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Erros de tradução nos interrogatórios policiais levam à prisão de inocentes

A falta de palavras correspondentes em algumas línguas, assim como a tendência de se usar pessoas que não são tradutores profissionais nos interrogatórios, podem gerar erros graves.

Usar um intermediário na tradução, especialmente se não for um tradutor profissional, pode prejudicar as pessoas que são detidas pela polícia e, no pior dos casos, até levar a que um inocente seja preso.

Esta é a conclusão do trabalho de diversos investigadores — entre os quais Luna Filipović, uma professora de línguas e cognição e uma das maiores especialistas na área, que estuda os efeitos dos inquéritos policiais multilingues há mais de uma década.

A perita lembra que ter alguém que faça a tradução não chega e que podem haver muitos erros que passam despercebidos caso o intérprete não domine ambas as línguas da mesma forma, especialmente num cenário onde os detidos já costumam estar stressados.

Também há palavras que não têm equivalentes diretos ou o seu significado pode variar dependendo do contexto — e estas nuances podem escapar a tradutores menos experientes. A tradução sem emoção também pode influenciar a forma como os agentes interpretam as respostas dos detidos, relata o Science Focus.

Num estudo de 2007, Filipović relata um exemplo que envolve palavra espanhola “amigo”, que um tradutor interpretou no sentido de um amigo próximo, em vez de um termo usado para se chamar um desconhecido de quem não se saiba o nome.

O polícia perguntou depois ao suspeito quem era o seu amigo, o que gerou confusão e  suspeitas.

Há também o problema das “confissões inadvertidas“, que acontecem quando a barreira linguística faz com que o tradutor entenda que o suspeito está a confessar um crime quando esse não é o caso. A especialista debruçou-se sobre este problema num estudo publicado em 2021.

Filipović concluiu que quem não fala inglês tem um maior risco de se incriminar sem saber quando é detido nos Estados Unidos ou no Reino Unido. Para se evitar este problema, a perita recomenda que se tente arranjar um tradutor profissional e que se peça uma transcrição do interrogatório, para se certificar se houve algum erro na tradução.

ZAP //

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