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Só será possível aliviar medidas com 2.000 casos diários. Portugal pode ser dos “melhores” a controlar 3.ª vaga

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Nuno André Ferreira / Lusa

Apesar de a situação epidemiológica estar a melhorar, os especialistas revelam que só no final de março os hospitais não estarão sob tanta pressão e que será necessário recuar até aos 2.000 casos diários para aliviar medidas.

De acordo com o jornal Público, uma equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que trabalha num modelo de análise de risco para se perceber até onde é preciso descer em termos de incidência de novos contágios, risco de transmissão (Rt) e taxa de positividade no total de testes à covid-19 para que se possa pensar em desconfinamento e quais os limites que não devem ser ultrapassados, revelou que ainda não é tempo de respirar de alívio.

“Só podemos desconfinar quando tivermos a um valor extremamente baixo do ponto de vista epidemiológico. Mas sabemos que mesmo isso não é suficiente por causa dos internamentos, uma vez que o período de ocupação [de camas hospitalares] é longo para este tipo de patologia”, disse o investigador Carlos Antunes ao Público.

Questionado pelo matutino sobre a que valores será necessário descer, Carlos Antunes respondeu: “Níveis de incidência abaixo dos 2.000 casos diários médios, o Rt abaixo de 0,9 e uma positividade abaixo de 5%”.

“Só quando chegarmos a esse nível é que a nossa análise de risco diz que estamos num nível seguro. Mas sabemos que, mesmo nessas circunstâncias, os hospitais ainda vão estar preenchidos. O ideal seria chegarmos abaixo dos 3.000 internados e abaixo das 300 camas de cuidados intensivos ocupadas. O modelo só me dá esses valores para o final de março, por causa deste arrastamento da duração do internamento”, disse.

Apesar de os números estarem a descer, os investigadores notam que “só o Rt está favorável”. Segundo a última divulgação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), o valor médio entre 27 e 31 de janeiro foi de 0,92. Já os outros indicadores “ainda estão em níveis muito elevados: a positividade, embora a baixar, ainda está na zona dos 15% e a incidência em termos médios está nos 6.000 casos de contágio”.

Para Carlos Antunes, só se deveria começar a pensar em desconfinar em março, o que poderá começar pelas escolas e entre os alunos até aos 12 anos.

“Temos dois indicadores que nos comprovam que, ao fim de oito dias de as escolas terem fechado, a aceleração da variação de número de casos baixou drasticamente”, disse. “O ideal é corremos um pouco mais do que o vírus para que mal as pessoas sejam infetadas sejam isoladas automaticamente. Dessa forma a pandemia fica controlada. É isso que estamos a tentar transmitir, que para controlar a pandemia temos de ter limiares e não os podemos ultrapassar”.

A próxima reunião no Infarmed deverá acontecer esta terça-feira, antecedendo a renovação do estado de emergência e o Conselho de Ministros que irá definir as medidas a aplicar.

Portugal pode ser dos melhores a controlar a 3.ª vaga

O virologista Pedro Simas disse este domingo que Portugal está a ter uma redução abrupta no número de novos contágios, resultante do confinamento, que poderá colocar o país entre um dos melhores do mundo a controlar a terceira vaga da pandemia.

“Fomos dos melhores do mundo no primeiro confinamento, os piores na origem da terceira vaga e vamos ser um dos países do mundo que mais depressa conseguiu controlar a terceira vaga porque de facto houve uma adesão fantástica ao confinamento e o resultado está à vista”, disse o virologista do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, em declarações à agência Lusa.

Os vírus, adiantou, transmitem-se por gotículas e se forem inibidos os movimentos com confinamentos, uso de máscaras e distanciamento social, as cadeias de transmissão são interrompidas abruptamente.

“Isto era perfeitamente previsível e dependia do bom comportamento e adesão ao confinamento total e o que eu vejo é que houve uma adesão fantástica e o resultado está a vista porque a biologia é factual. Se não houver contactos e as pessoas aderirem às regras os vírus não se conseguem transmitir. Está nas nossas mãos. É por isso que a curva de decréscimo é tão abrupta”, frisou

Pedro Simas referiu que de 28 de janeiro a 6 de fevereiro Portugal passou de uma média de 12.890 casos para 7.270 casos.

O encerramento das escolas foi, para Pedro Simas, determinante para esta inflexão da curva de crescimento. “O encerramento das escolas foi determinante porque é uma mensagem clara para a sociedade portuguesa. Quando se fecha as escolas é porque o assunto é sério“, disse, adiantando que ter as escolas abertas implicava muito movimento dos adultos.

O virologista alerta que é agora muito importante aprender com o passado e perceber que é preciso desconfinar com regras para que Portugal não corra maior risco de ressurgimento de uma quarta vaga, lembrando que foi o relaxamento das medidas antes, durante e após o Natal que levou à terceira vaga do vírus.

Pedro Simas reforça a necessidade de haver cautela no desconfinamento, defendendo que só deveria ser pensado quando o país atingir entre os 700 e os 1.400 novos casos por dia.

Maria Campos, ZAP // Lusa

 

10 Comments

  1. Segundo Carlos Antunes:
    “Temos dois indicadores que nos comprovam que, ao fim de oito dias de as escolas terem fechado, a aceleração da variação de número de casos baixou drasticamente”
    Bem, os governantes e comentadores bem nos queriam impingir que as escolas eram seguras!!! A meu ver, as escolas estarem abertas foram um dos principais factores para que os números disparassem como dispararam, e pelos vistos tinha razão…

  2. Nem confinamento nem encerrento de escolas, deiam graças é a esta chuva q tem caído pois ela é a principal causa de tudo ter baixado.

    Menos cruzamentos na rua e etc, menos pessoas a sair à rua…isso é mais q óbvio, nada w ver com as medidas tomadas.

    Não deixam crédito aos malditos políticos da treta, isto nada mais foi q coicidencia e sorte.

    • Demonstrado está que este vírus prospera em clima frio e seco. E que, inversamente, definha em clima moderado a quente e húmido. Logo, minha gente, está visto que neste desgraçado país só o clima é que acaba por nos salvar, como está a ser. Porque, da incompetência dos decisores políticos e da irresponsabilidade generalizada duma franja significativa da população, mais vale nem falarmos. Pois são mesmo nódoas no pano.

  3. Bem…isso por aí vai muito mal. E que tal aproveitar o ensino à distância para se instruir e melhorar a língua de Camões?! “Deiam”, “deixam crédito”, “coicidencia”… Isso está mesmo a precisar de uma aulas valentes.
    Relativamente à ideia, concordo totalmente. Uma vez mais, se não era o povo a barricar-se em casa e a exigir o encerramento das escolas, tinha sido uma desgraça total.

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