Está a chegar o perfume com odor a ente querido falecido

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Kalain / Facebook

Katia Apalategui e o filho, Florian Rabeau

Katia Apalategui e o filho, Florian Rabeau

Uma empresa francesa vai fabricar perfumes que recriam o odor de uma pessoa falecida a partir das roupas que usava.

A ideia surgiu há sete anos, quando faleceu, por motivos de saúde, o pai de Katia Apalategui, fundadora de uma pequena empresa, a Kalain, numa alusão à palavra calin, “carinho” em francês.

“Algumas pessoas mantém laços com quem faleceu através de fotos ou vídeos. Eu precisava de sentir de novo o cheiro do meu pai”, conta Katia à BBC.

“Um dia disse isso à minha mãe e ela confessou que sentia a mesma necessidade e que por isso nunca havia lavado a fronha do travesseiro dele”, diz Katia.

“Então ocorreu-me que, se há duas loucas que pensam desta forma, talvez outras pessoas também sintam a mesma necessidade”, conta.

Desde então, Katia Apalagueti percorreu um longo caminho até tornar o seu perfume realidade.

Katia, que trabalha como corretora de seguros, bateu a inúmeras portas e passou dois anos à procura de um laboratório capaz de desenvolver a fragrância.

Encontrou finalmente a Unidade de Química Orgânica e Macromolecular da Universidade do Havre, na Normandia, especializada em moléculas aromáticas.

O laboratório universitário desenvolveu uma técnica que permite reproduzir o odor humano a partir de um tecido usado por uma pessoa.

“Pegamos na roupa da pessoa e extraímos o seu cheiro – algo que representa mais de 50 moléculas – e em quatro dias conseguimos reconstitui-lo sob a forma de um perfume, em álcool”, explica Géraldine Savary, da Urcom.

“O cheiro de cada pessoa varia em função da sua alimentação, dos cremes e perfumes que usa, de possíveis doenças. Tudo isso misturado representa uma espécie de assinatura olfativa de cada pessoa”, explica Katia.

Katia obteve então o apoio de uma entidade pública, a Agência Regional de Inovação da Alta Normandia, que a ajudou a angariar recursos para viabilizar a iniciativa.

Esses recursos permitiram que o laboratório, por exemplo, contratasse um químico formado pela universidade para ajudar a desenvolver o projecto.

Reconforto olfactivo

A Kalain, que será gerida pelo filho de Katia, Florian Rabeau, vai iniciar a sua atividade entre setembro e outubro deste ano.

O perfume que reproduz o odor natural de uma pessoa deve custar cerca de 560 euros, estima Katia, que descreve o produto como um “reconforto olfativo”.

Katia diz já ter sido contactada por inúmeras pessoas interessadas e por empresas distribuidores de países na Europa, Ásia e Estados Unidos.

Uma das pessoas que a contactou, conta Katia, quer reproduzir o cheiro do seu cão, recentemente falecido.

A Kalain vai trabalhar principalmente com agências funerárias, que irão oferecer o perfume aos familiares de pessoas falecidas.

Mas Katia quer também comercializar o cheiro de pessoas vivas.

A empreendedora vê como possíveis clientes os casais de namorados, ou casais que por alguma razão, uma viagem por exemplo, tenham que estar separadas por algum tempo.

Apesar do preço, o perfume não pode ser refeito a partir da fragrância original.

“Ainda não temos essa possibilidade técnnica. Se a pessoa quiser um novo frasco, tem que nos fornecer outra peça de roupa”, diz Katia.

Para Kátia, o projecto e a criação da empresa permitiram-lhe encerrar finalmente o seu luto “de forma positiva”.

E também rechear merecidamente a sua conta bancária num futuro não muito distante.

ZAP / BBC

5 Comments

  1. Nunca me vou esquecer de uma amiga quando recebeu as roupas do marido morto em guerra. A primeira coisa que fez foi pegar na farda e cheirá-la na esperança de sentir o cheiro do marido e apagar um pouco a saudade. Mas as roupas tinham sido lavadas e o desanimo ficou-lhe estampado no rosto.

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