Uma norte-americana de 47 anos, de Sacramento, Califórnia, ficou gravemente ferida e incapaz de falar, tendo mesmo que ser alimentada por um tubo de alimentação, depois de usar no rosto um creme contaminado com metilmercúrio altamente tóxico.
Este caso, relatado pela primeira em setembro, foi objeto de um relatório publicado recentemente no Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade (MMWR) do Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos (EUA), noticiou a Ars Technica.
No relatório, as autoridades de saúde descrevem a progressão dos sintomas da mulher, que começou em julho a sentir fraqueza nas extremidades superiores e sensações anormais e dolorosas. Nas duas semanas seguintes, a sua fala ficou arrastada, a visão turva e começou a sentir tonturas ao caminhar. Foi então internada, tendo a sua condição piorado rapidamente, resultando num estado de delírio.
Ao realizar exames ao sangue e à urina da paciente a equipa médica detetou metilmercúrio, numa quantidade tão elevada que excedeu os níveis que o equipamento utilizado conseguia quantificar. Foi então solicitada uma análise ao Centro de Controle de Intoxicações, que recomendou um tratamento para remover metais pesados do corpo, e usado para tratar o envenenamento por metais pesados desde os anos 50.
Enquanto isso, o departamento de saúde rastreou a fonte do veneno e descobriu que a mesma tratava-se de um creme para clarear a pele, adquirido no México. A família da mulher disse à equipa que esta tinha usado o creme para o rosto duas vezes por dia, todos os dias, durante os últimos sete anos.
Testes adicionais determinaram que a mulher tinha 2.620 microgramas de mercúrio por litro de sangue. De acordo com o Departamento de Saúde do Estado de Nova Iorque, as quantidades normais de mercúrio no sangue – geralmente de fontes alimentares – são de até cinco microgramas por litro.
Produtos venenosos
Os cremes para clarear a pele adulterados são conhecidos por conter mercúrio. Mas, normalmente, contêm apenas sais inorgânicos desse metal. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os sais de mercúrio podem inibir a formação de melanina, resultando num tom de pele mais claro. O mercúrio inorgânico utilizado em cremes e sabonetes geralmente causam danos nos rins, mas também pode causar psicose e danos nos nervos.
No caso da norte-americana, as autoridades de saúde encontraram o composto orgânico metilmercúrio no seu creme para a pele, o que é mais perigoso. Embora o mercúrio inorgânico tenha sido encontrado em cremes com concentrações de até 200 mil partes por milhão, o creme para o rosto da mulher continha metilmercúrio a apenas 12 mil.
A concentração relativamente mais baixa “mostra a toxicidade muito maior dos compostos orgânicos de mercúrio”, escrevem as autoridades de saúde no relatório. “A toxicidade do sistema nervoso central, a marca registada do mercúrio orgânico, geralmente se manifesta após semanas a meses de exposição, progride rapidamente após o início, piora apesar da interrupção de mais exposições, persiste mesmo com o tratamento e deixa um profundo comprometimento residual”, acrescentaram.
De acordo com os autores do relatório, esta é a primeira vez que encontram metilmercúrio em cremes para clarear a pele. O departamento de saúde pública do estado está a testar cremes adicionais e a alertar os consumidores sobre a potencial ameaça.
Além do creme para a pele, a fonte mais comum de exposição ao metilmercúrio é a ingestão de peixe, que essencialmente o acumula a partir de alimentos poluídos. As mulheres grávidas são aconselhadas a restringir o consumo de de peixe, pois o metilmercúrio pode causar danos cerebrais no feto em desenvolvimento.