Centenas de polícias procuram Mohamed Amra, conhecido como “A Mosca”, depois de ter sido libertado por um grupo de homens armados, num ataque a uma carrinha prisional. Dois guardas morreram e três ficaram feridos.
Foi um ataque-relâmpago que demorou cerca de três minutos numa cena só habitual nos filmes e que deixou França em choque.
Um grupo de homens encapuzados libertou o criminoso Mohamed Amra que é conhecido como “A Mosca” e que terá ligações ao tráfico de droga.
O ataque de “indescritível selvajaria”, como o classifica o jornal francês Le Figaro, levou à morte de dois guardas prisioneiros – um tinha dois filhos e o outro deixa a mulher grávida de cinco meses. Outros três ficaram feridos.
Agora, continua a caça ao homem numa grande operação que conta com centenas de polícias mobilizados, com o apoio de meios aéreos. A Interpol também está alerta.
🚨 WANTED
A Red Notice has been issued at the request of 🇫🇷 French authorities for escaped prisoner Mohamed AMRA, alias ‘The Fly’.
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— INTERPOL (@INTERPOL_HQ) May 15, 2024
Fugitivo tinha tentado serrar as grades da cela
O ataque ocorreu em Eure, departamento da região da Alta Normandia, no norte de França, e foi feito com armas de guerra e de forma tão precisa que indicia o “profissionalismo” dos envolvidos.
Amra estava a ser deslocado da prisão de Évreux para o tribunal de Rouen para uma audiência com um juíz de instrução depois de, no passado domingo, ter tentado serrar as grades da sua cela para fugir.
A fuga acabou por dar-se de forma muito mais espectacular – e terrível.
Na evasão, participaram dois veículos, um dos quais tinha sido roubado alguns dias antes e que embateu numa das carrinhas prisionais. Nessa altura, homens armados, vestidos de preto e com a cara tapada, saíram dos carros e abriram fogo contra as duas viaturas prisionais.
O ataque ocorreu na auto-estrada A154, perto da portagem de Incarville, nesta terça-feira.
Entretanto, os dois carros usados no ataque foram encontrados queimados e estão a ser alvo de perícias forenses.
O caso está entregue “à nata da polícia” francesa, segundo o Le Figaro, incluindo a Brigada Nacional de Busca de Fugitivos, a secção anti-gangues e as brigadas de repressão ao banditismo de Rennes e Nantes.
Mas quem é Mohamed Amra, ou “A Mosca”?
Mohamed Amra, de 30 anos, é um criminoso reincidente com “uma longa ficha criminal”, como adianta o Le Figaro. Nascido em Rouen, no norte de França, já conta com 13 condenações – a primeira aconteceu quando tinha apenas 15 anos.
Na semana passada, foi condenado a 18 meses de prisão por roubo, mas é suspeito em vários outros casos, nomeadamente por homicídio cometido por gangue organizado, tentativa de homicídio e sequestro.
A agência Reuters confirmou junto de fontes policiais que Amra é considerado um “actor de nível médio no tráfico de drogas de França, com ligações ao poderoso gangue “Blacks” de Marselha“.
Estará também a ser investigado desde 2023, em Marselha, por “assassinato colectivo organizado, sequestro de reféns e participação em associação criminosa com vista à prática de um crime”.
Em 2022, foi condenado a três anos de prisão por associação criminosa e por roubo. Dois anos antes, em 2020, foi condenado a 3 meses de prisão por “rodeos motorizados”.
Apesar deste vasto “currículo” criminal, “A Mosca” não estava classificado como um recluso que precisasse de especial vigilância. Por isso, a sua transferência entre o tribunal e a prisão de Évreux só contou com a participação de cinco guardas prisionais.
“Vão pagar pelo que fizeram”
O caso deixou França consternada e o primeiro-ministro Gabriel Attal já deixou uma promessa. “Vão pagar pelo que fizeram”, assegurou, falando de um ataque à “ordem republicana” do país.
“Estamos atrás de vocês, vamos encontrar-vos e condenar-vos“, avisou ainda Attal num recado aos foragidos.
“Quando os questionarmos, também colocaremos em julgamento esta selvageria que afecta a nossa sociedade“, acrescentou o ministro do Interior, Gérald Darmanin, sublinhando que os franceses estão “chocados pela violência deste ataque”.
Darmanin referiu ainda que há “meios sem precedentes” no terreno para apanhar “A Mosca” e o grupo que o ajudou em “condições vis”.
O ministro também notou que a violência do tráfico de droga não é “só para filmes”. “Não há romantismo no tráfico, apenas assassinatos, massacres, crianças entre 14 e 15 anos que são torturadas em porões porque não querem causar estragos”, referiu aos jornalistas.
“Não podemos chorar pelas viúvas e órfãos da portagem de Incarville e continuar a fumar o nosso charro“, sublinhou também Darmanin, constatando que “o narco-banditismo mata muito mais do que o terrorismo”.
Extrema-direita fala em “quase guerra civil”
Foi a primeira vez, desde 1992, que um agente prisional morreu durante o exercício das suas funções, revelou o ministro da Justiça francês, Éric Dupond-Moretti, aos jornalistas.
A tragédia já está a ser aproveitada pela extrema-direita francesa para passar a sua mensagem contra a imigração.
Éric Zemmour, do partido Reconquista, falou do modo de actuação do grupo armado, notando que é idêntico a “operações de guerrilha” com ataques a “agentes do Estado”.
“Estamos numa situação de quase guerra civil”, atirou ainda, recusando a ideia de que esteja a “atiçar o fogo” e garantindo que está só a “descrever” o que se passa.
“O que vivemos há anos é esta guerra civil que está a ser travada contra nós por outro povo, outra civilização, que não tem a mesma relação com o indivíduo e com a violência que nós. Ela só conhece a lei do clã e a de Deus”, concluiu Zemmour na habitual retórica da extrema-direita.