Historiadores acreditam que um escravo que ensinou taxidermia a Charles Darwin pode ter reacendido a sua paixão por história natural.
Em “A Origem do Homem” (1871), o segundo livro sobre a teoria da evolução de Charles Darwin, que é um dos textos mais estudados da História, cada detalhe foi examinado. E há um que, apesar de não ser relevante para a compreensão da sua teoria revolucionária, intrigou os historiadores.
Após afirmar que, embora as raças humanas difiram em alguns aspetos, como um todo “elas assemelham-se em alto grau” fisicamente e “de maneira igual e ainda mais marcada” mentalmente, Darwin observa:
“[…] Durante minha estadia entre os nativos da Terra do Fogo, a bordo do Beagle, fiquei profundamente impressionado com a observação de um grande número de traços característicos que evidenciavam como a sua inteligência era semelhante à nossa; o mesmo aconteceu com um negro de sangue puro de quem eu já fui próximo”.
Quem era aquele homem não identificado?
Uma pista estava nas notas autobiográficas do fim da vida de Darwin, na secção que descreve os seus dias de estudante em Edimburgo (outubro de 1825 a abril de 1827), onde escreveu:
“Aliás, morava em Edimburgo um negro que tinha viajado com Waterton e ganhava a vida a dissecar pássaros, o que fazia com excelência: ele dava-me aulas em troca de um pagamento, e eu costumava sentar-me com ele muitas vezes, porque era um homem muito porreiro e inteligente”.
Era alguém que Darwin não tinha esquecido apesar da sua idade avançada, embora novamente não tenha citado o seu nome… mas citou outro, Waterton, e esse era conhecido.
O excêntrico naturalista, conservacionista e explorador Charles Waterton ficou famoso pelas suas expedições ao continente americano, de onde levou para a Europa o curare, o extrato vegetal paralisante que mais tarde foi usado como anestésico em operações cirúrgicas. Waterton registou as suas experiências num livro publicado em 1825.
A obra apresentou muitos britânicos, incluindo o próprio Darwin e o seu colega pioneiro da teoria da evolução Alfred Russel Wallace, às maravilhas naturais dos trópicos.
E foi numa dessas viagens, durante uma visita à plantação do seu amigo e mais tarde sogro Charles Edmonstone por volta de 1812, que Waterton começou a estudar e recolher espécimes da selva circundante.
Mas havia tantos exemplos de pássaros exóticos que ele queria preservar que não deu conta. Assim, como conta no seu terceiro diário, iniciado em 1820, procurou ajuda.
“Foi nesta colina, dias antes, que tentei ensinar John, o negro escravizado do meu amigo Sr. Edmonstone, a maneira correta de fazer pássaros.”
“Mas John tinha poucas habilidades, e levou muito tempo e paciência para incutir algo nele.”
“Alguns anos depois, o seu senhor levou-o para a Escócia, onde, sendo libertado, John deixou-o e conseguiu um emprego no museu de Glasgow e depois no de Edimburgo.”
Seria ele aquele homem não identificado? Numerosos historiadores concluíram que sim.
O nome do homem
Dos primeiros e últimos anos de sua vida, pouco se sabe. Tinha nascido escravizado na plantação de madeira do escocês Edmonstone na região de Demerara, no território que era então conhecido como Guiana Britânica, no norte da América do Sul.
Como era comum, John recebeu o sobrenome do seu proprietário e, em 1817, viajou para a Escócia com ele, onde, por lei, foi emancipado.
Embora Waterton observe que Edmonstone trabalhou em museus em Glasgow e Edimburgo, investigadores dos Registos Nacionais da Escócia, consultando arquivos de correios, encontraram um John Edmonstone, “empalhador de pássaros”, que em 1823 abriu uma loja no número 37 da Lothian Street, perto da Universidade de Edimburgo.
De qualquer forma, tudo indica que vivia da arte da taxidermia que Waterton lhe tinha ensinado — uma habilidade requisitada na época, não só para fins científicos, mas também para decoração.
E era essa arte que o jovem Darwin queria aprender — aos 16 anos, chegou até Edmonstone e solicitou os seus conhecimentos em troca de “um guinéu (moeda de ouro) por uma hora todos os dias durante dois meses”, como contou numa carta à irmã Susan.
Pássaros empalhados
Para Adrian Desmond e James Moore, especialistas na obra de Darwin e autores de “A Causa Sagrada de Darwin”, Edmonstone deu mais do que palestras técnicas sobre como um caçador refinado como ele poderia conservar os seus pássaros como troféus.
Nas suas conversas, provavelmente contou-lhe sobre as emocionantes aventuras de Waterton, sobre interessantes buscas por espécimes raros e sobre aquele mundo exótico que só descobriria se atravessasse o Atlântico.
Falou também sobre a terrível cultura esclavagista de Demarara, tema de particular interesse para alguém que, como Darwin, vinha de uma família abolicionista, acreditava que todas as raças pertenciam à mesma família humana e condenava a escravidão como pecado.
Na época, Darwin estava a ficar desiludido com os seus estudos de medicina, enquanto a sua paixão pela história natural crescia.
E acredita-se que os relatos de Edmonstone sobre a vida nas florestas tropicais da América do Sul ajudaram a consolidar o seu interesse pelo naturalismo. Isso é provável, embora impossível de comprovar.
O facto é que o que ele aprendeu sobre taxidermia foi essencial para preservar os espécimes que Darwin recolheu na sua viagem de cinco anos a bordo do Beagle.
E esses espécimes perfeitamente preservados foram fundamentais para formular a teoria que mudou a nossa visão do mundo e o nosso lugar nele como nenhuma outra.
Sobre Edmonstone, depois de 1843 não há vestígios. Mas, embora não possamos contar a história completa da sua vida, os vislumbres recuperados pelos historiadores pelo menos resgataram-no do esquecimento.
ZAP // BBC
Os humanos são marionetes de um jogo superior, que manipula a vida destes. Teoria da evolução? Seremos mesmo um produto da evolução dos símios? Se assim, fosse não haveria macacos atualmente, ou será que alguns evoluiram para humanos e outros não? Que discriminação 🙂
Uma pessoa que assina Dr. estará algures pelo meio…
Muito interessante. Graças aos estudos pioneiros de Darwin, a Ciência, a biologia e genética confirmaram que Darwin tinha razão. Custa a acreditar que haja pessoas que ainda negam a origem da raça humana. São os mesmos que defendem que a terra é plana.