Espanha inaugura o polémico “comboio rápido” na Estremadura

A iniciativa falhou, novamente, por não ser feita por um comboio de alta velocidade e até Madrid, como prometido há 20 anos.

Espanha inaugurou esta segunda-feira um troço da ligação ferroviária entre Cáceres e a fronteira com Portugal, em Badajoz, enquanto as vozes críticas apontam que a ligação não reúne características para ser designada de alta velocidade.

A viagem inaugural contou com a presença do Rei de Espanha, Felipe VI, do Presidente do Governo, Pedro Sánchez, e do líder da Junta Regional da Estremadura espanhola, Guillermo Fernández Vara, que farão a viagem de Cáceres a Badajoz, onde terá lugar o ato institucional.

Este troço faz parte da futura ligação Madrid-Lisboa, sendo que apenas estará em funcionamento a parte entre Plasencia e Badajoz, na Estremadura.

A ligação ferroviária entre Plasencia e Madrid vai continuar a ser feita numa linha convencional, não eletrificada e com apenas uma via — não permite o cruzamento de comboios fora de uma estação, em que um deles tem de estar parado.

Ainda assim, a viagem de comboio entre a fronteira com Portugal, em Badajoz, e a capital espanhola, Madrid, passará a ter menos 51 minutos.

Segundo a viagem de teste do novo troço entre Plasencia e Badajoz, o comboio vai demorar duas horas e 15 minutos, com duas paragens (Mérida e Cáceres), a que haverá que juntar mais quase três horas para quem quiser seguir até Madrid.

A viagem de teste contou com a ministra dos Transportes espanhola, Raquel Sánchez, e com um protesto da população à saída de Plasencia.

O “comboio rápido” que passa a circular não é um comboio de alta velocidade nem é até Madrid, como foi prometido há mais de 20 anos pelas autoridades espanholas.

A promessa foi sendo repetida pelos diversos governos, mas sem nunca se concretizar, até, em 2012, ser substituída pela promessa de um “comboio rápido”, que só este ano se vai materializar e apenas num troço.

O comboio de alta velocidade chegou a estar negociado com Portugal, com os dois países a anunciarem a ligação entre Madrid e Lisboa, por Badajoz, numa cimeira em 2002 entre os dois governos, então liderados por Durão Barroso e José Maria Aznar.

Para quem se manifestou na viagem teste em Plasencia, a ligação é “apenas fumo e não o comboio digno de que precisa a Estremadura“, a região autónoma espanhola que faz fronteira com o Alentejo.

Entre as palavras de protesto, citadas pela agência EFE, proferiram-se expressões como “gato por lebre”.

Em declarações em Badajoz, Raquel Sánchez reconheceu que a situação dos comboios na Estremadura, com mais de um milhão de habitantes, é “uma injustiça“, com troços em que a velocidade máxima possível são 50 quilómetros por hora e vários incidentes diariamente.

“É preciso pedir desculpa”, afirmou, dizendo que todos os governos têm sido responsáveis por a Estremadura ter das piores comunicações ferroviárias do país.

As más ligações ferroviárias fizeram com que 40 mil pessoas fossem da Estremadura até Madrid, em novembro de 2017, para se manifestarem no centro da capital, reivindicando “comboios dignos“.

Um dos comboios suprimidos nesta região foi o Lusitânia, em 2011, entre Lisboa e Madrid, que atravessava a fronteira portuguesa do Caia e entrava em Espanha por Badajoz.

O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos já desafiou o Governo espanhol a “dar corda aos sapatos” para que a ligação ferroviária em alta velocidade chegue à fronteira entre os dois países “mais ou menos ao mesmo tempo”.

O “desafio” que lançou, sublinhou o governante na altura, “é para que Espanha dê corda aos sapatos para não haver o risco de chegarmos com uma linha à fronteira e não termos nada do outro lado”.

ZAP // Lusa

 

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