A estratégia europeia em matéria de baterias está a ir por água abaixo, naquilo que é “uma demonstração primordial de arrogância e retórica inflacionada”.
A principal gigafábrica de baterias elétricas da Europa, a Northvolt, no norte da Suécia, faliu.
O Governo sueco recusou um resgate daquela que é a start-up tecnológica mais bem financiada da União Europeia (UE), com 15 mil milhões de euros de subsídios, empréstimos e capital.
Mas até a UE já terá perdido a paciência. Peter Carlsson, diretor executivo da Northvolt (que entretanto se demitiu), disse numa reunião à porta fechada, na presença de um jornalista do Telegraph, que a UE não tinha oferecido à sua empresa “um único centímetro de flexibilidade” em matéria de financiamento. Tal cenário, deixou bem patente os limites da UE nesta matéria.
“Se esta construção burocrática – dirigida por comissários da UE e que conta com uma verba de 180 mil milhões de euros – não consegue fazer da Northvolt um êxito, para que serve?”, questionou o jornalista Ambrose Evans-Pritchard.
A Comissão Europeia não tem os poderes de um verdadeiro governo para fazer aumentar a dívida e os impostos. O orçamento da UE é reduzido e os Estados-Membros estão em desacordo em tudo.
O Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos de Washington calculou que a China gastou 230 mil milhões de dólares em apoios estatais para alimentar o seu ecossistema de veículos elétricos. Bruxelas não tem nem o dinheiro nem o mandato legal para fazer o mesmo.
O recente relatório Draghi, citado pelo Telegraph, afirma que a UE precisa de uma emissão conjunta de dívida e de um investimento adicional de 800 mil milhões de euros por ano para restaurar uma competitividade mais alargada. Mas isso parece impossível.
Das duas uma: ou a UE põe dinheiro “a sério” e reafecta grande parte do PIB do bem-estar social para o rearmamento económico; ou aceita um acordo com a China, para salvar parte da sua indústria automóvel a baixo custo.
O Telegraph escreve que este cenário foi provocado por uma demonstração primordial de arrogância e retórica inflacionada. “Bruxelas pode, pelo menos, orgulhar-se de uma coisa: Tem a regulamentação sobre baterias mais avançada do mundo. É de louvar. Só faltam as baterias“.
Northvolt era sonho europeu
O projeto da Northvolt parecia fazer todo o sentido.
A Suécia tem um dos preços de eletricidade mais baixos da Europa, graças à energia hidroelétrica. A empresa era também a grande esperança daqueles que lutavam por uma Europa industrial musculada e totalmente soberana.
Nove anos depois da sua fundação, a empresa atingiu apenas 25% dos seus objetivos de produção semanal.
Catástrofe europeia
Neste momento, mais de metade dos grandes projetos de baterias da UE estão a ser adiados ou cancelados.
A Europa continua a depender quase só da China, Coreia do Sul e Japão no que se refere ao cátodo e ao ânodo, aos eletrólitos e aos separadores de poliolefina, que constituem o verdadeiro valor da cadeia de abastecimento de iões de lítio.
Atualmente, as empresas que produzem baterias na Europa são, na sua maioria, chinesas ou coreanas. A fábrica alemã da Tesla em Grünheide depende de baterias da rival chinesa BYD.
A Northvolt encerrou a fábrica de cátodos em setembro, transferindo o contrato de fornecimento para a Samsung SDI da Coreia do Sul.
China muito mais à frente
Entretanto, a China ganhou terreno e está a apostar a sério no futuro da tecnologia com as baterias de fosfato de ferro e lítio (LFP) – mais baratas e mais seguras.
Estas baterias não necessitam de cobalto nem de níquel e podem ser utilizadas no mercado de massas a um custo muito inferior.
Um relatório de abril da BloombergNEF aponta para um aumento contínuo da produção de LFP na China por parte de grandes fornecedores como a CATL, juntamente com a expansão da produção de fabricantes noutras partes do mundo, como a LG Energy Solution na Coreia do Sul.
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