FC Porto – Sporting: O que as estatísticas sugerem para o desfecho do clássico

Rodrigo Antunes / Lusa

As decisões do título da Liga Bwin 2021/22 estão ao virar da esquina. O Porto pode dar um importante passo rumo à conquista do seu 30.º título, se vencer esta sexta-feira o Sporting.

O campeão nacional, Sporting, desloca-se esta sexta-feira ao estádio do Dragão para defrontar o líder do campeonato, FC Porto — que, se vencer o encontro, fica a um passo de conquistar o título.

O empate também deixa os “dragões” folgados com seis pontos de vantagem (sete, se os portistas mantiverem a vantagem no goal-average), mas caso os “leões” se lembrem de contrariar a tendência recente de duelos disputados no Dragão… a disputa do primeiro lugar poderá ser relançada.

Dragão por cima no balanço de curto prazo

A questão é: quem chega a este jogo em melhor forma? Quem apresenta um futebol com maiores probabilidades de sucesso? É isso que nos propomos fazer neste exercício simples de tentar perceber qual dos dois “grandes” apresenta melhores índices de desempenho.

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As estatísticas acumuladas de uma época são fundamentais para aquilatarmos da saúde das equipas, mas já lá vamos. Há que realizar essa avaliação também nos tempos mais recentes.

O comparativo acima revela-nos os números principais das últimas cinco jornadas do campeonato. O Porto apresenta-se claramente em melhor saúde, com pleno de vitórias, contra duas derrotas do Sporting, melhor média de remates, de enquadrados, mais cantos, mais posse de bola, mais golos (14-11), menos um sofrido (5-6), melhores indicadores de Expected Goals (xG), a favor e contra.

Tudo isto sustenta a ideia de um “dragão” que pode até ser mais favorito, mas convém não esquecer que parte destes números (mais ainda quando, a seguir, olharmos para as estatísticas da época) foram conseguidos com o melhor jogador do campeonato até à sua partida para Liverpool. Mas Luis Díaz já não conta para o clássico: terá esse facto peso no jogo?

Quem remata mais e melhor?

Vamos então para os números da totalidades da época e perceber que emblema é superior em quê em termos de desempenho. E começamos com os remates, bem como a qualidade dos mesmos, expressa nos xG (Expected Goals).

Vamos olhar para números absolutos, visto ambos terem os mesmos jogos disputados (21). O Porto está em vantagem no número de remates, com 377 realizados contra 320, uma diferença importante de 57 disparos – média de 18,0 contra 15,3 por partida.

Os “dragões” converteram 14,1% desses remates, o Sporting 12,8%, não espanta por isso a diferença de golos marcados por ambos, o Porto 55, o Sporting 41, muito em linha com os xG acumulados por ambos, 53,8 contra 43,8.

Conclusão: O Porto é uma equipa ofensivamente mais perigosa no remate, fá-lo com mais frequência, com maior qualidade e aproveitamento e marcou mais 1,2 golos do que o esperado pelos xG, enquanto o Sporting está a dever 2,8 à sua contabilidade.

Quem permite menos remates aos adversários?

O reverso da medalha, os remates permitidos aos adversários. As duas equipas são reconhecidas pela solidez defensiva, mas também aqui os “azuis-e-brancos” entram em campo em vantagem.

O Porto é a equipa da Liga que menos disparos permitiu aos seus oponentes (147), o Sporting é a segunda (164). Também na sua área quem manda é o “dragão”, com 75 permitidos contra 90 dos “leões”.

O Sporting é a melhor defesa (13) o Porto a segunda melhor (14), mas os portistas permitem menos xG aos adversários (16,0 contra 16,7). A diferença entre esperados e sofridos é, assim, favorável aos lisboetas (3,7 para 2,0).

Conclusão: Ambas as equipas são igualmente sólidas a defender, mas o Porto leva vantagem, que poderá ganhar contornos mais visíveis por jogar perante o seu público. Resta saber se estes números, em conjugação com os anteriores, terão reflexo na partida do Dragão.

Quem cria mais ocasiões flagrantes?

A criação de ocasiões flagrantes, daquelas oportunidades em que o jogador se encontra apenas com o guarda-redes entre si e a “felicidade”, tem um peso grande na qualidade dos lances e, assim sendo, nos próprios Expected Goals, em que o Porto é superior.

Só o Benfica (68) tem mais ocasiões flagrantes criadas que o Porto (67), que, por seu turno, tem mais 14 registadas que o Sporting (53). Tendo em conta que o Porto converteu 45,6% desses lances em golo e o Sporting não passou dos 29,9% (quinto pior registo da Liga), o “leão” terá de arrepiar caminho no Dragão se não quiser ter aqui um problema entre mãos.

Conclusão: Rúben Amorim terá de arranjar uma fórmula para potenciar a produção leonina destes lances (talvez pela sua direita, como veremos a seguir), ou terá uma montanha para escalar se quiser sair da Invicta com uma vitória.

Quem evita mais ocasiões flagrantes?

Depois há a competência para evitar que os adversários criem estes lances de golo feito. Quem o conseguir fazer melhor no Dragão tem meio caminho andado para um resultado positivo.

E aí os problemas leoninos agravam-se. O Porto é a equipa da Liga Bwin 2021/22 que menos flagrantes permite aos seus adversários, somente 15 no total até ao momento (curiosamente quase todas provenientes do lado esquerdo da sua defesa, lá está…), algo que poderá agravar a capacidade sportinguista, não só para as criar, como para as aproveitar.

Os campeões nacionais são a terceira formação que menos permite estes lances, apenas 20, algo que pode ajudar a travar um Porto arrasador na criação, mas que não terá Luis Díaz.

Conclusão: O Porto é a formação da Liga mais competente a evitar aqueles lances de golo quase feito. O Sporting também está no topo, mas tendo em conta os números de criação de ambas as equipas, o “dragão” tem aqui uma vantagem acumulada.

Quais as zonas de ataque privilegiadas em condução?

A forma de atacar das equipas define parte importante da sua identidade, embora a sua efectividade dependa muito da ideia defensiva do adversário. É difícil, por isso, avaliar qual dos conjuntos ganha vantagem em relação ao outro, mas dá para perceber qual a impressão digital de cada uma com base nas conduções aproximativas – que mostram redução de distância para a baliza em pelo menos 25% e pelo menos 15 metros.

À primeira vista parecem evidentes as diferenças. O Porto, com base em sistemas de 4-4-2 e 4-3-3, privilegia a exploração dos corredores laterais, enquanto o Sporting varia mais estes lances, em grande medida porque é uma equipa talhada para transições rápidas, e essas acontecem de todos os lados.

Quantificando, o Porto é a segunda equipa com mais conduções aproximativas (251), o Sporting a terceira (234), mas o “dragão” somou 29 para drible com falta cometida pelos adversários, o Sporting apenas 11.

Conclusão: Se o Sporting conseguir fechar as alas e aproveitar as transições, o Porto poderá ter um problema entre mãos, em especial porque Luis Díaz, um dos protagonistas neste tipo de lances, já não conta. Se os “leões” não o conseguirem, cuidado com os consequentes lances de bola parada a partir das alas, pois os portistas sacam muitas faltas nestas jogadas.

Quem domina os duelos aéreos?

Muito importante no futebol moderno o domínio do futebol aéreo, defensivo e ofensivo, e em zonas em que é fundamental ganhar as segundas bolas na sequência destes momentos, como no meio-campo. Qual a equipa mais forte?

O Porto disputou mais duelos aéreos ofensivos (373, 110 nas áreas contrárias) que o Sporting (243, 100 nas áreas contrárias) – algo que se nota nos dois mapas acima.

Nos duelos defensivos o cenário é idêntico, com 267 contra 236 (66-41 nas respectivas áreas). A diferença no sucesso dos ofensivos não é relevante, com 46,4% e 47,7% ganhos no global, 45,5%-47% nas áreas. Defensivamente o “leão” ganha com êxito global de 60,2% contra 56,6%, o “dragão” é mais competente na sua área (60,6%-53,7%).

Conclusão: As duas equipas apresentam boa qualidade global nos lances pelo ar, mas aparentemente será mais difícil ao Sporting ganhar bolas de cabeça na área do Porto do que o inverso.

Quem domina nas acções defensivas e recuperações?

A diferença poderá ser ligeira, mas nota-se que nas acções defensivas e recuperações de posse há uma maior apetência portista para anular o futebol adversário em zonas mais adiantadas do terreno.

O Porto somou até ao momento 1015 acções defensivas – entre desarmes, intercepções, alívios e bloqueios de passe, cruzamento e remate –, o Sporting um pouco mais (1045), nada de especialmente relevante. A diferença está nas zonas do terreno em que isso acontece.

Os “dragões” registaram até ao momento 347 no meio-campo contrário, contra 297 do “leão”, bem como 158 no último terço, bem lá na frente, em comparação com os 121 dos lisboetas. No terço intermédio quase não há diferença (358-355), mas no primeiro terço o Sporting domina, com 631 contra 560 dos portistas. Nas recuperações de posse, os “azuis-e-brancos” conseguiram 1167, contra 1114.

Conclusão: Os números não mentem. O Porto pressiona bem mais à frente que o Sporting, que, apesar de ter mudado um pouco o seu paradigma, continua a somar acções defensivas em zonas mais recuadas. “Se queremos lutar pelo título, temos de vencer”, disse Rúben Amorim à imprensa na antevisão do jogo, o que vai obrigar o Sporting a mudar o “chip”. Terá capacidade para o fazer e, ao mesmo tempo, anular as também letais transições portistas?

Quem promete maior segurança na baliza?

Esta análise termina com um olhar para os homens das balizas. É verdade que ainda há dúvidas sobre se Diogo Costa vai ou não a jogo, uma vez que lesionou-se em Arouca e tem estado em tratamento, mas há a possibilidade de ser utilizado, Já no Sporting, Adán é o dono absoluto das redes.

O jovem portista registou 1,6 defesas a cada 90 minutos, o sportinguista chegou às 2,0 e também aos 75,9% de remates enquadrados defendidos, valor superior aos 70,2% do português (70,3% contra 64,3% a remates na área, mais uma vez com vantagem para o espanhol).

Diogo ganha nas defesas para zona segura (73,7% para 61,5%), Adán apresenta-se mais seguro pelo ar (não teve qualquer saída pelo ar incompleta, enquanto o “dragão” registou 33,3% em 0,3 por 90 minutos).

Contudo há outro indicador mais relevante, as Expected Saves (xS). Com base nesta variável, Adán evitou 5,2 golos (ou 14,7%) em relação aos que eram esperados, enquanto Diogo Costa ficou-se pelos 2,1 (6,7%), ainda assim um saldo positivo.

Conclusão: A experiência de Adán poderá ser um ponto importante a favor do Sporting, mas também os números conseguidos até agora pelo espanhol, que já evitou mais golos esperados que Diogo Costa e tem sido um respaldo para a defesa leonina.

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