Gomil de porcelana chinesa e joia da rainha Maria Pia vão desembolsar 860 mil euros dos cofres do Estado português, anunciou esta quarta-feira o Ministério da Cultura. Peças farão parte do Museu de Arte Antiga e do Palácio Nacional da Ajuda, respetivamente.
O Estado português vai comprar uma porcelana chinesa e uma joia da rainha Maria Pia, num valor total de 860 mil euros, foi anunciado esta quarta-feira em comunicado do Ministério da Cultura (MC).
A pequena jarra de porcelana chinesa,um gomil que foi encomendado pelo rei Manuel I (1469-1521) ao imperador Zhengde (1506-1521), será adquirida à fundação Ricardo Espírito Santo Silva por 825 mil euros.
Já a joia da rainha Maria Pia (1847-1911) é comprada a um particular não identificado pelo MC, por 35 mil euros.
A jarra em questão remete para as primeiras relações comerciais e culturais estabelecidas entre Portugal manuelino e a China de Zhengde, que faleceu no mesmo ano que Manuel I, em 1521. Segundo o MC, restam muito poucas peças que testemunhem estas relações.
Herdada por Maria Pia de Sabóia da sua tia-avó e arquiduquesa Maria Luísa da Toscana (1798-1857), a joia consiste num conjunto formado por um colar e brincos compostos por pérolas, turquesas e camafeus, conservadas no seu estojo original, tal como descrito num manuscrito encontrado no objeto: “adorno deixado por testamento a Madame Marie de Savoie pela sua tia-avó, arquiduquesa Maria Louise de Toscane”.
“São peças que, vendidas em leilão e no mercado internacional, muito provavelmente teriam um valor muito superior àquele que é a aquisição do Estado. (…) É garantir que estas peças ficam em Portugal e ficam disponíveis para a fruição pública”, explicou o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, a jornalistas, à margem de uma visita ao Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
A peça de porcelana irá fazer parte da coleção do Museu de Arte Antiga e a joia de Maria Pia fará parte da coleção do Palácio Nacional da Ajuda.
As duas aquisições são feitas através da Comissão para Aquisição de Obras de Arte para os Museus e Palácios Nacionais, criada este ano no âmbito da revisão do Estatuto do Mecenato Cultural, com um orçamento de dois milhões de euros em 2023.
A Comissão — a funcionar no âmbito da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) — tem por missão, segundo o comunicado do MC, “propor a aquisição de bens culturais de excecional relevância patrimonial, considerados fundamentais para as coleções dos museus e palácios nacionais.”
Esta estrutura funcionará nos atuais moldes até 31 de dezembro de 2023, mas terá continuidade em 2024 com um novo enquadramento.
“A nossa ambição é fazermos mais aquisições, reforçarmos a dotação para aquisições. Foi o que já fizemos este ano. A questão do prazo da comissão é apenas porque ao fazermos a reorganização [da DGPC] isso acabará por ter impacto num conjunto de estruturas criadas nesse âmbito”, explicou o ministro.
A comissão é composta pelo diretor-geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos, e pelos diretores dos Museus Nacionais de Arte Antiga (MNAA), Joaquim Caetano, do Azulejo (MNAz), Alexandre Pais, do Soares dos Reis (MNSR), António Ponte, e do Palácio Nacional da Ajuda – Museu do Tesouro Real, José Alberto Ribeiro.
As aquisições anunciadas esta quarta-feira juntam-se a sete obras de arte já adquiridas, por proposta da mesma comissão, num investimento global de 1,4 milhões de euros.
Para o MNAA foram adquiridas três obras da coleção Alexandre de Sousa Holstein, duas das quais da autoria de Francisco Vieira ou Vieira Portuense: “Banquete do Gama na Ilha dos Amores” e “Vasco da Gama presenteando o Samorim de Calecute”; uma pintura flamenga do início do século XVI, representando três Santos; um retrato do cardeal D. Henrique, de Domenico Tintoretto; e a pintura “Mês de Abril”, de Baltasar Gomes Figueira e Josefa de Óbidos.
Para o Museu Nacional do Azulejo foi adquirido um painel disposto em três cenas – “Morte de Golias por David”, “Triunfo de David” e “David eliminando o leão e o urso” -, com “provável manufatura de Cornelis Van der Kloet, pai do autor dos azulejos da Igreja da Madre de Deus”, resultante de “uma encomenda feita para um espaço português, provavelmente religioso”.
A compra destas sete obras contou com “apoio mecenático do Imamat Ismaili, entidade liderada pelo príncipe Aga Khan, que apoiou com 250.000 euros a compra de uma salva de prata do séc. XVI para o Museu do Tesouro Real, pelo montante global de 930.000 euros”, segundo o ministério, num comunicado divulgado em dezembro.
ZAP // Lusa