Uma descoberta em Pompeia revelou um tipo de mulher a libertar-se “da ordem masculina”, para dançar livremente, caçar e comer carne crua nas montanhas. É um caso surpreendente de feminismo na Antiguidade Clássica.
Um estudo publicado esta quarta-feira pelo Parco archeologico di Pompei revelou um curioso caso de feminismo na Idade Antiga.
Os arqueólogos de Pompeia descobriram uma enorme pintura que retrata um antigo culto de mistério, no centro do qual está descrita a irreverência de um mulher.
Como descreve a Live Science, a pintura mural, na recém-escavada Casa de Tiaso, percorre três paredes ao longo de um grande salão de banquetes, enquanto a quarta parede dá para um jardim.
Sobre um fundo vermelho vivo, há numerosas figuras de maenads – mulheres seguidoras de Dionísio, o deus do vinho – que são representadas como caçadoras, com espadas nas mãos e cabras abatidas aos ombros.
No centro da pintura está um velho sátiro com uma jovem mulher que está prestes a ser iniciada no culto de mistério dionisíaco.
Apologia ‘Clássica’ do feminismo
A mulher retratada pode ser uma das primeiras provas de feminismo na Antiguidade Clássica.
Como referiu Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, citado pela Live Science, este é um exemplo de uma pintura com o tema de Dionísio que revela o “lado selvagem e indomável das mulheres”.
Este é o tipo de mulher que “se liberta das ordens masculinas para dançar livremente, caçar e comer carne crua nas montanhas e nos bosques”, sublinhou.
“A descoberta que estamos a mostrar é histórica”, afirmou o Ministro da Cultura italiano, Alessandro Giuli. “Pompeia dá-nos um testemunho extraordinário de um aspeto da vida clássica mediterrânica que é largamente desconhecido“, acrescentou.
A recém-descoberta Casa de Tiaso data de meados do século I a.C., o que significa que já tinham mais de um século quando o Monte Vesúvio entrou em erupção no ano 79 d.C..
Este tipo de pinturas revelou também uma crise religiosa crescente, disse Gabriel Zuchtriegel, uma vez que os festivais que celebravam Dionísio foram ostensivamente proibidos como parte de uma repressão aos rituais secretos em Itália em 186 a.C..
Os dois murais sugerem que a proibição foi amplamente ignorada – pelo menos naquela região.
Embora muitos aspetos dos mistérios dionisíacos se tenham perdido no tempo devido ao secretismo, os relatos históricos sugerem que envolviam o uso intensivo de vinho e outras substâncias intoxicantes, como o ópio, para induzir estados de transe nos seguidores.