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Ex-funcionário da Everjets acusa empresa de recorrer a “toupeiras”

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Estela Silva / Lusa

Um antigo funcionário da empresa revelou que “como têm muitas toupeiras e avençados em muitos sítios, tomaram a decisão de usar outras pessoas para levantar caderno de encargos” para manutenção dos Kamov.

De acordo com o Público, foi no decorrer do julgamento dos vistos gold, que aconteceu esta segunda-feira, que um antigo funcionário da Everjets admitiu que a empresa recorria a “toupeiras” já há cerca de um ano, de forma a ultrapassar as firmas rivais.

O ex-funcionário contrariou também a tese do Ministério Público quando disse que o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, não esteve implicado na manipulação do concurso relativo aos Kamov.

O antigo governante, arguido neste processo, é acusado de ter favorecido a Everjets, cuja maioria do capital foi comprada pelo empresário de Braga Domingos Névoa, ao enviar-lhe, através do seu amigo Jaime Gomes, o caderno de encargos do concurso público internacional para a operação e manutenção de meios aéreos de combate a incêndios semanas antes da publicação do respetivo anúncio, em 2014.

Miguel Macedo tem-se justificado dizendo temer que o concurso ficasse deserto, por falta de concorrentes.

No final de agosto desse ano foram recebidas quatro propostas, tendo a Everjets ganho por apresentar o valor mais baixo: 46.077.120 euros.

Depois, subcontratou a congénere espanhola Faasa –  que está a ser investigada em Espanha por ter participado num escândalo de corrupção intitulado “Cartel do Fogo” – para alguns dos trabalhos que estiveram a concurso. O facto de a Everjets nunca ter levantado o caderno de encargos despertou suspeitas aos investigadores do caso dos vistos gold, revela o Público.

Para a concorrência não saber

O antigo funcionário esclareceu ainda em tribunal que a Everjets decidiu “usar outras pessoas para levantar o caderno de encargos para a concorrência não saber”.

E acrescentou ainda que quem estava a elaborar um desses cadernos de encargos eram  funcionários de uma concorrente da Everjets, a Heliportugal – em vez de ser o Estado, através de organismos seus tais como a Autoridade Nacional da Proteção Civil, como era suposto.

“Carlos Dantas, da Heliportugal, perguntou-me se a Everjets estava interessada em concorrer, porque estavam a preparar o caderno de encargos”, revelou o ex-funcionário.

O julgamento dos vistos dourados encontra-se neste momento na fase final, muito embora o procurador que representa o Ministério Público em tribunal, José Nisa, tenha tentado prolongá-lo, pedindo aos juízes para serem lidas em tribunal as declarações prestadas em fase de inquérito pela maioria dos arguidos.

Uma pretensão que suscitou a indignação dos advogados que defendem os suspeitos, por ter sido apresentada numa fase tão tardia do julgamento, e que o tribunal não acolheu. Seguir-se-á a fase de alegações finais, cujo início está marcado para o próximo dia 19 de março.

ZAP //

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