O “Titanic das Montanhas”, ou aquela que é conhecida por ser a estação ferroviária mais azarenta da Europa, vai ganhar uma nova vida como hotel de cinco estrelas, cerca de 51 anos após o encerramento da ligação ferroviária internacional através dos Pirenéus.
A mais de mil metros acima do nível da água do mar, Canfranc é uma aldeia na fronteira franco-espanhola conhecida por albergar uma imponente estação ferroviária. Apesar de ter sido concebida em 1853, só ficou totalmente concluída em 1928.
O The Guardian escreve que há muitos mitos e lendas em torno da estação de comboios, tais como o facto de ter mudado o curso da II Guerra Mundial.
Não alterou, mas desempenhou um importante papel: depois de os nazis terem ocupado França, o regime espanhol de Franco utilizou Canfranc para trocar tungsténio por ouro nazi. Franco queria manter boas relações com a Grã-Bretanha e com os Estados Unidos, mas não podia recusar a oportunidade de um comércio lucrativo com a Alemanha nazi.
Como ponto de passagem internacional, a estação era das mais discretas. Há quem diga que foi utilizada por espiões de todos os cantos do mundo, além de judeus que escaparam à perseguição em Vichy France via Canfranc.
A estação ferroviária espanhola é conhecida por “Titanic das Montanhas” por, tal como o navio, poder ser encarada como uma metáfora da ambição falhada, carregando consigo a sua quota-parte de azar.
Segundo o The Guardian, a estação tinha acabado de abrir quando a crise financeira de 1929 estalou. Dois anos mais tarde, foi danificada por um incêndio. Em 1936, começou a guerra civil espanhola e, no momento em que esta terminou, rebentou a II Guerra Mundial.
Desengane-se se pensa que o azar ficou por aqui: quando as hostilidades terminaram, a ditadura franquista estava isolada e o tráfego ferroviário internacional só recomeçou na década de 1950.
Em 1970, um descarrilamento danificou uma ponte e foi a desculpa perfeita para deixar a estação ao abandono, tornando-se num “mausoléu ferroviário involuntário de enorme valor sentimental e patrimonial”.
Atualmente, a estação opera apenas um modesto serviço doméstico espanhol, mas vai transformar-se num luxuoso hotel de cinco estrelas.
Com 104 quartos e um custo orçamentado em 27 milhões de euros, o hotel está a ser projetado pelos arquitetos Joaquín Magrazó e Fernando Usado em conjunto com o governo regional de Aragão e a cadeia de hotéis Barceló.
O diário britânico adianta que a fachada será preservada, mas, por trás da estação, está a ser construída uma nova. O complexo incluirá ainda um centro de conferências com 200 lugares, um museu ferroviário, lojas, e um refúgio de peregrinos, uma vez que Canfranc se encontra numa das rotas para Santiago de Compostela.
Prevê-se que as obras estejam concluídas no final do próximo ano e que, nessa altura, a aldeia ganhe um novo fôlego.