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Continuam os protestos em Myanmar. EUA tentaram falar com Suu Kyi, sem sucesso

Nyein Chan Naing / EPA

O movimento de desobediência civil em Myanmar contra a junta militar que tomou o poder prossegue em todo o país, esta terça-feira, apesar da lei marcial decretada na véspera.

Esta manhã, a polícia montou postos de controlo em várias pontes e estradas que levam ao centro de Rangum, a antiga capital e cidade mais populosa do país, palco desde sábado de grandes manifestações contra o Governo militar, lideradas pelo general Min Aung Hlaing.

Milhares de pessoas conseguiram contornar os dispositivos e estão concentradas em zonas fortemente protegidas pela polícia.

Noutras cidades do país, como Mandalay – a segunda maior cidade em termos de população –, Bago e a capital Naypyidaw, registaram-se também grandes concentrações.

As autoridades utilizaram canhões de água, balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes nas várias cidades, havendo já vários feridos.

A junta militar impôs a lei marcial em várias cidades e distritos de Rangum, esta segunda-feira, em resposta às manifestações, e proibiu ajuntamentos de mais de cinco pessoas, decretando ainda um recolher obrigatório noturno, entre outras medidas.

O anúncio veio depois de os militares, através do canal de televisão estatal MRTV, ameaçarem tomar medidas contra os manifestantes, acusando-os de prejudicarem a estabilidade, segurança e o Estado de Direito do país.

No primeiro discurso à nação, na segunda-feira, Min Aung Hlaing apelou aos birmaneses para se manterem “unidos como um país” e para olharem “para os factos e não para as emoções”, ao mesmo tempo que justificou o golpe militar com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado.

Pelo menos 170 pessoas já foram detidas, a grande maioria políticos e membros do partido governante da Liga Nacional para a Democracia (NLD), da chefe de Governo Aung San Suu Kyi, incluindo 18 que já foram libertados.

EUA tentaram falar com Suu Kyi, mas pedido foi rejeitado

“Tentámos estabelecer contacto com Aung San Suu Kyi. Fizemo-lo de forma informal e formal”, disse o porta-voz do departamento de Estado norte-americano, Ned Price, acrescentando que “estes pedidos foram negados”.

O porta-voz também referiu que Washington condena a proibição de manifestações. “Estamos ao lado do povo birmanês e apoiamos o seu direito à reunião pacífica, incluindo manifestações pacíficas de apoio ao governo democraticamente eleito.”

Na Nova Zelândia, o Governo anunciou a suspensão de todas as relações políticas e militares de alto nível com Myanmar. A primeira-ministra, Jacinda Ardern, anunciou numa conferência de imprensa as mudanças fundamentais na relação entre os dois países, o que inclui a proibição de entrada no país dos responsáveis militares birmaneses.

A medida foi avançada pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Nanaia Mahuta, que indicou que os programas de ajuda da Nova Zelândia a Myanmar não vão incluir projetos geridos pelos militares ou que os beneficiem de qualquer forma.

“Não reconhecemos a legitimidade do Governo militar. Apelamos à libertação imediata de todos os líderes políticos detidos e à restauração do Governo civil”, disse a ministra, acrescentando que “o Estado de Direito e a vontade democrática do povo devem ser respeitados”.

O Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas tem agendada para sexta-feira uma sessão especial para abordar a situação em Myanmar, a pedido do Reino Unido e da União Europeia, e com o apoio de pelo menos 47 países.

ZAP // Lusa

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