O arrefecimento nas relações comerciais transatlânticas iniciado na era Trump veio para ficar, com a pandemia, as alterações climáticas e as políticas proteccionistas a agravar o fosso entre Washington e Bruxelas.
As relações comerciais entre os Estados Unidos e a União Europeia estão a mudar e as disputas estão a tornar-se mais difíceis de resolver. Esta nova era traz um foco mais existencial ao comércio, muito além de discórdias sobre a compra de frango lavado em cloro aos EUA, e veio para ficar.
A pandemia obrigou-nos a repensar o funcionamento das cadeias de abastecimento global em momentos de crise e as alterações climáticas estão a motivar apoios às indústrias verdes — e acusações de concorrência desleal — ao mesmo tempo que a competição da China continua ao rubro. Tudo isto está afastar cada vez mais os dois blocos, que estão a trocar a cooperação pela competição, relata o Politico.
“Este é um mundo diferente: o clima, as políticas económicas contra o mercado, vulnerabilidades na cadeia de abastecimento estão no topo das prioridades”, afirma Daniel Mullaney, ex-negociador dos Estados Unidos no comércio com a Europa.
A reunião entre os responsáveis norte-americanos e europeus na Suécia, na semana passada, deixou estas divergências ainda mais à vista. Este novo fórum começou já com Biden na Casa Branca, numa tentativa de reaproximar os dois blocos. Questões como as alterações climáticas e a evolução tecnológica estão agora intrinsicamente ligadas ao comércio e prometem complicar mais as negociações.
“A evolução nos últimos 10 anos foi alimentada por muitos factores diferentes e não vamos voltar atrás. Não é uma questão de a última administração saiu e agora podemos todos voltar a como as coisas eram antes e suspirar de alívio. As coisas já estavam a mudar, incluindo na Europa, ainda antes da última administração“, explica Mullaney, referindo-se às guerras comerciais criadas por Donald Trump.
O cenário era bem diferente há menos de uma década. Durante a administração Obama, Washington e Bruxelas fortaleceram uma parceria de comércio livre, mas a chegada de Trump à Casa Branca veio abalar estas relações, com a imposição de tarifas às importações de aço e alumínio. A UE retaliou impondo taxas às motas Harley e ao bourbon.
O crescimento dos movimentos nacionalistas na Europa também arrefeceu ainda mais as relações comerciais transatlânticas, com os partidos a exigir um maior proteccionismo às suas indústrias nacionais.
A presidência de Biden não mudou este cenário. Agora há vários choques entre os blocos, desde as restrições da União Europeia à compra de produtos agrícolas geneticamente modificados até à recente disputa por causa dos benefícios fiscais que os EUA estão a dar exclusivamente aos produtores americanos de energias renováveis e de carros elétricos.
Do outro lado, as empresas norte-americanas estão preocupadas com o Mecanismo de Ajuste de Carbono da UE, que permite aos 27 impor uma taxa nas importações de produtos vindos de países com leis ambientais mais relaxadas, desincentivando assim o outsourcing da produção para fora da Europa.
A perda de relevância da Organização Mundial do Comércio também não ajuda e a entrada da China acabou por não responder a nenhuma das acusações de concorrência desleal de que Pequim é alvo frequentemente.
“O mundo ficou muito feliz quando a China entrou na OMC porque a maioria das pessoas achava que a China ia mudar, mas foi a China que mudou a OMC até certo ponto”, explica Hugo Paemen, ex-embaixador da UE nos EUA.
Estupida q.b.
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“Mecanismo de Ajuste de Carbono da UE, que permite aos 27 impor uma taxa nas importações de produtos vindos de países com leis ambientais mais relaxadas, desincentivando assim o outsourcing da produção para fora da Europa.”
Deveria ser criado igualmente um mecanismo de ajuste para corrigir o dumping social promovido pelos países onde os trabalhadores poucos ou nenhuns direitos têm e cumprem longos horários de trabalho.