França, Itália, Alemanha, Suécia, Espanha… e com Portugal na expectativa. O desejo de Orbán está a concretizar-se. Áustria é caso particular.
“Gostaríamos de ver a Europa virar à direita“.
Há poucos dias, este desejo foi dito publicamente por Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria.
Orbán, do partido nacionalista húngaro Fidesz, tinha acabado de falar com o presidente do VOX, Santiago Abascal.
Hungria e Espanha são dois dos países que, ou já são dominados pela direita a nível político, ou estão a virar para a direita nos últimos tempos.
Espanha vs. Portugal
As eleições municipais e regionais em Espanha, no final do Maio, ditaram uma derrota clara dos socialistas, o PSOE. O Governo de esquerda ficou fragilizado, vêm aí eleições antecipadas.
Já em Julho, prevê-se que o já mencionado VOX tenha um papel fundamental na formação do novo Governo – ao lado do PP, caso o partido de direita vença.
Por cá, apesar das diferenças em vários contextos entre Portugal e Espanha, Luís Montenegro e André Ventura estão atentos. Pode ser um “laboratório“, uma experiência para ser repetida no país ao lado.
Não há eleições em Portugal neste ano (pelo menos para já, nada marcado) mas sondagens de 2023 mostram que o PSD já está à frente do PS. E, olhando para as intenções de voto, é mais provável ser formado um Governo à direita do que à esquerda, com acordos pós-eleitorais.
Extrema-direita na Europa
A estação turca TRT avisa: a presença da extrema-direita na Europa está a aumentar.
O “perigo” aumenta na Alemanha, com o caso da Alternativa para a Alemanha (já lá vamos).
Em França, no ano passado Marine Le Pen perdeu mas a extrema-direita aumentou muito o seu número de votos, apesar da vitória de Emmanuel Macron.
Na Suécia o Partido Democrata da Suécia, de extrema-direita, é o segundo maior partido do país nórdico, com 20,5% dos votos nas últimas eleições.
“Normalizar”
A extrema-direita cresce e, mais do que isso, passou a normalizar-se a presença da extrema-direita na política, avisa o jornal The Guardian. O muro entre as forças tradicionais e a extrema-direita está a cair.
E, nesse artigo, recorda-se o fenómeno Donald Trump: a partir do momento em que Trump se tornou presidente dos EUA e se tornou “normal”, ficou a sensação que casos semelhantes iriam aparecer de seguida. Nos EUA, 40% dos habitantes já admitem uma guerra civil na próxima década.
A normalização chegou à Europa, nestes últimos anos. O exemplo da Áustria: quando o Partido da Liberdade (cujo líder tinha simpatia pelo regime nazi) integrou uma coligação governativa, acumularam-se protestos em Viena, na Europa, nos EUA e houve sanções diplomáticas.
Isso foi há 20 anos.
Em 2017, quando o mesmo partido fez parte de uma coligação em 2017, quase nem houve protestos.
Hoje, o mesmo Partido da Liberdade acumula vitórias em eleições autárquicas, lidera as sondagens nacionais e deverá mesmo liderar o próximo Governo.
O portal Social Europe também destaca este “normalizar da extrema-direita” no continente.
Alemanha: porquê?
Na Alemanha, o Alternativa para a Alemanha (AfD) não lidera o Governo nacional mas uma sondagem recente mostrou que, se as eleições fossem hoje, o AfD seria o segundo partido mais votado (19%), quase ao nível dos sociais democratas, que governam o país.
Uma política anti-imigração, anti-políticas ambientais. Que pode conduzir ao sucesso em três Estados alemães, no próximo ano, aponta a agência Reuters.
O jornal Bild lança a questão: porque está a decorrer esta mudança para a direita na Alemanha?
O SPD, partido social democrata alemão, “celebra o dinheiro do cidadão e o salário mínimo”.
O FDP, partido democrático-liberal, quer orçamento apertado, reforma ferroviária e novos naming rights.
E os verdes estão a “espalhar” o aquecimento, centrando-se na política externa, nas mulheres e no clima.
Já entre o AfD dá-se prioridade a outros assuntos: imigração, clima ou política económica… tudo com base no medo.
No geral (não só na Alemanha), a História mostra-nos que as facções de extrema na política aumentam em momentos de maior insegurança económica ou social. Ou ambas. Ou em países com maior desigualdade social. A extrema-direita apresenta-se como a “salvadora”, que vai “pôr ordem no sistema”.
Voltando à Alemanha, o número de eleitores insatisfeitos está a aumentar. Sobe também a sensação de que a política em Berlim tem cada vez menos a ver com o mundo real dos cidadãos. Há cada vez mais alemães que não se sentem representados no Governo central.
E, segundo o jornal, o facto é este: a maioria dos alemães rejeita assuntos como política de género e identidade.
É um “alarme” na Alemanha chamado extrema-direita, segundo o Politico.
Áustria, a república desleixada
Para o fim, um extra. Que podia ser uma anedota, mas que é mais um episódio que diminui a credibilidade nos partidos políticos tradicionais.
Na Áustria, há uma semana, houve eleições internas no Partido Social Democrata. À segunda volta, foi encontrado o vencedor…à segunda.
Hans Peter Doskozil foi anunciado como vencedor, levando a melhor sobre Andreas Babler. 53% contra 46% do adversário.
No domingo, os resultados divulgados eram esses. Na segunda-feira, os resultados foram inversos: vitória para Babler, derrota para Doskozil.
Erro no Excel, alegou o partido.
E, curiosamente, só houve recontagem dos votos porque um jornalista reparou que havia 316 votos contabilizados para um candidato e 279 para o outro, com um total de 596. Mas 316+279=595. O número total de votos não reflectia os dois conjuntos dos candidatos, faltava um voto. Nessa recontagem, verificaram que estava tudo ao contrário.
“Uma desculpa ridícula”, lê-se no Der Spiegel. Porque a tecnologia não iria cometer este erro sozinha.
A desconfiança no centro-democrático aumenta na Áustria, uma “república das bananas” ao longo dos últimos anos. Ou uma “república desleixada”, como se lê no título.
Além disso, “este nível de opereta pode ter consequências perigosas” – as franjas radicais ganham eleitores.
Os partidos demagogos têm vindo a conquistar espaço na Europa. Na minha humilde opinião este facto resulta de: imigração descontrolada; esgotamento do atual modelo democrático; ineficiência e ineficácia da justiça; alguma incapacidade de comunicar eficazmente a necessidade de algumas decisões menos populares (aumento da idade de reforma); ausência de lideranças fortes e carismáticas na generalidade dos países da UE; incapacidade geral de levar os melhores ao desígnio de gerir a coisa pública. Estes são apenas alguns dos motivos. Outros haverá. No estado a que chegámos, é fácil a qualquer demagogo vender a banha da cobra prometendo simultaneamente melhores salários e preços mais baixos, menos contribuições e impostos e melhores serviços públicos. O modelo democrático existente está a esgotar-se. De resto, pouco sentido faz a representação popular manter-se através de um modelo arcaico. Na minha opinião, urge estimular uma maior participação dos cidadãos através do referendo num maior número de matérias e com maior frequência. De igual modo, é urgente criar mecanismos para uma justiça independente e que salvaguarde o estado democrático ao punir exemplarmente os incumpridores. É ainda necessário assegurar mecanismos de penalização do dumping social e do dumping ambiental. É ainda preciso criar condições para estimular uma maior natalidade na UE.
O amigo tem um pensamento muito interessante. Partilho grande parte das ideias que aqui costuma partilhar. Uma vez mais estou totalmente de acordo consigo.
Numa notícia destas e não haver uma referência ao caso italiano….