Em esculturas clássicas, o povo romano do século XVI começou a afixar os pasquinatos: poemas satíricos em forma de desabafo político e social.
Ninguém sabe porque começou a chamar-se Pasquino, e existem muitas teorias a respeito da estátua romana do período clássico.
Estas vão desde semelhança com um professor que trabalhava na praça onde se esta encontra (e cujos alunos começaram a deixar versos na estátua), até ao mito de que o seu nome foi dado em homenagem a um barbeiro muito coscuvilheiro.
Os especialistas acreditam que a figura representada é da Grécia Antiga, nomeadamente da Ilíada, epopeia da época clássica.
Pasquino chegou mesmo a ser considerada por Bernini como a estátua mais bela de Roma, e por Miguel Ângelo como digna de estar no Vaticano. Ainda assim, a estátua, que foi descoberta durante as escavações da fundação da Piazza Navona no século XVI, estava muito deteriorada, tendo sido negligenciada numa praceta que tem hoje o nome de Piazza Pasquino.
Foi só depois do famoso Saque de Roma, em 1527, Pasquino começou a ser utilizado como um “quadro de aviso”, conta o La Brujula Verde (LBV). O povo começou a afixar na estátua poemas satíricos que criticavam a vida na época, desde os dirigentes políticos à própria Igreja católica.
O Pasquino “falava”, porque transmitia a voz do povo. A estátua tornou-se, assim, numa espécie de Twitter do século XVI, onde eram afixados os desabafos dos habitantes da cidade.
Segundo a lenda, o primeiro desses cartazes foi uma invetiva contra Urbano VIII por este ter mandado fundir várias estátuas de bronze para fazer canhões para os exércitos papais.
Consta-se, também, que, quando Adriano VI quis atirar a escultura ao rio Tibre, foi persuadido a não o fazer, porque isso aumentaria os rumores contra si. Há também quem conte que os habitantes apanhados em flagrante a afixar os protestos acabavam com as suas mãos cortadas.
De acordo com a LBV, é provável que o Pasquino tenha sido “censurado”, e que tenham existido guardas a monitorar a estátua, proibindo os cidadãos de afixar cartazes: o que não os impediu de o fazer.
O resultado? Os romanos começaram a utilizar outras estátuas da cidade para protestar. Atualmente, conhecem-se outras cinco.
Uma delas foi mesmo mandada colocar pelo papa Inocêncio X num dos Museus Capitolinos da Piazza del Campidoglio. Trata-se Marforio, estátua romana de mármore do século I D.C., que recebeu esse nome por ter sido desenterrada do Fórum de Marte.
Outro exemplo encontra-se na Piazza Vidoni, depois de muitas mudanças de lugar ao longo dos séculos. É a Abate Luigi, estátua do período romano tardio, onde mais tarde foram gravados os seguintes versos:
“Fui um cidadão da Roma antiga. / Agora chamam-me Abate Luigi. / Ganhei fama eterna na sátira urbana / Juntamente com Marforio e Pasquino. / Sofri insultos, desgraças e enterro / Mas aqui encontro nova vida e, finalmente, segurança”.
Mas não eram só estátuas clássicas as utilizadas pelo povo romano para expressar as suas ideias. Havia também obras renascentistas, como Il Fascino, a receber cartazes.
E a moda parece ter passado também para Milão, onde, no Corso Vittorio Emanuele, existe ainda hoje um baixo-relevo utilizado séculos mais tarde, durante a ocupação austríaca de Itália, para afixar pasquinatos semelhantes.
Hoje, Roma ainda conserva as suas históricas seis estátuas, acompanhadas por pasquinatos, uns antigos, outros modernos, mas todos com o mesmo objetivo: expressar uma sátira social.