Sim, a arte visual pode existir sem ser explicitamente vista. Basta olhar para a “Dreamachine”, uma nova exposição em Londres.
Uma nova e obra de arte do tamanho de um sala acabou de ser inaugurada em Londres, mas ninguém a vai ver. Ou, pelo menos, não com os olhos abertos.
Chamada “Dreamachine“, esta obra de arte é um espetáculo de luz cuidadosamente orquestrado, destinado a ser vivido com os olhos fechados.
Através de padrões de luz cintilantes e uma banda sonora que os acompanha, a “Dreamachine” gera uma experiência visual que não requer que os olhos estejam abertos. Algo como uma mistura de alucinação e imaginação, o espetáculo será diferente para cada pessoa que assista.
Como obra de arte, os criadores afirmam ser a primeira peça do mundo destinada a ser experimentada de olhos fechados, segundo a Fast Company.
Pode ou não ser esse o caso, mas o projeto defende o argumento sólido de que é possível que a arte visual exista, sem ser explicitamente vista.
“Dreamachine” é a continuação de uma obra de arte desenvolvida pela primeira vez nos finais dos anos 50 pelo artista e inventor Brion Gysin.
A obra era um abajur perfurado, criado para girar em torno de uma lâmpada, provocando um impulso rítmico de luz que, quando “visto” de olhos fechados, criaria uma espécie de experiência caleidoscópica para os espectadores.
Gysin via a sua “máquina dos sonhos” como uma ferramenta para as pessoas criarem as suas próprias experiências cinematográficas nos seus “olhos mentais”.
Esperava que as máquinas dos sonhos se tornassem salas de estar em todo o mundo, uma versão mais introspetiva do que o entretenimento disponível na televisão.
A substituição da TV pela máquina de sonhos de Gysin nunca se concretizou. Mas as ideias exploradas no seu aparelho tornaram-se material para a neurociência.
Os investigadores mostraram que o efeito da luz cintilante sobre a mente humana é uma força poderosa, e capaz de induzir experiências visuais realistas.
O fenómeno, conhecido pelos investigadores como “alucinações visuais estroboscópicas induzidas”, pode ser rastreado até aos nossos antepassados, que se reuniam em torno de fogueiras cintilantes.
Os impactos da luz no cérebro vão para além das áreas associadas à visão para todo o córtex cerebral — o centro físico da nossa consciência.
O projeto para transformar o conceito de Gysin numa obra de arte em grande escala foi liderado por Jennifer Crook, uma artista e diretora que trabalhou em projetos de arte com artistas como Christo e Olafur Eliasson.
Em contraste com a visão original de Gysin de um pequeno dispositivo que poderia ser colocado numa mesa de café ou numa sala de estar, a “Dreamachine” de Crook é o seu próprio espaço — um auditório — com assentos reclinados.