O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, justifica que tem uma política “não discriminatória” e que a responsabilidade do conteúdo é da organização da exposição.
O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, teve em exibição até terça-feira uma exposição sobre psiquiatria, que tinha como objetivo expor aquilo que dizem ser “factos que destroem vidas e famílias” relacionados com a prática psiquiátrica.
Segundo o Expresso, no interior do Coliseu de Lisboa são apresentados casos, o holocausto e o racismo são associados a teorias psiquiátricas e o médico Egas Moniz é considerado uma das “mentes mestras da destruição”. Na exibição, a psiquiatria é definida como “uma indústria de morte”.
Contactada pelo semanário, a Ordem dos Médicos fala no risco de desinformação e da partilha de dados sem validação. A Ordem admite que uma exposição desta natureza é um risco, mas lembra que os movimentos antipsiquiatria não são novos.
“É um tema requentado dos Congressos Mundiais de Psiquiatria, há sempre e este ano, como o congresso é em Lisboa, a exposição está cá”, refere Miguel Bragança, presidente do Colégio de Psiquiatria da Ordem.
“Existem movimentos de origem duvidosa, encapuzados, e cujo objetivo a longo prazo se desconhece. Estes movimentos também criticam muito a hipermedicalização e os tratamentos prescritos. É o preço a pagar por vivermos numa sociedade livre, até porque sem liberdade não há saúde mental. É um grande risco ter uma exposição destas? Sim, indiscutivelmente”, diz.
O Coliseu dos Recreios remete para a entidade organizadora, a Comissão de Cidadãos para os Direitos Humanos (CCHR), a responsabilidade sobre a exposição. Questionado pelo Expresso, o porta-voz daquela sala de espetáculos justifica apenas que a política do Coliseu não é discriminatória.
“A política do Coliseu dos Recreios é não discriminatória, sendo da responsabilidade exclusiva das entidades promotoras o respetivo conteúdo. Razão porque as suas questões devem ser direcionadas para a entidade que nos solicitou a cedência do espaço”, refere a nota enviada ao matutino.
A organização, na voz de Graça Ribeiro, médica de clínica geral e a responsável pela filial da Comissão de Cidadãos para os Direitos Humanos (CCHR), garante que não tem uma abordagem extrema, mas defende que há um “exagero” daquilo que a chama “uma época dos comprimidos para tudo”.
“Não advogamos: não tome a medicação. Queremos é que as pessoas tenham a livre opção de tomar ou não porque cada um sabe de si e toma as suas decisões. Por exemplo, as pessoas de idade levantam-se para ir à casa de banho, estão com medicação forte para dormir. Se caem a meio da noite, partem o colo do fémur. A maior parte deles parte o colo do fémur a meio da noite por causa disso. Desequilibram-se, perdem a força porque estão meio a dormir”, afirma.
A sala do Coliseu foi alugada pela Comissão de Cidadãos para os Direitos Humanos (CCHR) durante uma semana – de 20 a 27 agosto – por valores que não são revelados.