uma resposta imunitária mais forte que os tratamentos existentes, devido à sua capacidade de fornecer concentrações elevadas diretamente nos locais de tumor.

“Neste estudo, demonstrámos que as ‘fábricas de medicamentos’ permitem uma administração local regulável da interleucina-2 e a erradicação do tumor em vários modelos de ratos, o que é muito excitante”, disse Amir Jazaeri, co-autor do estudo. “Isto fornece uma forte fundamentação para os testes clínicos”.

De acordo com a equipa, a tecnologia poderia ser adaptada para ser utilizada contra outros cancros, envolvendo os grânulos com diferentes tipos de células para induzir diferentes respostas imunitárias.

Inês Costa Macedo, ZAP //

3 Comments

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.