Estudo reescreve a História: os primeiros humanos chegaram a Espanha há 1,3 milhões de anos

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Lluís Gibert / Universidade De Barcelona

Imagem da recente escavação efetuada no sítio de Venta Micena 3, em Orce

Alguma vez se perguntou quando é que os primeiros humanos pisaram a Europa? Um novo estudo sugere que isso aconteceu muito antes do que os cientistas pensavam – e de uma forma surpreendente.

Imagine uma época muito anterior à invenção da roda ou da escrita. Estamos a falar de há cerca de 1,3 milhões de anos.

É nessa altura que os investigadores acreditam agora que os primeiros seres humanos chegaram à Europa, mais concretamente ao atual sul de Espanha.

Uma equipa de cientistas espanhóis, liderada por Lluís Gibert, investigador da Universidade de Barcelona, tem estado a escavar o passado num local chamado Orce, no sul de Espanha.

O que descobriram é bastante surpreendente: os restos humanos mais antigos alguma vez descobertos na Europa. Os investigadores  afirmam que as suas descobertas podem reescrever a história da migração humana.

Então, como é que os investigadores sabem a idade destes restos mortais? É aqui que entra a ciência. Os investigadores, que publicaram os resultados do seu estudo no início do mês na revista Earth-Science Reviews, utilizaram uma técnica chamada paleomagnetismo.

O paleomagnetismo é como ler o diário magnético da Terra. Os investigadores observam que os pólos magnéticos do nosso planeta se invertem de tempos a tempos. Essa inversão deixa uma marca em certos minerais, como uma espécie de tinta invisível.

Os cientistas podem ler estas marcas para descobrir quando é que as coisas aconteceram no passado.

“A singularidade destes sítios é o facto de estarem estratificados e inseridos numa sequência sedimentar muito longa, com mais de oitenta metros de comprimento”, explica Gibert, citado pelo Study Finds.

“Normalmente, os sítios arqueológicos encontram-se em grutas ou sequências estratigráficas muito curtas, que não permitem desenvolver longas sequências paleomagnéticas nas quais se podem encontrar diferentes inversões magnéticas”, nota o investigador.

Por outras palavras, Orce é como um livro de história gigante com muitas páginas, enquanto a maior parte dos outros sítios se assemelha mais a pequenas histórias. Isto dá aos cientistas uma imagem muito mais clara do que aconteceu e quando.

Então, o que descobriram exatamente os investigadores?

O estudo aponta para três sítios importantes em Orce: Venta Micena (1,32 milhões de anos), Barranco León (1,28 milhões de anos) e Fuente Nueva 3 (1,23 milhões de anos).

Estas datas fazem com que os restos mortais de Orce sejam significativamente mais antigos do que os encontrados noutros sítios europeus famosos. No entanto, não se trata apenas de saber quando é que os humanos chegaram à Europa — o estudo também lança luz sobre a forma como lá chegaram.

Durante anos, os cientistas debateram se os primeiros seres humanos entraram na Europa através do Médio Oriente ou atravessando o Estreito de Gibraltar a partir de África.

Esta nova investigação apoia a teoria da rota de Gibraltar. Porquê?

Por um lado, as ferramentas de pedra encontradas em Orce são semelhantes às utilizadas no Norte de África nessa altura. Além disso, os investigadores encontraram restos de animais africanos, como hipopótamos, no sul de Espanha, mas em mais nenhum lugar da Europa.

“Defendemos a hipótese de que os humanos chegaram à Europa pelo Estreito de Gibraltar, porque não foram encontrados vestígios mais antigos em nenhum outro local da rota alternativa”, acrescenta Gibert.

O novo estudo junta evidências que fazem pender a balança a favor da teoria da colonização da Europa através do Estreito de Gibraltar.

Atravessar o Estreito de Gibraltar não foi tarefa fácil, explica a equipa. Atualmente, tem cerca de 14 quilómetros de largura no seu ponto mais estreito. No entanto, Gibert sugere que, no passado, esta distância pode ter sido mais curta devido a alterações no nível do mar e à atividade tectónica.

Os investigadores estabelecem um paralelo intrigante com outra migração humana antiga. “A humanidade chegou à Europa quando dispunha da tecnologia necessária para atravessar barreiras marítimas, como aconteceu há um milhão de anos na ilha das Flores, na Indonésia”, diz Gibert.

Isto sugere que os nossos antigos antepassados eram marinheiros mais capazes do que se pensava.

O estudo também analisou os restos de animais encontrados em Orce. Os tipos de animais presentes podem dizer-nos muito sobre a época em que os seres humanos lá estiveram.

Por exemplo, os investigadores descobriram que certas espécies de roedores de Orce eram menos evoluídas do que as encontradas em sítios mais jovens. Verificaram também que os antepassados dos porcos, provenientes da Ásia, não existiam em Orce, mas estavam presentes em sítios posteriores.

Tudo isto dá uma imagem dos primeiros seres humanos a espalharem-se gradualmente pelo globo. Saíram de África há cerca de dois milhões de anos, chegaram à Ásia há cerca de 1,8 milhões de anos.

E, finalmente, chegaram à Europa, há cerca de 1,3 milhões de anos.

ZAP //

10 Comments

    • Caro leitor,
      Deve estar a confundir “humanos” com “homo sapiens“, espécie humana que surgiu há apenas 200 mil anos.
      A primeira espécie humana, ou seja, a primeira espécie do género Homo, foi o Homo habilis, que surgiu em África há mais de 2 milhões de anos.

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  1. Da Wikipédia:

    “Homo habilis é uma espécie de hominídeo que viveu no princípio do Pleistoceno inferior (há 2,2 milhões a 780 mil anos). Os primeiros fósseis de H. habilis foram descobertos em 1964 por Louis Leakey e seus colegas, no desfiladeiro de Olduvai, Tanzânia, que faz parte do Grande Vale do Rift, na África oriental.

    Após a descrição da espécie em 1964, H. habilis foi altamente contestado e muitos pesquisadores denominavam essa espécie como um sinônimo do Australopithecus africanus, o único outro hominínio primitivo conhecido na época. Entretanto, o H. habilis recebeu mais reconhecimento com as novas descobertas nos anos posteriores. Na década de 1980, foi proposto que H. habilis foi um ancestral humano, evoluindo diretamente para o Homo erectus, que levou diretamente aos humanos modernos. Este ponto de vista está agora em debate.”

    Um hominídeo não é um ser humano, é, quanto muito, um antepassado dos seres humanos. Portanto, tenho razão.

    • Caro leitor,
      Nem todos os hominídeos são humanos, mas todos os humanos são, obviamente, hominídeos. Os hominídeos são os membros da família Hominidae, que inclui todos os primatas, nomeadamente os humanos e seus antepassados diretos.
      Citando o seu excerto da Wikipedia:
      “após (…) muito contestado (…), recebeu mais reconhecimento com novas descobertas”
      H.Habilis foi um ancestral humano”
      Há uma diferença entre “ancestral humano” e “ancestral dos humanos”.
      O homo sapiens é a única espécie humana ainda viva, mas todas as espécies do género homo, incluindo por exemplo, os neandertais, e o homo habilis, são, por definição, espécies humanas.

  2. Na altura eramos do tipo “baratas”… espécime de irradicação bué dificil!!!
    O ser Humano da altura virou virus… hoje em dia só se nota na falta de cérebro tipo M. Motágua… ou sister… ou dada… ou gugu… ou castel blanche, or… you know!!!

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  3. Nunca se poderá dizer “Espanha” um conceito perigoso e cheio de conotações políticas, quando muito a Hispânia romana, mas lá está, uma conotação politica posterior. Será correcto num período sem nações, referir a Ibéria, esse sim, um espaço comum e geograficamente bem identificado nesta península com esse nome, pois o continente é identificado como Eupopa, a grande península euro-asiatica.

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