Praticar exercício físico é no geral algo positivo, independentemente da nossa condição. Contudo, um novo estudo concluiu que é tão benéfico que pode ajudar a combater o cancro do cólon — e mesmo “rivalizar” com tratamentos de quimioterapia.
A conclusão resulta de um ensaio clínico que analisou pacientes que já apresentavam o estágio 3 do cancro do cólon, ultimo estágio antes de o cancro se alastrar para outro órgão.
O estudo foi conduzido por investigadores do Canadá que analisaram 900 pessoas que tinham sido submetidas a cirurgia e quimioterapia para o cancro do cólon.
Após os tratamentos, os doentes foram divididos em 2 grupos; um aumentou as suas rotinas de exercício regular num programa de três anos que incluía orientação e supervisão, o outro recebeu apenas informações e orientações sobre práticas de saúde a adotar.
Os investigadores descobriram que o grupo que praticou exercício físico apresentava um risco 28% inferior de recorrência do cancro, desenvolvimento de novos cancros ou de morte a oito anos, em comparação com o grupo que recebeu orientações para a saúde.
O estudo, publicado no início deste mês no New England Journal of Medicine, mostrou que os pacientes que praticavam exercício apresentavam melhores resultados após somente um ano, e que os resultados continuavam a melhorar com o tempo.
O grupo de “exercício” apresentou uma taxa de sobrevivência a 5 anos sem cancro de 80,3% — um aumento de 6,4% em relação ao grupo de “educação”, que teve uma taxa de sobrevivência sem cancro de 73,9%.
A taxa de sobrevivência global, com ou sem cancro, durante os oito anos de acompanhamento do estudo, foi de 90,3% no grupo do exercício, em comparação com 83,2% no grupo da educação – uma diferença de 7,1 pontos percentuais.
O exercício reduziu o risco relativo de morte em 37% (41 pessoas morreram no grupo do exercício em comparação com 66 no grupo da educação). “A magnitude do benefício do exercício foi semelhante à de muitos tratamentos médicos que são aprovados atualmente”, observaram os investigadores.
Segundo a Ars Technica, as rotinas de exercício que permitiram obter esses benefícios substanciais não eram muito exigentes. Os participantes foram treinados para realizar qualquer exercício aeróbico recreativo de que gostassem, incluindo uma caminhada rápida.
A adição de caminhadas rápidas de 45 a 60 minutos três ou quatro vezes por semana, ou três ou quatro corridas de 25 a 30 minutos, foi suficiente para que muitos dos pacientes obtivessem melhoras no que toca as suas probabilidades.
Em geral, o objetivo era fazer com que o grupo de exercício ultrapassasse as 20 horas MET por semana. METs são Equivalentes Metabólicos de Tarefa, que representam a quantidade de energia que o seu corpo está a queimar em comparação com o seu estado de repouso.
Segundo os investigadores, uma caminhada rápida corresponde a cerca de quatro MET e o jogging a cerca de 10 MET. Para chegar às 20 horas MET por semana, um participante teria de fazer cinco horas de caminhada rápida por semana ou correr duas horas por semana.
Não é totalmente claro como é que o exercício mantém os cancros afastados, mas os resultados são consistentes com numerosos estudos observacionais que associaram maior atividade física a melhores taxas de sobrevivência a cancro.
Os investigadores têm várias hipóteses, incluindo a de que o exercício pode causar “aumento da tensão de cisalhamento dos fluidos, vigilância imunitária reforçada, redução da inflamação, melhoria da sensibilidade à insulina e uma alteração do microambiente dos principais locais de metástases”.
“Isto indica que o exercício tem um efeito tão forte como o anteriormente demonstrado pela quimioterapia, o que é realmente impressionante”, afirma Marco Gerlinger, especialista em cancro do tubo digestivo da Queen Mary University de Londres, citado pela Ars technica.
“Uma das perguntas mais comuns dos doentes é o que podem fazer para reduzir o risco de o seu cancro voltar. Os oncologistas podem agora fazer uma recomendação muito clara baseada em provas”, diz Gerlinger.
“Tendo trabalhado na investigação do cancro do intestino durante 30 anos, este é um avanço emocionante na melhoria gradual das taxas de cura”, diz por seu turno David Sebag-Montefiore, oncologista na Universidade de Leeds.
“O grande atrativo de um exercício estruturado de intensidade moderada é que oferece os benefícios sem a desvantagem dos efeitos secundários bem conhecidos dos nossos outros tratamentos.” afirma Sebag-Montefiore.