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Afinal, o “storytelling” nem sempre é a melhor forma de levar os outros a acreditar numa certa coisa

O “storytelling” é uma das ferramentas mais poderosas nos dias que correm, sendo frequentemente usada por políticos e anunciantes, isto porque as boas histórias têm o poder de influenciar, ensinar, inspirar e até persuadir.

Nos últimos tempos, tem havido algum debate sobre se as histórias ajudam a convencer as pessoas dos factos ou se têm o efeito contrário. De acordo com o Science Alert, um novo estudo mostrou que depende do tipo de factos que queremos partilhar.

Psicólogos da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, descobriram que contar histórias pode, na verdade, diluir factos fortes e mais imediatos, mas facilita a disseminação de ideias mais ilusórias e fáceis de acreditar. Porém, é importante destacar que a equipa só analisou factos que não são controversos e polarizadores na sociedade.

“Uma explicação para o porquê de as histórias reduzirem a contra-argumentação é que afastam as pessoas de gerar pensamentos negativos”, explicam Rebecca Krausse, autora do estudo que investiga Psicologia do Consumidor, e o co-autor Derek Rucker.

Mas esta não foi exatamente a razão que encontraram. No seu estudo, publicado em junho na revista Personality and Social Psychology Bulletin, foi pedido a 397 adultos nos EUA que dessem a sua opinião sobre uma marca de telefones chamada Moonstone.

Durante a investigação, metade dos participantes recebeu factos diretos sobre a Moonstone, enquanto que a outra metade recebeu uma história em que os factos estavam embutidos na narrativa.

Cada um desses factos foi considerado como “forte” ou “fraco” — por exemplo, o telefone pode resistir a uma queda de quase dez metros (“forte”), ou o telefone pode resistir a uma queda de quase um metro (“fraco”). No final, foi pedido a cada participante para dar a sua impressão da nova marca usando uma escala objetiva.

Os investigadores descobriram que os participantes foram mais persuadidos pelo formato da história quando os factos eram fracos. Mas, quando os factos eram fortes ou particularmente convincentes, acontecia o oposto: os factos sozinhos, sem qualquer narrativa, pareciam ser mais persuasivos.

Ao replicar este estudo, mas com 389 adultos diferentes, os psicólogos obtiveram resultados semelhantes. Não só houve uma diminuição nas reações negativas aos factos — como “contra-argumentação” — quando ouviram o formato de história, também se verificou uma diminuição nas reações positivas aos factos — como a aceitação.

Ou seja, os participantes não estavam a pensar de forma crítica sobre os factos da história, mas também não os estavam a aceitar. Isto implica que, quando uma história é contada, tendemos a sofrer de uma falta geral de pensamento crítico, mesmo quando os factos são sólidos.

Não satisfeitos com os resultados, a equipa conduziu uma terceira experiência. Desta vez, foi pedido a 291 novos participantes para lerem um documento sobre um medicamento fictício contra a gripe, sendo que as informações foram dadas por conta própria ou numa história sobre uma criança doente. De seguida, foi perguntado a cada voluntário se gostariam de dar o seu endereço de e-mail para receber mais informações.

Pela terceira vez, os autores notaram o mesmo padrão. Neste caso, os participantes estavam menos dispostos a partilhar o seu contacto quando factos fortes ou convincentes eram apresentados na forma de narrativa.

Em conjunto, os três experimentos sugerem que a narrativa torna os factos “mais fracos” mais fáceis de serem digeridos e os argumentos mais fortes mais difíceis de entender. Noutras palavras, a narração de histórias pode na verdade diluir factos fortes, ao mesmo tempo que reforça os fracos.

No mundo atual, onde “factos alternativos” e “fake news” se espalham a um ritmo assustador, esta é uma visão interessante de como as anedotas podem minar a realidade.

ZAP //

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