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Entrega do Nobel marcada por relato comovente de sobrevivente de Hiroshima

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Berit Roald / EPA

A prémio Nobel da Paz, Setsuko Thurlow (ao centro) com a diretora da ICAN, Beatrice Fihn

A cerimónia de entrega do Nobel da Paz, em Oslo, teve este ano o relato de Setsuko Thurlow, que sobreviveu à bomba nuclear lançada contra Hiroshima, e que define armas nucleares como “mal extremo”.

A ICAN, Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares, recebeu este domingo  o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, e apelou às potências nucleares que se juntem ao tratado de proibição destas armas – para acabar com essa “ameaça” para a humanidade.

Representamos a única escolha racional, representamos os que se recusam aceitar as armas nucleares como um elemento do mundo. A nossa é a única realidade possível, a alternativa é impensável”, disse a directora-executiva da ICAN, Beatrice Fihn.

Fihn alertou que o risco de que estas armas sejam usadas é maior agora do que era no fim da Guerra Fria, devido à existência de mais países com arsenais nucleares, mais terroristas e de uma guerra cibernética latente.

Diante da “aceitação cega” e da negação do perigo dessas armas, Fihn pediu que se reivindique “a liberdade de não viver nossas vidas como reféns de uma aniquilação iminente” e sustentou que a ICAN é “a voz da humanidade” que pede o seu desaparecimento.

Fihn recebeu o Nobel numa cerimónia emotiva, ao lado de Setsuko Thurlow, de 85 anos, sobrevivente da bomba atómica lançada em 1945 pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, no Japão. Thurlow definiu as armas nucleares como “o mal extremo” e usou a sua experiência para pedir o fim de uma “loucura” intolerável.

Thurlow emocionou o auditório, no qual havia mais sobreviventes de testes e ataques nucleares, relembrando a procissão de figuras fantasmagóricas, pessoas com a carne e os intestinos pendurados, com as órbitas dos olhos nas suas mãos e o cheiro de carne queimada.

A sobrevivente japonesa relatou a “lembrança viva” do bombardeamento, a sensação de “flutuar no ar”, o colapso da sua escola, os gritos dos seus companheiros e do seu sobrinho Eiji, de quatro anos, convertido num “pedaço fundido de carne” que continuou a pedir água até morrer.

“Enquanto saía, arrastando-me, as ruínas ardiam. A maioria dos meus colegas de turma morreram, foram queimados vivos. Vi à minha volta uma devastação total, inimaginável”, relatou Thurlow.

A sua cidade natal – e com ela familiares e 351 colegas de escola – foi apagada, e nos anos seguintes milhares de pessoas morreram devido às consequências da radiação, “que ainda hoje continua a matar”.

Thurlow criticou o “mito” de que as de Hiroshima e Nagasaki foram “bombas boas” que acabaram com uma “guerra justa” e culpa-as pela “desastrosa corrida armamentista”.

Berit Roald / EPA

A prémio Nobel da Paz, Setsuko Thurlow, com a diretora da ICAN, Beatrice Fihn

O prémio Nobel é distribuído em seis categorias. Na tarde deste domingo, o rei Carlos Gustavo, da Suécia, entregou em Estocolmo os prémios aos laureados nos campos da Medicina, Física, Química, Economia e Literatura. Cada prémio é dotado com 945 mil euros.

ZAP // Deutsche Welle / EFE

1 Comment

  1. E não disse nada sobre o “mal extremo” que os japoneses espalharam pela região, tendo inclusivamente invadido Timor a 2 de Fevereiro de 1942?!!
    Claro que foi uma guerra “justa” e, se tivessem limpado o Japão do mapa, teriam toda a razão para isso, pois o que o Japão fez aos países vizinhos (sem qualquer razão!!) foi do pior que está documentado até aos dias de hoje!…

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